Recusa de moradores em permitir a entrada de agentes de saúde atrapalha ação contra Aedes aegypti
Uma grande operação está acontecendo em treze bairros de Campo Grande para combater os altos índices de infestação pelo Aedes aegypti – transmissor da dengue, zika e chikungunya desde o início da manhã de hoje (15). Uma das principais dificuldades que os agentes de combate às endemias estão encontrando é a recusa dos moradores em permitir a entrada nas residências.
A região abrangida pela UBSF Jardim Antártica, por exemplo, é a terceira com o maior índice de infestação predial na Capital, tendo 5,2% dos imóveis vistoriados a confirmação da presença de larvas do mosquito, quando o recomendado é que essa taxa seja inferior a 1%.
Segundo o chefe de serviço de controle ao Aedes Aegypti, Vanderlei Rossati, o que mais preocupa são os imóveis fechados, seja porque está abandonado ou porque o morador recusa autorizar a entrada da equipe no imóvel. “É comum ver o agente batendo na porta do morador e, mesmo vendo o movimento lá dentro, ele não sai para nos receber”, lamenta.
Ao lado da residência da dona de casa Edna Gomes, de 50 anos, é encontrado exatamente o cenário descrito por Rossati. “Ela vive lá dentro, nunca sai de lá, não atende ninguém no portão, e aqui no quintal é essa sujeira toda, como a gente consegue ver”, conclui.
Ela explica que, na casa dela, não deixa água parada e que, desde que se mudou, está limpando o terreno para acabar com qualquer criadouro do mosquito que possa ter ainda. “Essa casa ficou fechada uns quatro meses, e, para piorar, tinha muita manga jogada aqui no chão, então não era só o Aedes que me preocupava”, relembra a dona de casa.
Assim como ela, a vizinha Cristiane Sampaio, de 25 anos, não dá brecha para o mosquito. “Já tenho que limpar o quintal todo dia por causa do cachorro, então não custa nada já conferir se não tem nem um pouquinho de água acumulada”.
A jovem tem uma rotina intensa de combate ao mosquito, mas também sofre com o descaso da vizinha. Ela lembra que aparece muito mosquito na casa dela, e que às vezes, só unindo as forças do ventilador e do repelente para conseguir se manter segura.
Dados epidemiológicos
Atualizados toda quarta-feira, os dados epidemiológicos dessa semana já mostram um aumento significativo no número de notificações feitas ao serviço de vigilância epidemiológica. Foram registrados nos últimos sete dias 225 novas notificações de suspeitas de dengue.
Além dessas ainda foram registradas três notificações de Zika Vírus e uma de Chikungunya, que ainda estão passando por processo de avaliação laboratorial para confirmar ou não as suspeitas.
Até o dia 08 de janeiro deste ano já foram notificados 59 casos de dengue e 1 de zika. Nesta semana foi confirmado o primeiro óbito por dengue em Campo Grande de um homem de 30 anos que estava internado em um hospital particular da Capital.
Durante todo o ano de 2019 foram registrados 39.417 casos notificados de dengue em Campo Grande, sendo 19.647 confirmados e oito óbitos.
Apesar dos números expressivos impulsionados pela epidemia do último ano, o mês de dezembro fechou com aproximadamente 45% a menos de casos registrados no ano anterior.
Infestação pelo Aedes
Foi divulgado ontem (14) o LIRAa (Levantamento Rápido de Índices de Infestação pelo Aedes Aegypti), onde pelo menos sete áreas foram classificadas com o risco de surto de doenças transmitidas pelo mosquito.
O número de áreas em alerta praticamente dobrou, em comparação com o último LiRaa divulgado em novembro do ano passado, passando de 22 para 42 áreas. Dezoito áreas permanecem com índices satisfatórios. O índice mais alto foi detectado na área de abrangência da USF Iracy Coelho, com 8,6% de infestação. Isso significa que de 233 imóveis vistoriados, em 20 foram encontrados depósitos. A área da USF Azaleia aparece em segundo com 7,4% de infestação, seguido da USF Jardim Antártica, 5,2%, USF Alves Pereira, 4,8, USF Sírio Libanês, 4,4%, Jardim Noroeste, 4,2% e USF Maria Aparecida Pedrossian (MAPE), 4,0%.