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The Intercept cita a participação de políticos de MS no tráfico de drogas na Ditadura

Documentos do Serviço Nacional de Informações (SNI) analisados e publicados pelo site The Intercept apontam para a participação de políticos famosos do Estado de Mato Grosso Sul no tráfico de drogas e de armas e no contrabando de mercadorias. Conforme a reportagem apurou, a ação ilícita não era combatida durante os anos da Ditatura Militar, mesmo todos os órgãos policiais e de fiscalização terem o conhecimento da entrada dos entorpecentes pela fronteira com o Paraguai.

Entre os políticos envolvidos no esquema está o ex-deputado federal Gandi Jamil, do extinto PDS, que é irmão do traficante Fahd Jamil Georges, conhecido em Ponta Porã como Rei da Fronteira. Eles tinham como principal aliado o então governador Pedro Pedrossian, também do PDS, e também do Governo Militar, o que facilitava, e muito, na hora de passar pela fronteira. A reportagem cita que veículos oficiais eram usados como meios de transporte para levar a droga e demais mercadorias para Campo Grande e cidades do interior.

Segundo o The Intercept, o esquema era coordenado por Fahd e funcionava da seguinte forma: um primeiro motorista, identificado como Pretinho, era responsável por levar o Opala, veículo oficial do Governo Federal, de Brasília até Campo Grande. De lá, Luiz Duim Neto, motorista do traficante, seguia até Ponta Porã e recebia o material encomendado pelo seu chefe – o relatório descreve cargas de cocaína, maconha, armas, munições e até nitroglicerina (ingrediente de explosivos).

Ao voltar para Campo Grande, Duim Neto levava o material do tráfico até São Paulo ou Rio de Janeiro, onde abastecia as ainda incipientes facções criminosas da região. O site coloca o motorista Duim Neto como o precursor da hoje famosa rota do Paraguai, por onde entra boa parte das drogas e armas contrabandeadas no país.

Antes de partir para o sudeste, as armas e as drogas eram guardadas em propriedades da família do deputado federal Gandi Jamil no Estado. Em alguns casos, descreve o SNI, o material era mantido em Ponta Porã e depois colocado em caminhões cobertos com pedra britada, para passarem despercebidos pela fiscalização.

Todos sabiam do esquema

Fahd Jamil Georges

Conforme os documentos publicados pelo site, não só a alta cúpula do Governo Militar sabia quem era Fahd Georges como o próprio presidente da República, João Batista Figueiredo, que foi alertado sobre o papel do traficante na fronteira. Um dossiê preparado pela SNI na primeira visita de Figueiredo ao Estado, em 21 de janeiro de 1981, cita Fahd como alguém “desaconselhável” para o presidente se aproximar. O Serviço Nacional colocou ainda que o Comando Militar do Oeste (CMO) e as Polícias Militar e Civil de MS também tinham conhecimentos do esquema.

O traficante era muito próximo do governador Pedro Pedrossian, e de outros políticos importantes de Mato Grosso do Sul e de Mato Grosso, como o senador José Benedito Canellas. Os dois figurões estiveram, inclusive, numa penitenciária para visitar Fahd quando este foi preso pela primeira vez, em julho de 1980. A proximidade dos envolvidos aconteceria porque o vulgo Rei da Fronteira representava votos importantes e também dava dinheiro para a campanha eleitoral.

Os documentos analisados pelo The Intercept citam também que outros deputados estaduais e federais da época interviram pedindo a soltura de traficantes presos em operações policiais ou que teriam ‘comprado’ mercadorias contrabandeadas.

Fahd Jamil foi condenado a 20 anos de prisão por tráfico no início de 2005 pelo então juiz federal Odilon de Oliveira. O traficante ficou foragido até ser absolvido pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região em 2009. Em 2012 o Superior Tribunal Justiça (STJ) considerou extinta a punibilidade contra ele. Atualmente, mora em Ponta Porã.

Guerra pelo comando da fronteira

Descendentes da família Jamil foram vítimas fatais, nos últimos anos, da disputa pelo controle da fronteira, outrora pertencente exclusivamente ao antigo rei Fahd. O primeiro grande caso foi o do seu filho, Daniel Alvarez Georges, Danielito, na época com 44 anos, que foi sequestrado no dia 03 de maio de 2010, no Shopping Campo Grande, e morto.

Outro registro trágico foi o do assassinato do sobrinho de Fahd, Luis Henrique Georges, conhecido por “Tulú”, e que foi morto a tiros na tarde do dia 04 de outubro de 2012, em Ponta Porã. O crime teria sido cometido por Jorge Rafaat Toumani, reconhecido então como o novo rei da fronteira.

Você pode conferir o documento completo do SNI clicando aqui

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