Luccas Abagge, filho de envolvida no Evandro, é morto durante confronto com a polícia em MS
Luccas Abagge, de 32 anos, foi morto na tarde deste sábado (10) durante um confronto com policiais do Serviço de Investigações Gerais (SIG) de Dourados, em Mato Grosso do Sul. Luccas estava foragido do presídio de Segurança Máxima de Dourados desde o dia 3 de setembro.
A policia informou que Luccas teria sido flagrado comento um furto e atirado contra as autoridades. As circunstâncias da morte não foram esclarecidas pela polícia até o momento.
Abagge foi preso em Mato Grosso do Sul no dia 18 de junho deste ano ao entrar no Brasil por Ponta Porã, fronteira com o Paraguai, utilizando documentos falsos com o nome de Evandro Oliveira Ribeiro.
Condenado a mais de 80 anos por dois homicídios no Paraná, Luccas Abagge é filho de Beatriz Abagge, uma das pessoas envolvidas no caso do menino Evandro Ramos Caetano, em Guaratuba (PR).
Beatriz Abagge, que chegou a ser condenada pela morte do menino Evandro Ramos Caetano, em Guaratuba, no litoral do Paraná, recebeu um pedido oficial de desculpa do Governo do Panará. O Estado definiu como “sevícias indesculpáveis” as acusações sofridas por ela à época da investigação do caso.
Fuga
Luccas Abagge, fugiu da penitenciária estadual de Dourados (MS) na madrugada de sábado (3).
Segundo a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), ele utilizou uma corda artesanal, chamada de “tereza” para escapar da unidade penal, que é considerada de segurança máxima.
‘Marco histórico’
Em dezembro, a defesa de Beatriz Abagge e outros condenados protocolou um pedido de revisão criminal das condenações deles três pela morte da criança.
O documento apresenta um parecer que, segundo a defesa, atesta a veracidade das gravações que apontam que houve tortura dos então suspeitos durante a investigação, na década de 1990, para que eles confessassem o crime.
Após ser descondenada pelo crime, Beatriz recebeu um pedido oficial de desculpa do Governo do Panará.
“Eu considero esse pedido um marco histórico. O Ministério Público precisa parar de agir como acusador, ele tem que agir como defensor do povo, de nós, afinal de contas a prova da tortura está aí para todos verem”, disse ela, em entrevista ao g1.
O documento foi assinado pelo secretário estadual de Justiça, Trabalho e Família, Ney Leprevost, com data de 4 de janeiro.
“Expresso meu veemente repúdio ao uso da máquina estatal para prática de qualquer tipo violência, e neste caso em especial contra o ser humano para obtenção de confissões e diante disto, é que peço, em nome do Estado do Paraná, perdão pelas sevícias indesculpáveis cometidas no passado contra a senhora”, cita trecho da carta.
Na carta, o secretário ainda afirma que após assistir a série Caso Evandro, da Globoplay, e também ter acesso ao relatório do grupo de estudo criado pela Secretaria de Justiça para identificar falhas no processo e investigação, ele teve convicção pessoal de que Beatriz e “outros condenados no caso foram vítimas de torturas gravíssimas”.
O caso Evandro
A história de uma criança assassinada, sete acusados e um ritual macabro que ganhou notoriedade por todo o país. Há quase 30 anos, Evandro Ramos Caetano, na época com seis anos, desapareceu no trajeto entre a casa e a escola, em Guaratuba, no litoral do Paraná.
Cinco dias depois, um corpo foi encontrado em um matagal sem os órgãos e com mãos e dedos dos pés cortados. À época, a cidade ainda vivia a comoção pelo desaparecimento de outro menino, Leandro Bossi, que havia sumido dois meses antes e nunca mais foi encontrado.
Celina e Beatriz Abagge, esposa e filha do então prefeito da cidade, Aldo Abagge, que foram as principais acusadas de encomendar a morte de Evandro em um ritual religioso. Por causa disso, o caso também ficou popularmente conhecido como “As Bruxas de Guaratuba”.
Elas chegaram a confessar o crime, mas depois alegaram que tinham sido torturadas pela polícia para admitir o ritual.
Desaparecimento
O menino Evandro desapareceu em 6 de abril de 1992. Ele estava com a mãe, Maria Caetano, funcionária de uma escola municipal de Guaratuba, e disse a ela que iria voltar para casa após perceber que havia esquecido o mini-game. Contudo, a espera se tornou interminável, pois ele nunca mais voltou.
A década de 90 foi marcada por uma espécie de “surto” de crianças desaparecidas na região e, com mais esse garoto sumido e depois supostamente encontrado morto, o medo se instaurou na cidade e em todo o estado.
Após um corpo ser encontrado em um matagal do dia 11 de abril de 1992, o pai de Evandro, Ademir Caetano, afirmou à época no Instituto Médico-Legal (IML) de Paranaguá ter reconhecido o filho, por meio de uma pequena marca de nascença nas costas.
O corpo foi encontrado por lenhadores que passavam pela região e perceberam a presença de urubus. Conforme informações da época, ele estava sem o couro cabeludo, olhos, pele do rosto, partes dos dedos dos pés, mãos, com o ventre aberto e sem os órgãos internos.
Próximo ao corpo, foram encontradas as chaves de casa do menino. Alguns dias depois, próximo ao local onde esse corpo foi localizado, as equipes encontraram um par de chinelos quase limpos, possivelmente do garoto. Porém, um dos chinelos foi perdido durante o colhimento das provas.
Investigação paralela
Na época, o grupo Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial (Tigre) da Polícia Civil foi enviado para Guaratuba.
Um primo de Evandro, Diógenes Caetano dos Santos Filho, começou a fazer investigações paralelas. Ele havia trabalhado por um ano como policial militar e dez anos como investigador da Polícia Civil.
O pai dele, Diógenes Caetano dos Santos, foi prefeito de Guaratuba entre 1973 e 1976 e era rival político de Aldo Abagge. Durante muito tempo, Diógenes foi porta-voz da família Caetano na imprensa e era chamado como “tio” do garoto.
Dois meses depois do crime, Diógenes Caetano apresentou ao Ministério Público do Paraná (MP-PR) o dossiê de “magia negra”, acusando, entre outros, o pai de santo Osvaldo Marcineiro e a então primeira dama Celina Abagge.
À época, acreditava-se que o ritual tinha sido feito com o objetivo “abrir os caminhos” da fortuna e da política para a família Abagge.
Sete acusados
A Polícia Militar (PM) entrou no caso com a Ação de Grupo Unido de Inteligência e Ataque, chamado Grupo Águia, ou P2. Em um mês de investigações, eles apontaram sete culpados:
- Celina Abagge, então primeira dama do município;
- Beatriz Abagge, filha do prefeito;
- Osvaldo Marcineiro, jogador de búzios, pai de santo;
- Vicente de Paula Ferreira, colega/ajudante de Marcineiro;
- Davi dos Santos Soares, artesão de Guaratuba;
- Francisco Sergio Cristofolini, vizinho e dono do imóvel onde Marcineiro morava;
- Airton Bardelli, funcionário da serraria da família Abagge.
Cinco deles confessaram o crime – Beatriz, Celina, Osvaldo, Vicente e Davi – alguns em fitas de áudio, outros em vídeo. Essas fitas, editadas, embasaram o processo do caso.
Osvaldo Marcineiro e Davi dos Santos foram presos em 1º de julho de 1992. Celina, Beatriz e Vicente de Paula, no dia seguinte. Francisco Sérgio Cristofolini e Airton Bardelli, que sempre negaram estarem envolvidos, foram presos no dia 3 de julho.
Quem determinou as prisões foi a então juíza de Guaratuba, Anésia Edith Kowalski, e quem realizou essas prisões não foi o Grupo Tigre, responsável pelo caso, e sim o Grupo Águia – comandado pelo então capitão da PM, Valdir Copetti Neves.
A casa da família do prefeito Aldo Abagge chegou a ser apedrejada pela população, que estava revoltada com a confissão do crime bárbaro. A imprensa de todo o país acompanhava cada etapa nova sobre o caso.
Confissões sob tortura
Tempo depois houve uma reviravolta na história, quando os acusados alegaram que tinham sido torturados pela Polícia Militar para confessar o ritual contra o menino Evandro. Beatriz e Celina contaram que foram levadas, encapuzadas, de carro para uma casa.
Julgamentos
Desde os anos 1990, caso teve cinco julgamentos diferentes. Um dos tribunais do júri, realizado em 1998, foi o mais longo da história do judiciário brasileiro, com 34 dias.
Na época, as Beatriz e Celina Abagge, mãe dela, foram inocentadas porque não houve a comprovação de que o corpo encontrado era do menino Evandro.
O Ministério Público recorreu e um novo júri foi realizado em 2011. Beatriz, a filha, foi condenada a 21 anos de prisão. A mãe não foi julgada porque, como ela tinha mais de 70 anos, o crime já tinha prescrito.
Os pais de santo, Osvaldo Marcineiro, Davi dos Santos Soares e Vicente de Paula, também foram condenados, na época, pelo sequestro e homicídio do garoto.
* Por G1 MS