Pandemia reduz busca por exames pelas mulheres e planejamento de mutirão é debatido na Câmara
Com a pandemia de Covid-19, médicos ginecologistas e obstetras observaram redução no número de mulheres que estão fazendo exames preventivos, além de notarem menor procura pelas consultas e exames no pré-natal das gestantes. Durante live promovida pela Câmara Municipal de Campo Grande nesta quarta-feira (19), vereadores e especialistas debateram a importância de que sejam mantidos estes cuidados pelas mulheres, e também discutiram estratégias para resgatar essa demanda, por meio de mutirões no pós-pandemia, que também contemplariam cirurgias, concurso para contratar mais obstetras e ampliação das medidas para planejamento familiar.
A live foi conduzida pelo vereador Dr. Victor Rocha, vice-presidente da Comissão de Saúde da Câmara e médico mastologista, ao lado do vereador Dr. Loester, ginecologista e obstetra, também integrante da Comissão. Participam do debate o ginecologista e obstetra Ricardo Gomes, chefe do setor Materno-Infantil e Saúde da Mulher do HU (Hospital Universitário), o ginecologista e obstetra Daniel Miranda, diretor-presidente da AAMI (Associação de Amparo à Maternidade e a Infância) Maternidade Cândido Mariano.
Os profissionais notaram nos atendimentos a redução dessa busca por atendimentos, muitas vezes pelo medo das mulheres em razão da pandemia. Os médicos esclareceram que não houve redução na oferta de consultas e nem acesso ao pré-natal, mas algumas gestantes chegavam no dia do parto com apenas uma ou duas consultas feitas durante a gestação. O mesmo ocorreu em relação aos exames preventivos de câncer de colo de útero e de mama. “Agora estamos conseguindo retomar essa rotina e também algumas cirurgias ginecológicas”, disse o médico Ricardo Gomes.
O médico Daniel Miranda ressaltou que será necessário realizar a busca ativa das pacientes e esse desafio do pós-pandemia, na sua avaliação, precisa começar a ser planejado desde agora, o que também resultará na necessidade de mais obstetras na rede pública. “A pandemia tem gerado um represamento da demanda em toda atenção básica e secundária. Nossa prioridade foi atender casos graves, mas logo essa situação será resolvida e precisamos atender essa demanda. Teremos que voltar a correr atrás dessas pacientes que ficaram com medo de sair de casa para fazer exame de preventivo”, disse.
A realização de mutirões para consultas, exames e até algumas cirurgias, a exemplo do que foi feito em anos anterior, será um dos encaminhamentos sugeridos ao prefeito Marquinhos Trad a partir da live promovida nesta manhã, ressaltou o vereador Victor Rocha. “No formato que atendemos em anos anteriores, tínhamos uma consulta única em que médico já olhava exames, paciente já tinha retorno marcado e se havia alteração na mamografia já fazia biopsia”, recordou o médico Daniel Miranda.
O vereador Victor Rocha também defende a realização dos mutirões e do concurso para melhor estruturação da rede de atenção básica. “Sabemos que a saúde da mulher teve prejuízo na prevenção, no tratamento. Se não programarmos ações preventivas, vamos estar apenas na urgência e emergência. Sabe-se que a cada real gasto na unidade básica, economizamos R$ 10 na urgência”, esclareceu o vereador, exemplificando ainda os benefícios às pacientes que precisarão passar por menos procedimentos, com maior chances de cura, a exemplo, da mamografia, fundamental para diagnosticar câncer de mama logo no início, podendo realizar intervenções até mesmo sem necessidade de quimioterapia. O exame deve ser feito todos os anos por mulheres com mais de 40 anos.
Gestantes – A importância de manter todo o acompanhamento do pré-natal, mesmo durante a pandemia, também foi destacada pelos profissionais. “Essa procura pode mudar o prognóstico para os bebês e para o parto, com medidas preventivas”, ressaltou o médico Daniel Miranda. Ele citou que a gestante pode mudar o desfecho da gestão se tiver os cuidados adequados caso tenha diagnóstico de diabete gestacional ou de hipertensão na gravidez, situações que podem complicar a gestação.
A gestante deve começar o pré-natal o quanto antes para que sejam identificadas eventuais situações de risco, conforme ressaltou o médico Daniel Miranda. “No pré-natal de risco habitual, recomenda-se uma consulta mensal até 28 semanas. Depois, são consultas quinzenais. Quando chegar a 34 semanas, as consultas devem ser semanais”, disse. Ele acrescenta que o mínimo seria realizar pelo menos um ultrassom por trimestre e todos exames de triagem (sangue e urina) no início, os quais devem ser repetidos com 28 semanas. “Sendo identificado alto risco, essa paciente deve ser encaminhada e a conduta determinada pelo obstetra”.
O médico Ricardo Gomes complementou as orientações informando que o acido fólico precisaria ser tomado até antes de engravidar, mas é recomendado para o primeiro trimestre como prevenção, para reduzir riscos de deficiências no cérebro e na coluna vertebral do bebê. “Já o sulfato ferroso, o ideal é que comece a tomá-lo passando 16 a 20 semanas, porque no início aumenta os enjoos. São os dois mais importantes”, disse.
Outro ponto discutido foi em relação à vacinação das gestantes, tema levantado pelo vereador Dr. Loester, durante a live. Os profissionais ressaltaram a importância das gestantes imunizarem-se contra a Covid-19, seguindo recomendação da Sociedade de Obstetrícia. “Por que caminhamos para vacinar gestantes, mesmo tendo pouca evidencia científica? Porque houve uma mudança no perfil pacientes em 2021. Ano passado, os mais jovens tendiam a ter evolução mais leve e branda. Mas, com as variantes, as novas evoluções de coronavírus têm sido ruins e comprometendo os mais novos e as gestantes”, esclareceu o médico Daniel Miranda.
O médico Ricardo Gomes falou sobre o caso da gestante que faleceu em decorrência de trombose, no Rio de Janeiro, e que está sendo estudada possível associação à vacinação com a Astrazeneca. “Ainda está sendo investigado se há relação com a vacina ou não, mas até esse estudo ser concluído foi recomendado evitar a vacinação de gestantes com a Astrazeneca”, explicou. A recomendação de suspensão foi feita pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Em Campo Grande, as gestantes receberam vacinas da Coronavac e da Pfizer. “O ideal é a vacinação”, complementou, ressaltando a importância de manter cuidados como uso de máscaras.
Planejamento familiar – Além da questão da retomada de exames e cirurgias em mutirões, vereadores e profissionais falaram sobre o planejamento familiar, também com grande importância das unidades básicas na orientação e atendimento sobre métodos contraceptivos. O médico Ricardo Gomes relatou sobre a experiência para colocação de Diu de cobre em várias mulheres, em anos anteriores, com agenda de segunda a sexta no Hospital Universitário. “Quebramos alguns mitos, bastava a mulher chegar com teste de gravidez negativo e exame de Papa Nicolau recente. Tirávamos as dúvidas das mulheres e já fazíamos exame de ultrassom para ver se estava bem posicionado”, disse.
Durante os procedimentos, já foram feitas capacitações de equipes de médicos de saúde da família de Campo Grande e interior do Estado. “Há muito medo, mas é um método barato, que tem duração longa, não é método hormonal. Tem muitas vantagens e pouquíssimas desvantagens”, esclareceu. A procura pela colocação do DIU também reduziu durante a pandemia.
Decretos – Durante a live, o vereador Otávio Trad, presidente da Comissão de Legislação, Justiça e Redação Final, fez atualização acerca dos decretos que tratam do funcionamento de atividades, restrições e outras medidas relacionadas ao distanciamento social. Em Campo Grande, está autorizada a realização de eventos em clubes, salões e afins, além de eventos esportivos, com 50% da capacidade do local. Há necessidade de respeitar toque de recolher, que hoje está das 22 horas às 5 horas, conforme a classificação de bandeira laranja no Prosseguir. Todos os eventos precisam de autorização prévia da Vigilância Sanitária e manter os cuidados, como distanciamento de um metro e meio entre as pessoas. Também segue a proibição do corte de fornecimento de água e a jornada especial em repartições públicas.
Dados – Conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), atualizados na terça-feira (18) e repassados na live pelo vereador Dr. Loester, foram confirmados 99.089 casos de coronavírus em Campo Grande durante a pandemia. Foram 371.758 casos notificados, sendo 270.974 descartados. No total, 2.655 pessoas faleceram vítimas da doença. Ainda, 403 pacientes permanecem internados, sendo 204 em leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Lives – Todas as quartas-feiras, às 10h30, as lives para orientações relacionadas à pandemia de Covid-19 são organizadas pela Comissão de Saúde da Casa de Leis, composta pelo vereador Dr. Sandro Benites (presidente), Dr. Victor Rocha (vice-presidente), vereadores Dr. Jamal, Tabosa e Dr. Loester como membros. A transmissão ocorre pelo Facebook (https://www.facebook.com/camaracgms) e pelo Youtube (https://www.youtube.com/camaramunicipalcg) da Casa de Leis, por onde o público poderá encaminhar perguntas e sugestões.