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Medidas contra o coronavírus levam deputados de MS a trocarem farpas

O jogo de interesses políticos levou dois deputados federais sul-mato-grossenses a trocarem farpas através das redes sociais. O conflito entre as partes aconteceu nessa sexta-feira (27) e começou após Luiz Ovando (PSL) publicar um vídeo defendendo o fim da quarentena, uma das medidas adotadas para prevenir o avanço do novo coronavírus no país. Vander Loubet (PT) rebateu a posição do colega e compartilhou uma carta aberta no qual crítica as ‘equivocadas posições’.

No vídeo, Ovando diz concordar com o posicionamento do presidente da República, Jair Bolsonaro (Sem Partido), que vem criticando as medidas tomadas pelo seu próprio ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que visam diminuir o avanço do vírus. O novo coronavírus já matou mais de 18 mil pessoas em todo o mundo, 77 só no Brasil, que ainda está no inicio da pandemia.

Bolsonaro quer que os serviços públicos, comércios, escolas e demais atividades que foram suspensas sejam retomadas para evitar uma eventual crise econômica. Entretanto, Mandetta e demais autoridades da área da saúde pública brasileira e mundial recomendam o sistema de isolamento, tendo em vista que é a medida mais eficaz para evitar o crescimento do vírus.

Fiel ao presidente, aliás, foi eleito para o cargo através do chamado ‘efeito Bolsonaro’, o deputado federal Luiz Ovando fez um vídeo manifestando suas considerações favoráveis ao fim do isolamento e a retomada da rotina. Segundo ele, que é médico cardiologista, o isolamento social prejudica a atividade econômica. O parlamentar também subestimou a doença.

“As coisas devem voltar ao normal, se todos nós voltarmos em termos de atividade econômica. Os anticorpos surgem de forma eficaz após 10 a 15 dias, essa será a forma mais eficiente de contenção e evolução da doença, não esse isolamento que vai retardar puro e simplesmente”, citou ele.

Veja o vídeo completo:

https://www.facebook.com/drluizovando/videos/818625388646306/

Em resposta ao vídeo postado pelo colega, o deputado federal Vander Loubet publicou em seu site oficial uma carta aberta endereçada ao próprio Luiz Ovando onde diverge de suas conclusões. No texto, o petista diz que o presidente Jair Bolsonaro é o ‘pai’ da histeria provocada pelo novo coronavírus.

“[…] Se há uma histeria coletiva acerca da Covid-19 (o que pessoalmente não acredito) o seu pai chama-se JAIR BOLSONARO e não a mídia nacional ou os governadores e os prefeitos das capitais”, escreveu o deputado, acrescentando ainda que ao mudar o discurso o presidente “alimenta mais ainda a sua aludida histeria, pois se cria uma confusão na população mais vulnerável acerca da convicção das autoridades em como enfrentar a crise sanitária e econômica que já nos encontramos”.

Vander também coloca que o presidente Bolsonaro deveria assumir a sua posição de líder e e liderar um pacto social para unificar as medidas sanitárias e econômicas que o país necessita. “Romper o isolamento social, como quer o presidente Bolsonaro, sem um consenso mínimo das autoridades sanitárias do País, é um ato de insanidade de quem somente pensa em sua reeleição em 2022”, disse.

Leia a carta aberta escrita pelo deputado Vander Loubet:

Caro colega Luiz Ovando,

Assisti atentamente ao seu vídeo, postado em redes sociais, defendendo as equivocadas posições do presidente Bolsonaro no pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, em especial de que a pandemia do Covid-19 é uma “histeria” criada pela mídia e por alguns governadores e prefeitos.

Fraternalmente, quero divergir das conclusões postadas no seu vídeo, pois os fatos pretéritos ao pronunciamento de Bolsonaro me levam a uma única conclusão: SE HÁ UMA HISTERIA COLETIVA NO MEIO DO POVO BRASILEIRO, BOLSONARO É SEU PAI E PRINCIPAL MANTENEDOR.

Explico: quando a crise eclodiu, Bolsonaro relutou em repatriar os brasileiros que estavam na China, no final de janeiro deste ano. Após os brasileiros divulgarem vídeos em redes sociais, Bolsonaro recuou dizendo que precisava de uma lei de QUARENTENA.

Bolsonaro enviou e o Congresso aprovou rapidamente a Lei 13.979/2020, que prevê ISOLAMENTO e QUARENTENA. Em 2 de fevereiro, Bolsonaro anunciou pessoalmente a REPATRIAÇÃO DOS BRASILEIROS, desde que não estivessem CONTAMINADOS pela Covid-19.

A partir daí, o governo Bolsonaro organizou e divulgou AMPLAMENTE uma verdadeira operação de guerra para a referida repatriação. Foi anunciado que os repatriados deveriam ficar em ISOLAMENTO por 21 dias numa base militar de ANÁPOLIS.

As pessoas que iriam participar da repatriação deveriam fazer uso de diversos equipamentos de segurança, inclusive também ficando em isolamento após o retorno da China.

A partir desta operação de guerra para repatriar os brasileiros, AMPLAMENTE DIVULGADA e reverberada pelo governo Bolsonaro, se criou no imaginário coletivo brasileiro a ideia de que estávamos diante de uma grave doença e não apenas de uma “gripezinha” ou “resfriadinho”.

As imagens dos militares mascarados e vestidos da cabeça aos pés com aquelas roupas amarelas deram um sinal claro à população de um quadro de infecção grave.

As coletivas do Ministro da Saúde do governo Bolsonaro sempre foram uníssonas nos seguintes pontos:

  1. A pandemia é grave;
  2. A rede de saúde do País entraria em colapso com o número de atendimentos de contaminados em curto de espaço de tempo;
  3. O isolamento social é o melhor instrumento de, já que iria achatar a CURVA DE CONTAMINAÇÃO, dando assim condições para o sistema de saúde tratar adequadamente dos infectados.

Sendo assim se há uma histeria coletiva acerca da Covid-19 (o que pessoalmente não acredito) o seu pai chama-se JAIR BOLSONARO e não a mídia nacional ou os governadores e os prefeitos das capitais.

E mais: ao mudar de discurso acerca da gravidade da PANDEMIA DO COVID-19, desautorizando as orientações do Ministério da Saúde, Bolsonaro alimenta mais ainda a sua aludida histeria, pois se cria uma confusão na população mais vulnerável acerca da convicção das autoridades em como enfrentar a crise sanitária e econômica que já nos encontramos.

Não acredito que exterminando o isolamento social, recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a economia voltará ao seu curso normal. Não acredito que a população irá às compras se o comércio abrir neste atual quadro de contaminação. O que veremos é lojas vazias com empregados apavorados de serem vítimas da Covid-19 ao utilizarem os meios de transporte urbanos, invariavelmente lotados.

Indago: onde as mães trabalhadoras deixarão seus filhos enquanto vão ao trabalho, já que as escolas, inclusive as privadas, ao que tudo indica, continuarão fechadas? Aqui lembro da repetida recomendação do ministro da Saúde: não deixem as crianças com os idosos.

O presidente Bolsonaro deveria assumir sua posição de líder, chamar as forças vivas que representam patrões, empregados, servidores, Congresso, partidos, igrejas, governadores, prefeitos das capitais e autoridades públicas da saúde e economia, liderando um pacto social para unificar as medidas sanitárias e econômicas que o Brasil tanto necessita neste momento grave que nossa geração está vivenciando.

Na quinta-feira (26), aprovamos na Câmara dos Deputados o auxílio emergencial de R$ 600 a R$ 1.200 para uma série de famílias que estão sofrendo os efeitos econômicos causados pela pandemia. De forma unificada, coesa e responsável, situação e oposição dialogaram e discutiram, chegando a um consenso e permitindo que a proposta fosse aprovada. Esse é o caminho para que possamos ajudar a população, especialmente a de baixa renda, a superar este momento difícil.

Romper o isolamento social, como quer o presidente Bolsonaro, sem um consenso mínimo das autoridades sanitárias do País, é um ato de insanidade de quem somente pensa em sua reeleição em 2022.

Encerro, caro colega, não acreditando que chamar o povo para a desobediência civil e carreatas de abastados seja a solução para superarmos a crise, que ao final atingirá a população mais pobre e carente.

Infelizmente, até o pronunciamento de Bolsonaro, a nossa crise se chamava Covid-19, mas hoje está acrescida de um segundo elemento, mais perigoso e danoso ao povo brasileiro: o despreparo e a irresponsabilidade de Jair Bolsonaro na condição de presidente da República.

VANDER LOUBET
Deputado Federal

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