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Especialistas avaliam impacto da queda na popularidade de Lula sobre a economia

A queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ter reflexos na economia do país, analisam economistas. O governo federal atingiu o menor nível de aprovação dos três mandatos do petista, e a situação pode ocasionar buscas por soluções rápidas e populares, que impactariam as contas públicas. Entre os remédios citados pelos especialistas, estão aumento de benefícios sociais e do salário mínimo, pressão sobre o Banco Central para a redução de juros e crescimento de incentivos a setores específicos.

Na sexta-feira (14), pesquisa Datafolha apontou que 41% dos eleitores reprovam o presidente, o maior número já registrado pelo levantamento considerando os mandatos anteriores de Lula. O petista tem, ainda, a pior aprovação dos três governos dele, com 24%.

No último levantamento, feito em dezembro, Lula era aprovado por 35% dos brasileiros e rejeitado por 34%. Ou seja, a proporção de eleitores favoráveis ao governo caiu 11 pontos percentuais, enquanto a quantidade de críticos subiu sete.

O economista Hugo Garbe afirma que a aprovação de um presidente não é apenas uma questão política. “Ela tem reflexos diretos na economia. Quando um governo enfrenta uma queda de popularidade, muitas vezes recorre a políticas de estímulo imediato, como o aumento de benefícios sociais, reajustes no Bolsa Família ou elevação do salário mínimo acima do esperado. Essas medidas podem aumentar o consumo das famílias de baixa renda e impulsionar setores do comércio e serviços. No entanto, se não houver um planejamento adequado, o impacto fiscal pode ser significativo, elevando o endividamento público e gerando desafios futuros”, explica o economista-chefe da G11 Finance.

Ele também aponta que, para evitar problemas no médio e longo prazo, o desafio do governo federal é encontrar equilíbrio entre a “necessidade política de apresentar resultados rápidos e a responsabilidade fiscal e econômica”. “Como o governo conduzirá esse cenário será determinante para o desempenho da economia brasileira nos próximos anos”, afirma Garbe.

Contenção de gastos

O CEO da Humaitá, VanDyck Silveira, concorda com o Garbe e pontua que o cenário “pode dobrar a aposta no populismo”, com o reajuste de benefícios sociais sem planejamento. “Isso faz a inflação explodir e o endividamento aumentar rapidamente”, acrescenta o economista, que defende mudanças na política fiscal.

“A alternativa seria um freio fiscal para ajudar no combate à inflação e um pacote de cortes de gastos com medidas mais perenes, como a desvinculação da Previdência e do salário mínimo do crescimento da arrecadação, mantendo apenas a correção pela inflação, e uma PEC para acabar com os gastos obrigatórios ou, pelo menos, mudar o indexador. Quanto mais desgastado Lula sai das pesquisas, mais sobe a Bolsa, e os juros futuros despencam”, avalia Silveira.

Pressão sobre juros

Para Hugo Garbe, o cenário de reprovação pode levar Lula a pressionar ainda mais o Banco Central pela queda da Selic, a taxa básica de juros. O governo esperava que o presidente da autoridade monetária indicado pelo petista, Gabriel Galípolo, abrisse caminho para a queda no índice.

No fim de janeiro, contudo, o BC, por unanimidade, elevou a taxa em 1 ponto percentual — a Selic está em 13,25% ao ano —, com tendência de crescer novamente na próxima reunião.

“A ideia seria acelerar o crescimento econômico e aumentar a percepção de melhoria no curto prazo. Porém, uma queda forçada da taxa Selic, sem que a inflação esteja devidamente controlada, pode criar um ambiente de instabilidade, afastando investimentos e encarecendo o crédito no futuro”, lembra Garbe.

Professor de economia e mercado financeiro na UnB (Universidade de Brasília), César Bergo diz que, em meio ao cenário de reprovação, Lula tem alterado o discurso. A estratégia faz parte da mudança na condução da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência), logo no início deste ano.

“No ano passado, ele teceu críticas ao então presidente do Banco Central [Roberto Campos Neto], agora ele vem tecendo críticas a presidentes de empresas e de institutos. É uma diretriz de comunicação está sendo colocada para ele, para que ele possa falar a linguagem dos eleitores, mas, muitas vezes, isso não dá certo”, observa o especialista.

“Essas medidas imediatistas, por exemplo, criticar o preço do gás e colocar a culpa nos governadores, é uma transferência de culpa que, muitas vezes, não cola. A grande dificuldade hoje para esse governo é a inflação, sobretudo a questão dos alimentos e dos transportes — existem perspectivas também de aumento de outros preços, como os planos de saúde. Então, isso pode acabar sendo um tiro no pé”, completa Bergo.

Protecionismo e mercado

Hugo Garbe afirma, ainda, que, em um cenário de menor aprovação, o governo pode optar por medidas protecionistas para fortalecer setores industriais e impulsionar a geração de empregos.

“Isso pode incluir subsídios a segmentos específicos ou aumento de tarifas sobre importações. No curto prazo, essas ações podem estimular determinados setores, mas, se mal planejadas, acabam encarecendo produtos, reduzindo a competitividade do Brasil no comércio internacional e afastando investimentos estrangeiros”, lista.

O economista também destaca que o mercado financeiro costuma ser sensível a “incertezas políticas” e reagir de “maneira imediata”.

“Se a percepção for de que o governo pode adotar medidas econômicas consideradas arriscadas ou populistas, investidores tendem a reagir com maior aversão ao risco. Isso pode levar à desvalorização do real, aumento dos juros futuros e maior volatilidade na Bolsa de Valores, tornando mais difícil o planejamento de longo prazo para empresas e consumidores”, alerta Garbe.