Professor sul-mato-grossense propõe o diálogo para combater a intolerância virtual
Discussões acaloradas, amizades desfeitas e a verdade – aquela comprovada com fatos – assassinada pelo achismo inverídico. O ano de 2018 ficou marcado pela polarização política no Brasil, a primeira eleição da ‘era instantânea’ e com a forte presença das notícias falsas, populares fakes news. O ato do ‘curtir’ e ‘compartilhar’ tornou-se um problema social e o debate a respeito da temática ganhou o nicho literário e filosófico. Uma destas obras que vem chamando a atenção e ganhando leitores foi escrita pelo jornalista e professor de filosofia Ádamo Antonioni, intitulada como ‘Odeio, logo, compartilho – o discurso de ódio nas redes sociais e na política’.
Lançado neste ano de 2019, o livro, ainda apenas na versão e-book, traz um olhar crítico sobre o fanatismo e o extremismo, abordando a importância do diálogo para que as pessoas não caiam em generalizações apressadas e intolerância. É uma obra literária de Filosofia Política, escrita numa linguagem simples e que busca discutir temas que já tomaram conta do dia-a-dia dos brasileiros. Clique aqui para adquirir o livro.
Segundo o autor, o livro parte da polarização politica que se acentuou no Brasil a partir das eleições de 2018. “Ficou muito polarizado entre a esquerda e a direita. As pessoas ficaram cada uma no seu campo político e isso gerou brigas, desavenças, bloqueios nas redes sociais. Eu mesmo passei por isso. Fui vítima de discursos de ódio e intolerância. As pessoas acabaram tomando medidas drásticas como excluir, bloquear ou se afastar daqueles que pensavam de forma diferente”, comentou Ádamo Antonioni, em entrevista ao jornalista André Farinha, do site MS Hoje.
Para o escritor, uma das soluções para evitar que esse fenômeno de ódio se perpetue é o diálogo. “Para que as discussões de ódio não se proliferem, o meu livro traz como caminho a possibilidade do diálogo, de enxergar o outro como o seu semelhante, como um ser igual, e não como inimigo. Na política, as pessoas precisam ver o outro como uma pessoa que pensa diferente, o que não significa ser o meu inimigo. Nessa última campanha tivemos isso, das pessoas não respeitarem a opinião do outro e transfazer dessa opinião um inimigo a ser abatido”.
Da experiência ao livro
Ádamo contou que a ideia para escrever a obra literária surgiu após concluir o mestrado, em 2017, ainda quando morava em Campo Grande. “Essa polarização política me motivou ainda mais. Eu ficava tão intrigado em entender o que estava acontecendo que passei a ler e a pesquisar. Quando me dei conta já havia terminado o primeiro capítulo”, destacou, lembrando que amigos e ex-colegas de trabalho também o incentivaram no projeto.
“O livro parte de uma ideia pessoal, daquilo que eu vivi, mas com uma bagagem teórica, consistente, que faz a ponte entre o conhecimento empírico e teórico”, continuou. “Percebi o fenômeno da intolerância nas redes sociais através das pessoas que eu seguia no Facebook, Twitter e Instagram. Tentava conversar com essas pessoas, mas era recebido com muita hostilidade e eu pensava o porquê delas estarem assim, porque não conseguiam conversar. A partir destas questões comecei a estudar e ler filósofos como Voltaire, Kant, Sócrates e Platão, até formular o meu próprio pensamento e produzir o livro”, completou.
Este é o primeiro livro assinado por Antonioni. Natural da cidade de Rio Brilhante, formado em jornalismo pela Faculdade Estácio de Sá de Campo Grande no ano de 2013 e filosofia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) em 2017, atualmente mora em Curitiba (PR), onde atua como professor e pesquisador nas áreas de filosofia da educação e direitos humanos.
Uma sociedade contrária a Sócrates
No entendimento de Ádamo Antonioni, vivemos numa sociedade que é justamente o contrário do que Sócrates pregava. “Uma sociedade que sabe tudo, basta acessar o Google e já temos a resposta. Só que não é assim. As pessoas precisam ter um pouco mais de dúvida, de suspeita, acabam adquirindo muito fácil o que é transmitido pela internet e os demais meios de comunicação. O meu livro busca semear um pouco do espirito da dúvida sobre essas verdades absolutas que carregamos e que estão muito presentes nas fakes news”, disse.
Conforme ele, o diálogo está ficando no segundo plano. “Cito o Sócrates, um filósofo que valorizava muito o diálogo e que não escreveu absolutamente nada enquanto vivo, ou seja, tudo o que sabemos sobre ele partiu de seus discípulos. A filosofia de Sócrates é uma filosofia ‘falada’. Ele valorizava o fato de ir ao encontro do outro e ter o diálogo, ouvir e prestar atenção no que o outro diz ao ponto de fazer esse outro refletir sobre as suas próprias verdades e convicções. Na famosa frase ‘só sei que nada sei’, Sócrates diz que o maior sábio não é aquele que sabe de tudo, mas aquele que reconhece a sua própria ignorância”.
A perpetuação da polarização política
O livro ‘Odeio, logo, compartilho – o discurso de ódio nas redes sociais e na política’ tem como ponto de partida as eleições presidenciais de 2018 e, conforme o autor, no pleito de 2020 a questão de polarização política pode ser igual ou ainda mais grave. “O homem é um animal político, como diria Aristóteles, e essa divisão entre esquerda e direita, progressistas e conservadores, tem a tendência de que se perpetue”, afirmou.
“Se as pessoas não estiverem abertas ao diálogo podemos ter um nível de hostilidade e violência muito mais alto do que testemunhamos no ano passado”
Antonioni coloca que a internet veio para facilitar a nossa vida, mas se tornou uma faca de dois gumes. “Muitas pessoas usam a internet não para pesquisar algo da qual não sabem, mas algo para confirmar o pré-conceito que já carregam dentro de si. A internet pode facilitar a partir do momento em que descobrimos informações novas e diferentes como também pode possibilitar na perpetuação de fake News e informações confusas que tendem apenas a sabotar a opinião pública, distorcer e manipular pessoas”.
Para ele, devemos saber se comportar nas redes sociais. “Não existe um manual de como as pessoas deveriam se comportar nas redes sociais, mas eu digo que deve ser conforme o dia a dia. Precisa ter o parâmetro ético de pensar se que aquilo que eu compartilho fere ou está machucando o outro. Do contrário, acabaremos nos tornando pessoas muito levianas. Temos sempre que tomar esse cuidado”.
Tempos da pós-verdade
O escritor comentou sobre a discussão do que é a verdade e se estaríamos vivendo uma era de pós-verdade ou mesmo o fim da verdade. “Leonardo Boff diz que todo o ponto de vista é apenas a vista de um ponto. A verdade é relativa, o que pode ser verdadeiro para mim pode não ser para o outro. Mas não podemos esquecer que o nosso discurso, a nossa fala, o nosso ponto de vista tem que se basear nos fatos e evidências. Eu não posso me fundamentar no achismo, num pré-conceito, numa generalização, se não tenho como comprovar”.
Em suas palavras, ele destaca que é importante ter provas concretas daquilo que se comenta para evitar condenações injustas. “Hoje se fala muito em pessoas que foram condenadas com base em convicções e não em provas robustas, e isso é um pouco desse fenômeno de verdades não baseadas em fatos, mas apenas em evidências e convicções pessoais”.
“Nós precisamos saber separar o que é convicção pessoal, aquilo que eu acho que é, daquilo que são fatos baseados em estatísticas e na realidade em si”.
Um livro importante para o debate
Voltando suas atenções para o leitor de um modo geral, Ádamo Antonioni garante que seu livro é importante para todos os públicos, independente da formação escolar ou área de atuação profissional. “Trata-se de um livro com temas que estão na boca do povo. Hoje em dia todo mundo discute o fake News, discurso de ódio e o politicamente correto, mas ninguém tem um conceito formado, ninguém tem uma opinião fundamentada. Esse livro procura aprofundar essas questões numa linguagem simples, popular e de qualidade teórica. Quem ler vai se enriquecer muito, eu garanto”, finalizou.
Serviço: Para maiores informações sobre o livro, contate o autor através de suas redes sociais: Twitter (https://twitter.com/adamoantonioni); Facebook (https://www.facebook.com/adamo.antonioni).