Vereadores criticam o Consórcio Guaicurus pela greve dos motoristas e propõem alternativas para o transporte público
Vereadores se manifestaram nesta quarta´feira (18) sobre a greve dos motoristas do transporte público de Campo Grande. Para eles, é preciso investigar o Consórcio Guaicurus, coletivo de empresas de viação que administra o serviço, mas também se faz necessário mudar o modelo e investir em um novo formato de gestão que está sendo chamado de Sistema Único de Mobilidade.
O vereador Ronilço Guerreiro (Podemos) lamentou a paralisação, dizendo que prejudica muitos setores da cidade. “Esse tipo de greve é algo que não podemos mais deixar acontecer, pois são milhares de pessoas prejudicadas que necessitam do transporte público para deslocamento, seja para trabalho, problemas de saúde ou mesmo lazer”, citou.
Ele também ressaltou a importância do diálogo pela valorização salarial dos trabalhadores do transporte. “Sei que os trabalhadores do transporte têm direito ao aumento salarial, já participei de algumas reuniões mesmo não sendo da comissão de transporte e sou a favor de discutir o contrato e abrir a planilha do Consórcio Guaicurus para a população”, completou.
Guerreiro pontuou ainda que as gratuidades precisam ser verificadas, mas sem prejudicar os que mais precisam. “É essencial manter o passe gratuito ao estudante e, para isso, prefeitura e Governo do Estado já oferecem subsídios. Outras gratuidades são garantidas por lei, por exemplo para o idoso, mas é importante fazer um estudo e a planilha vai nos mostrar onde estão os gargalos”.
O vereador afirmou que passou da hora de se pensar na tarifa zero em Campo Grande. “Eu acredito na necessidade de estudar as cidades que aplicam tarifa zero no Brasil e como o projeto foi implementado. O cidadão já paga tantos impostos e, se tivermos a tarifa gratuita, vamos possibilitar às pessoas a liberdade para trabalhar, procurar emprego, assistência médica e lazer”, finalizou Guerreiro.
Outro vereador que também se posicionou pela investigação do Consórcio Guaicurus foi Junior Coringa (PSD), que também é o vice-presidente da Comissão de Defesa dos Direitos do Consumidor na Câmara. “O Consórcio fica querendo jogar a culpa, mas nessa história quem está saindo prejudicado são os trabalhadores, os que não tem salário digno e os que hoje foram impedidos de trabalhar por conta da paralização, pelo menos 160 mil usuários foram prejudicados apenas nesta manhã”, citou.
Ele lembrou que no ano passado a Prefeitura de Campo Grande concedeu o perdão e isenção do ISSQN (Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza) e o aporte de R$ 12 milhões ao Consórcio Guaicurus, que obteve também uma liminar suspendendo provisoriamente decisão da Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos) em cobrar 269 multas emitidas contra a companhia de transporte entre os anos de 2010 e 2012.
“Com tudo isso, com todo esse dinheiro o Consórcio Guaicurus pede aumento da passagem do transporte público de R$ 4,40 para R$ 8, e todo o resto do dinheiro arrecadado vai pra onde?”, questionou.
Junior Coringa aproveitou para lançar o movimento ‘Fora Consórcio Guaicurus’. “Não podemos aceitar, não é hora de aumentar, e sim de investir em melhorias no setor, no serviço, se for preciso vamos até abrir uma CPI para garantir o direito dos trabalhadores e usuários”, pontuou o vereador, que dizendo ainda que também trará de volta seu projeto de lei que regulamenta o transporte de vans em Campo Grande.
O vereador Tiago Vargas (PSD) cobrou a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). “Eu já estou até rouco de tanto que venho cobrando, pedindo, implorando para a saída desse Consórcio que é uma lástima para a nossa cidade. Desde o início do meu mandato eu brigo para que criem uma CPI do Consórcio Guaicurus e nada foi feito até agora”, exclamou.
Vargas disse estasr indignado com o jogo de empurra-empurra da Prefeitura Municipal e do Consórcio Guaicurus. “É sempre a mesma novela. Um jogando a culpa para o outro. Os funcionários dessa empresa já cobraram mais de quatro vezes por um aumento salarial, mas sem sucesso. As condições dos ônibus que circulam em nossa cidade é uma vergonha e ainda assim querem aumentar o valor da passagem?”, argumentou o vereador.
Pelas redes sociais, a vereadora em fim de mandato e deputada federal já diplomada Camila Jara (PT) usou as redes sociais para defender o projeto do chamado Sistema Único de Mobilidade, que prevê a gratuidade do passe de ônibus em Campo Grande com aporte financeiro do Governo Federal.
“É como o SUS, mas para o transporte, modelo que prevê o poder público – em todas as suas esferas – e a iniciativa privada unidos para oferecer transporte gratuito. […] De forma progressiva, priorizando grupos de interesse, como desempregados, estudantes, idosos, depois as linhas noturnas, finais de semana e, em 4 anos, chegaríamos na tarifa zero para todo o sistema”, explicou.
Camila citou que o dinheiro para isso viria a união entre governo Lula, prefeituras e empresariado. “As possibilidades de financiamento incluem mudar o modelo de pagamento de vale-transporte pelas empresas, verbas de cobrança por estacionamento na rua, transferências federais e muito mais”, finalizou, acrescentando ainda que mais de 50 cidades do País já começaram a dar os primeiros passos em direção à Tarifa Zero.
Mobilidade, ir e vir, qualidade de vida, sustentabilidade… tudo isso é direito!
Vamos lutar para que a Tarifa Zero seja uma realidade para todos e todas!— Camila Jara (@camilajarams) January 18, 2023
A greve
A paralisação do motoristas acontece devido a falta de acordo com o Consórcio Guaicurus quanto ao reajuste salarial dos trabalhadores. A categoria pede aumento de 16%, além da manutenção dos benefícios sociais, como o plano de saúde, ticket alimentação e a participação nos lucros – os motoristas têm direito a um percentual das passagens pagas nos ônibus que dirigem e é exatamente por este fator que a classe também defende o aumento do valor da tarifa.
Conforme explicou o presidente do sindicato, Demétrio Freitas, caso não haja nenhum novo acordo ao longo desta quarta-feira, haverá uma nova assembleia da categoria na sexta (20), onde deverá ser decidido pela realização de uma paralisação com tempo de duração maior. Ele garantiu que o serviço volta ao normal na quinta e na sexta-feira.
O Consórcio Guaicurus, por sua vez, já tentou barrar a paralisação usando os mecânismos judiciais. Em um pedido ingressado no Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região (TRT/MS), as empresas alegaram que a paralisação resultaria “não somente na privação da sociedade campo-grandense do essencial serviço de transporte público, mas também no injustificável e inaceitável fechamento das garagens das empresas que operam o serviço, impedindo que os ônibus alocados em cada uma delas sejam utilizados pelos empregados não aderentes ao movimento”. O pedido foi negado na terça-feira (17) e novamente na manhã de hoje.
Sobre o aumento salarial dos motoristas, o Consórcio Guaicurus pede que o passe de ônibus seja reajustado para absurdos R$ 8,00 para poder atender ao pedido. Esse novo valor deverá ser definido no próximo dia 24, quando acontece a reunião do Conselho de Regulação, que é formado por membros da sociedade civil e órgãos da administração pública.