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Seminário discute situação da educação infantil na Capital; 8,7 mil crianças aguardam vagas em EMEIs

Vereadores, representantes do Poder Executivo e líderes de movimentos sociais discutiram, nesta segunda-feira (28), a situação da educação infantil em Campo Grande. O seminário “A Falta de Vagas na Educação Infantil – O tempo da criança não para” foi uma proposição da vereadora Luiza Ribeiro e revelou um déficit de mais de 8,7 mil vagas nas EMEIs (Escola Municipal de Educação Infantil) da Capital.

“Fui a 106 escolas e encontramos professores e diretores desesperados. Tem um problema gravíssimo. A sociedade está acolhendo a educação infantil como uma oportunidade para seus filhos. É um desafio e a solução não está nas mãos do gestor municipal. É uma responsabilidade de todas as esferas. Por isso, fizemos um seminário com a participação dos representantes. O gestor municipal tem uma responsabilidade maior nesse momento. É preciso avançar. Não podemos começar 2024 com esse sofrimento”, cobrou a vereadora.

Os dados apresentados no seminário mostram que 8.736 crianças aguardam uma vaga na Educação Infantil em Campo Grande. A situação pune crianças, as privando do acesso à educação, excluindo da oportunidade ao desenvolvimento pedagógico. Também penaliza famílias que não têm com quem deixar seus filhos para trabalhar.

“Este quadro já perdura há algum tempo e conhecemos essa realidade, que é desafiadora. Muita coisa depende de nós. Não podemos ficar só esperando dos governos. É preciso que haja esse engajamento de todos nós, é importante essa união de esforços. A educação infantil é um desafio para o Brasil e acredito que a mobilização permanente da sociedade vai fazer avançar”, disse o deputado estadual Pedro Kemp.

Para o vereador Professor Juari, investir na educação é respeitar a democracia. “A educação é o caminho. Somente investindo em educação é que teremos um país decente, um país que respeita a democracia. Que tenhamos uma primeira infância de qualidade e investimentos, de fato, nessa área. A Comissão de Educação está à disposição. Através do debate, do seminário e de audiências, é que conseguiremos alcançar”, afirmou.

Segundo a Semed (Secretaria Municipal de Educação), Campo Grande tem avançado para destravar obras de EMEIS paralisadas. Duas delas já foram retomadas: São Conrado e Inápolis. Outras seis estão em fase de licitação: Oliveira 3, Anache, Popular, Talismã, Radialista e Vila Natalia.

“O direito não é só do acesso à escola, mas também de uma formação integral. Hoje, Campo Grande tem 111 mil alunos matriculados. Não é alegria de nenhum gestor ver uma lista como essa publicizada. Não gostaríamos que tivesse 8 mil alunos na lista de espera. Cabe a nós a responsabilidade de buscarmos soluções. A educação é a base de qualquer sociedade”, disse o titular da pasta, Lucas Bittencourt.

Para o presidente da Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul), Jaima Teixeira, é preciso garantir não apenas o acesso das crianças às vagas, mas também a valorização dos trabalhadores da educação.

“Essa luta pela educação infantil passou a ser pauta de luta das casas de leis com a criação do Fundeb. Avançamos muito nesses anos. O novo PNE, de 2014, trouxe metas necessárias. Mas, não avançou como deveria. Estamos muito longe. Como fazer educação infantil de qualidade sem valorizar os trabalhadores? O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo. E diminuir essa desigualdade passa pela educação. Uma criança sem creche tira uma mulher do mercado de trabalho”, analisou.

O presidente da ACP (Sindicato Campo-grandense dos Professores), Gilvano Kunzler Bronzoni, afirmou que os profissionais ‘estão doentes’. “O professor e a professora já estão doentes. Não aguentam mais. Não é só garantir o direito ao acesso, mas garantir a qualidade. A questão das vagas nunca foi solucionada em Campo Grande. Temos que ter, sim, uma política para que todas as crianças tenham acesso à educação. Mas essa conta não pode ser empurrada para o professor”, defendeu.

Já a vereadora Camila Jara afirmou que essas crianças têm seus futuros roubados. “É um problema na nossa sociedade como um todo. Vemos, por horas, esgotando debate quando se trata de segurança pública. Quando investimos em educação, nessa fase, temos a melhor estratégia para combater o crime, gerar emprego para as mulheres que não conseguem sair de casa. Depois, não adianta cobrar mais investimento em outras áreas se não estamos fazendo o trabalho de casa. Quando falamos disso, falamos de valorização dos profissionais, construção de prédios, e de uma nova sociedade”, afirmou.

Doutora em Educação e professora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) há mais de 35 anos, a pedagoga Ângela Maria Costa também cobrou mais ação do poder público. “Sempre entendi que, na educação, temos que começar pelo começo. A criança brasileira está sendo roubada de sua infância. Creche é direito da criança brasileira, opção da família e dever do Estado. A mãe que precisa trabalhar, precisa ter a criança na creche. O marginal não brota do chão. Ele foi construído pela sociedade que roubou esse direito quando essa criança nasceu. Não podemos fazer a criança esperar. O tempo dela é hoje. Fila de creche é um atestado de incompetência do Brasil”, criticou.

MEC tem trabalhado – A coordenadora-geral de Educação Infantil do MEC (Ministério da Educação), Rita Coelho, também participou do seminário e lembrou: a falta de vagas nas EMEIs não é um problema exclusivo de Campo Grande ou de Mato Grosso do Sul.

“É um problema de todo o Brasil que tem relação direta com a história da educação infantil, com a desigualdade de nosso país e com as questões de financiamento e organização do sistema educacional brasileiro”, apontou.

Ela, no entanto, anunciou medidas para minimizar a situação. “Talvez, uma das mais significativas e que mais interessa aos prefeitos, é a expansão da construção de novos estabelecimentos de educação infantil e o término de obras paralisadas ou inacabadas da educação infantil”, disse.

“O MEC tem dois grandes programas de apoio: financiamento de novas matrículas em novas turmas, e o outro é o financiamento da jornada em tempo integral. Se o município transformar a vaga em tempo integral, o MEC apoia financeiramente”, finalizou.