Especialista diz que tratamento em casa deve ser ‘exceção’ e defende estruturação da rede hospitalar
Convidado da live da Câmara Municipal nesta quarta-feira (09), o cardiologista e cirurgião vascular João Jackson Duarte afirmou que o tratamento da covid-19 deve ser realizado, prioritariamente, na rede hospitalar. Ele participou do debate semanal promovido pela Comissão Permanente de Saúde e defendeu também a capacitação dos servidores que atuam na linha de frente, bem como estruturação da rede pública de atendimento.
“Hoje, tratar em casa é uma exceção ocasionada pelas diversas limitações que temos em virtude da internação e da vontade de pacientes que têm receio em internar. Nós, e o grupo da saúde, ganharíamos muito se realmente [a rede pública] fosse estruturada, junto dos postos de saúde, com o treinamento dos colegas e o entendimento da necessidade do acompanhamento do paciente, independente dos fatores de risco”, analisou.
Ainda conforme o especialista, que é diretor científico da Sociedade Brasileira de Ozonioterapia Médica, não há protocolos que definam quais pacientes podem ser tratados em casa. Segundo ele, a doença, principalmente com a nova cepa, virou uma ‘loteria imunológica’, já que agrava quadros até mesmo em pacientes fora dos grupos de risco.
“Hoje, vemos uma loteria imunológica. Vemos idosos que passam bem pela doença, e pacientes jovens que respondem de uma maneira muito inflamatória, com risco de intubação. No momento em que o paciente começa apresentar lesões pulmonares, está entrando na fase inflamatória. Muitas vezes, o paciente é assintomático e tem lesões pulmonares”, alertou.
Duarte também defendeu a necessidade de se manter um acompanhamento próximo do paciente, o que muitas vezes, na rede pública de saúde, não é possível devido a grande quantidade de atendimentos.
“A meu ver, todo paciente com inflamação no pulmão deveria ser tratado em regime hospitalar. Lugar de paciente grave é no hospital. Mas, hoje, o médico normalmente não consegue fazer um acompanhamento individual do paciente. Isso é uma causa importante da perda do momento de se tomar condutas médicas que possam realmente abreviar ou evitar a internação. Precisamos do bom senso e da experiência. O melhor nível de evidência é o que você observa. A população está sofrendo e precisa de um atendimento de qualidade. O melhor da medicina não é o medicamento, mas médico”, finalizou.
Presidente da Comissão de Saúde da Casa, o vereador Dr. Sandro Benites, que conduziu a live, também destacou a importância de começar o tratamento no início dos sintomas.
“Diante de sintomas gripais, com mais de cinco dias, procure seu médico”, aconselhou. “Os benefícios de estar em casa são maiores. Mas, o tratamento em casa exige um custo. Tem que ter enfermeiro, médico, pagar medicação. Coisa que, no hospital, você tem no SUS ou no plano de saúde. Infelizmente, não temos a possibilidade, via rede pública, para a grande maioria da população”, apontou.
Ele ainda defendeu a autonomia dos médicos, já que a covid-19 ataca cada paciente de maneira diferente. “Quem vai preencher esse protocolo? São vários médicos tentando preencher um papel em branco porque estamos em guerra. Ou eu sento e espero a banda passar, ou tenho coragem e flexibilidade, coisas que não se aprendem na faculdade, é da pessoa. Não é o momento de esperarmos um protocolo que vai chegar daqui alguns anos”, finalizou.
Hoje, segundo boletim epidemiológico mais recente divulgado pela Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), Campo Grande tem 423 pacientes com covid-19 em isolamento domiciliar. Outros 560 estão internados na rede hospitalar. Desde o início da pandemia, são quase 3 mil mortes registradas na Capital, que segue na bandeira vermelha, com toque de recolher das 21h às 5h para tentar conter o avanço da doença.