Após confronto com a PM, indígenas são presos por desobediência
Indígenas e policiais militares entraram em confronto na tarde de ontem (04), na Fazenda do Inho, em Rio Brilhante, em uma ação de retomada de posse. A sede da propriedade havia sido invadida e tomada pelos índios na madrugada do mesmo dia.
O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) acusa o Batalhão de Choque da Polícia Militar (BPChoque) de retirar os indígenas sem ter uma ordem oficial de despejo. Dois homens e uma mulher Kaiowá foram presos e indígenas foram atingidos por bala de borracha.
De acordo com Anderson Santos, assessor jurídico do CIMI-MS, os indígenas foram acusados de furto, mas acabaram sendo detidos por uma acusação de desobediência para justificar a ação da polícia.
“O despejo ocorreu de forma ilegal, burlando a competência da justiça federal e resultando na prisão desses três indígenas, que foram detidos para justificar a atuação ilegal da Polícia Militar nessa operação”, declarou.
O representante do CIMI também informou que os três indígenas detidos foram levados para a delegacia de Rio Brilhante e que se encontram bem e sem ferimentos graves. “Agora vamos acompanhar e buscar garantir a liberdade”, completa Anderson.
Depois do despejo, os indígenas refugiaram-se numa área de mata próxima à sede da propriedade retomada, chamada fazenda Inho, e afirmam que permanecerão no local até que os indígenas presos sejam libertados.
A ação
A Polícia Militar disse que recebeu uma informação inicial de que aproximadamente 15 pessoas tinham ocupando a sede de uma fazenda, em Rio Brilhante, sendo que no grupo invasor estariam mulheres e crianças.
Uma equipe esteve no local, onde foram identificados três barracos de lona erguidos nas proximidades da sede da fazenda. Segundo a PM, os policiais foram recebidos pelo grupo armado com arcos e flechas, além de facas.
A entrada principal da propriedade estava bloqueada, então, foi exigido que o grupo saísse do local e liberasse o trânsito, porém, houve a recusa por parte dos indígenas.
Diante disso, houve o confronto entre os policiais e os indígenas, sendo utilizados pela PM gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral. O Ministério Publico Estadual acompanha o caso e a Defensoria Pública também foi acionada.
Indígenas rebatem operação
Os indigenas dizem que a polícia começou o conflito. “Falaram que a gente não podia ficar ali. Primeiro, a gente conversou, eles se retiraram e disseram que iriam fazer uma reunião. Quando deu uma hora, eles vieram de novo e chamaram meu pai. Fomos junto com ele, e eles falaram uma mentira, que tínhamos roubado gás. Meu pai disse para eles trazerem o dono da fazenda para conversar”, contou a filha de um dos indígenas que acabou sendo preso.
Ainda na sua versão, a indígena detalhou que os tiros de balas de borracha começaram de forma repentina. “Eles disseram ‘se vocês não se retirarem, vocês vão ver’. E já começaram a atirar. Acertaram a perna do meu avô, as costas da minha cunhada. No meio disso, todo mundo começou a correr. Meu pai tentou se defender, eles pegaram ele e algemaram”, contou.
“Enquanto meu pai não sair [da prisão], nós não vamos sair daqui. Vamos esperar a noite toda, se precisar. Custe o que custar, vamos ficar por aqui até a volta deles”, afirma a Kaiowá.
O CIMI disse que servidores da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) foram impedidos de acessar o local da retomada pela Polícia Militar. Os agentes deslocaram-se até a região ainda pela manhã, mas acabaram barrados numa estrada próxima à retomada.
“Esse despejo que ocorreu é o sexto feito da mesma forma pela Polícia Militar sem ter uma ordem judicial. Não é competência do estado promover despejo de comunidades indígenas, pois o processo é do âmbito federal e a ordem deveria se dar por um juiz federal”, concluiu o assessor Anderson Santos.