“Amigos do Transplante” são homenageados na ALEMS
“Em qualquer momento de adversidade, podemos respirar, raciocinar e ver o que pode ser feito. Verificar se podemos ainda ajudar alguém, mesmo que estejamos passando por uma situação de dor”. Essa fala é do policial militar Anderson Ferreira Bento, que em um momento de dor pela morte do filho em 2011, tomou a decisão de ajudar alguém a enxergar melhor, a viver melhor, a recuperar a saúde, por meio da doação dos órgãos de Felipe, que partiu com apenas 19 anos de idade. Anderson, representando o filho Felipe cujos órgãos foram doados, foi um dos homenageados pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS) na noite de hoje (30), na Sessão Solene de Entrega de Diploma “Amigo do Transplante”.
No evento, realizado no Plenário Júlio Maia e proposto pelo deputado Renato Câmara (MDB), foram homenageadas mais de 50 pessoas físicas e jurídicas que prestam ou prestaram importantes serviços relacionados a transplantes de órgãos. “Parte da população não aceita que os órgãos de seus familiares sejam doados. Precisamos quebrar tabus e preconceito, através da disseminação de informação e conhecimento. Uma das formas é realizando esta homenagem aos profissionais e pessoas que com um ato de amor fazem com que a vida continue”, afirmou Renato Câmara.
Enquanto o homenageado Anderson contou sobre a coragem e a decisão solidária de ajudar alguém em meio ao sofrimento pela morte do filho, Gleice Regina Rodrigues destacou a emoção de mudar de vida após o transplante. “Há dois meses passei pelo primeiro transplante, após esperar um ano na fila. A doação é um ato importante, de generosidade, que mudou a minha vida. Hoje eu enxergo com muito mais nitidez. Já chorei muito de emoção, é uma emoção doar e é uma emoção receber”, disse Gleice, afirmando que vive mais feliz ao enxergar melhor.
Coordenadora da Central Estadual de Transplante, Claire Carmen Miozzo, falou sobre a motivação em trabalhar com transplantes. “A motivação são as famílias. De um lado, vemos aqueles que sentem a tristeza de perder um ente querido, do outro, vemos o ato de solidariedade dessas pessoas. Ficamos felizes com a realização desta homenagem”, afirmou Claire.
Com falas de sensibilidade e sabedoria, Anderson, pai de Felipe, descreve com simplicidade como tomou a decisão ao doar os órgãos do filho. “Não poderíamos deixar passar muitas horas, tivemos que tomar a decisão. Eu, minha esposa e minha filha. Basta pensar do outro lado, como estão as pessoas na fila? Esperando um órgão, um tecido, uma córnea, e a angústia dia após dia, e você sabendo que pode ajudar. Em resumo, é um amor muito grande que a gente pode passar para o nosso semelhante”, explicou Anderson. O pai disse, ainda, que conforta o coração saber que ajudou alguém. “Fazer a doação e saber que hoje uma pessoa está bem e com saúde, vivendo bem e seguindo a vida, eu coloco isso como um gesto de amor”, definiu.
Dados
No ano passado, foram feitos 175 transplantes de córneas, 17 de rins e seis de ossos em Mato Grosso do Sul, conforme dados da Central Estadual de Transplante (CET/MS). Ainda de acordo com o CET/MS, foram encaminhados a outros estados dez corações, 40 córneas, 31 fígados, cinco pâncreas, dois pulmões e 75 rins.
No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, 25.396 pessoas estão na fila a espera de um transplante de órgão e 8.825 na fila a espera de córneas – que são tecidos. O órgão mais doado no Estado é o que tem a maior fila de pessoas na espera no Brasil, o rim. São 23.223 pessoas aguardando um transplante.