Com apoio da ALEMS, assentados do Pantanal poderão ter escola e reduzir êxodo rural
Projeto de construção de uma escola de ensino médio na região do Alto Pantanal para atender jovens de assentamentos pode ser concretizado no próximo ano com a ajuda de parlamentares da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS). Na tarde desta terça-feira (20), os deputados Zeca do PT e Gleice Jane (PT) receberam, na Casa de Leis, representantes de agricultores familiares de Corumbá para tratar do assunto. A oferta do ensino médio é um caminho para a redução do êxodo da juventude rural – nos últimos dez anos, cerca de 2,2 mil jovens do Pantanal trocaram o campo pela cidade.
Conforme a proposta, a escola será construída em uma área de aproximadamente 15 hectares do assentamento Taquaral, em Corumbá. No local, há uma edificação onde funcionava uma estação experimental do campo e um prédio, que era usado pela Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer). “Hoje, funciona, no local, de forma precária, um posto de saúde. Então, também queremos discutir, junto com o projeto da escola, a demanda de construção de um posto de saúde no assentamento Taquaral e outro no assentamento Paiolzinho [também em Corumbá]”, detalhou o presidente da Associação da Escola Família Agrícola da Região Pantaneira, Sérgio da Silva Pereira.
De acordo com Sérgio Pereira, a ideia é iniciar o funcionamento da escola no próximo ano com duas turmas do primeiro ano do ensino médio com 40 alunos cada. O curso seria no âmbito do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), ação do Governo federal que destina verbas a estudantes do ensino superior, mas também a alunos do ensino médio profissionalizante.
A proposta pedagógica é de trabalhar três eixos – produção, transformação pela agroindústria e comercialização -, aproximando as dinâmicas escolares do trabalho no campo. O projeto também inclui a adoção da pedagogia de alternância. “Os alunos vão ficar 15 dias na escola e 15 dias na comunidade”, afirmou o presidente da Associação. “Então, a escola vai precisar de alojamento, área de convivência, área de lazer, laboratórios”, acrescentou. “Esse processo de ir e vir é o que chamamos de pedagogia da alternância. Com isso, o estudante também poderá desenvolver projetos, pesquisas no próprio sítio. E os professores acompanharão todo esse processo”, explicou.
Sérgio Pereira e outros participantes da reunião disseram que um grave problema nos assentamentos é a saída do jovem do campo para a cidade. “Fizemos um estudo e verificamos que, nos últimos dez anos, aproximadamente 2,2 mil jovens da região saíram e não mais retornaram para o campo. Com isso, os sítios da reforma agrária vão se tornando improdutivos, porque só ficam pessoas mais idosas para trabalhar”, observou.
A construção da escola de ensino médio com educação profissionalizante ajuda a resolver o problema em duas frentes: mais jovens permanecerão no campo e terão condições técnicas para melhorar a produção agrícola. “Não queremos impedir ninguém de ir para a cidade, mas os jovens estão indo, porque não têm opção no campo. Com a escola, os estudantes poderão ficar nos sítios e desenvolver projetos nos três eixos: na produção, na agroindústria e na comercialização”, realçou Pereira.
Apoio da ALEMS
Os deputados Zeca do PT e Gleice Jane se comprometeram a ajudar na efetivação do projeto. “Temos cada vez mais uma enorme evasão dos jovens das famílias assentadas para as cidades. Vão trabalhar em qualquer coisa e abandonam os assentamentos. Nós temos que mudar isso”, afirmou o deputado Zeca do PT. O parlamentar afirmou que conversará com o deputado federal Vander Loubet (PT) sobre a possibilidade de disponibilização de R$ 1 milhão em emenda para atender, no próximo ano, a escola agrícola de Corumbá.
Zeca também disse que ajudará nas articulações com o governador Eduardo Riedel (PSDB) para investir na reforma e ampliação do espaço, como também para a viabilização de recursos para pagamento dos professores e demais servidores entre outras despesas. “Com isso, vamos ter uma escola técnica, uma escola da família agrícola de alta qualidade para atender a demanda da juventude do Pantanal”, finalizou.
A deputada Gleice Jane, que é professora, afirmou que acompanha, há tempos, o problema que envolve estudantes do campo. “Como professora em escolas urbanas, sempre recebemos crianças do campo. E isso não é confortável, não é seguro para a criança. Há situações de criança que sai de madrugada de casa e só volta no final da tarde”, contou.
Outra preocupação da deputada é quanto à garantia de formação de qualidade aos jovens para que permaneçam no campo. “E uma das características importantes de Mato Grosso do Sul é a produção agrícola, que é a atividade que assegura alimento para a população. Nós precisamos ter essa atenção de formar pessoas que gostem de estar no campo e gostem de produzir alimentos. E sabemos que é a agricultura familiar que proporciona comida para nossas mesas. É preciso incentivo do Governo para se ter escola no campo. É preciso olhar para o campo, construir políticas para os jovens da agricultura familiar”, disse Gleice Jane.