‘Porteiro herói’ age rápido e salva a vida de bebê que estava engasgado com o leite em Campo Grande
Era manhã de quinta-feira, dia 30 de agosto, quando o porteiro Alyson Nunes da Silva, de 23 anos, foi surpreendido pela ligação de uma moradora do primeiro andar da torre 1 do Condomínio Garden Chácara Cachoeira, localizado no bairro Tiradentes, em Campo Grande. Desesperada, a mulher estava com a sua filha, de pouco mais de três meses de vida, sufocada com o leite.
A mulher buscava por ajuda rápida e pediu para que ele acionasse o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) imediatamente. Recém-saído do Exército Brasileiro, o jovem Alyson tinha consigo o conhecimento teórico de como executar a Manobra de Heimlich, técnica essa que é usada por socorristas para desobstruir as vias respiratórias de crianças engasgadas.
De forma muito ágil, o porteiro deixou a recepção do prédio e partiu, às pressas, ao encontro da vítima, que naquela altura já estava acompanhada por outros moradores do condomínio, mas que também não sabiam como proceder. Alyson apanhou o bebê nos seus braços e o colocou de bruços, em seguida, fez compressões no meio das costas. Logo depois, a criança começou a chorar.
“A mãe ligou na portaria pedindo ajuda, estava apavorada e sozinha com a filha e não sabia o que fazer. Na hora, pensei comigo, que até a ambulância chegar levaria certo tempo e então decidi ir ao seu encontro. Quando cheguei, a bebê já estava desfalecida, roxinha. Imediatamente a peguei e passei a fazer a Manobra de Heimlich“, contou para o site MS Hoje, por telefone.
“Logo depois, a bebê deu uma engorfadinha e chorou um pouco, mas no momento em que a coloquei novamente no braço, ela voltou a ficar roxa. Com isso, fiz a Manobra pela segunda vez e tornou a chorar, agora mais forte, e então percebi que já tinha desengasgado e voltado a respirar, recobrando a consciência em seguida”, detalhou o porteiro.
De acordo com o Ministério da Saúde, o engasgo é considerado uma emergência e, em casos graves, pode levar a pessoa à morte por asfixia ou deixá-la inconsciente por um tempo. Sendo assim, agir rapidamente evita complicações.
Com o sucesso do salvamento, Alyson foi reconhecido por todos os condôminos como um verdadeiro herói. “A mãe da criança ficou muito agradecida e, no dia seguinte, todos do condomínio foram me parabenizar”, revelou. O reconhecimento não ficou apenas nas palavras e foi eternizado por meio de um diploma de mérito conferido pelo vereador Marcos Tabosa, da Câmara Municipal.
Trabalhando como porteiro há apenas três meses, Alyson contou que jamais pensou que usaria a Manobra de Heimlich de forma efetiva. Ele aprendeu a técnica ainda nos tempos do quartel. “Uma coisa é você fazer em treinamento e a outra é no momento da emergência. Tenho certeza de que fiz o procedimento correto e deu tudo certoQ”, pontuou.
Para ele, o episódio será inesquecível. “Naquele dia, pensei que teria apenas mais uma manhã tranquila de trabalho, jamais pensei que fosse acontecer uma situação como aquela. Me sinto lisonjeado e agradecido por ter ajudado a salvar a bebê”, finalizou o jovem herói.
A importância de ter um profissional preparado na portaria
A situação vivida pelo porteiro Alyson não é inédita em prédios e residenciais fechados de Campo Grande e serve também como alerta para síndicos e demais pessoas ou organizações que são responsáveis pela manutenção e a segurança destes empreendimentos. Ao longo dos últimos anos, cresceu o número de adeptos aos chamados porteiros eletrônico e/ou virtual.
No caso da portaria virtual (ou remota), a tecnologia busca substituir as funções de um porteiro tradicional por um sistema integrado, onde o monitoramento é feito à distância, ou seja, sem a presença física do profissional na cabine de portaria. Através de câmeras de vídeo e áudio, o atendente é quem faz o controle de acesso de moradores, liberação de visitantes e demais serviços.
Embora a modernidade seja prática, também traz pontos negativos que devem ser colocadas em discussão na hora do condomínio tomar a decisão final sobre o futuro de sua portaria. Para o empresário Silvério Pereira da Cruz, proprietário da Alpha Serviços Especializados, de Campo Grande, uma pessoa física sempre deve estar disponível em um conjunto residencial.
“Nós temos muitos condomínios que estão optando por usar a portaria remota e que muitas vezes a central sequer fica na mesma cidade do prédio. A tecnologia tem que auxiliar a ação humana e não tirar a sua função. Existem situações de urgência em que, até o porteiro remoto agir, acabam se agravando, como um morador ficar preso no elevador ou cair da escada”, comentou o empresário.
Ele cita como exemplo o fato protagonizado pelo porteiro Alyson, que é um dos colaboradores de sua empresa. “A portaria sempre tem que ter uma pessoa física, pois um porteiro eletrônico ou remoto está sujeito a falhas. Acredito que uma pessoa bem preparada, tendo os conhecimentos necessários, dá mais resultado aos moradores do que um sistema digital”.
Silvério complementa que o tempo de espera para situações de urgência ou emergência é um fator determinante. “Poderia ter sido um idoso, adulto ou, como aconteceu, uma criança, então, é importante termos uma portaria presencial. Em uma situação como essa que ocorreu, o tempo de espera para chegada do socorro é de cerca de 20 minutos, é um risco muito grande. Ter uma pessoa preparada faz toda a diferença sim”, finalizou o empresário.