Jamil Name, filho e mais 5 viram réus pela morte de estudante com tiros de fuzil
Os empresários Jamil Name e seu filho, Jamil Name Filho, o Jamilzinho, e outros cinco acusados viraram réus por envolvimento no assassinato do estudante de direito Matheus Coutinho Xavier, de 19 anos. O juiz da 2ª Vara do Tribunal do Juri de Campo Grande, Aluizio Pereira dos Santos, aceitou nesta terça-feira (17) a denúncia contra os sete e definiu que nos dias 2 e 3 de março de 2020 serão ouvidas as testemunhas de acusação do processo.
O advogado de Jamilzinho, Fábio Gregório, diz que a denúncia é uma estratégia dos acusadores. “Fazerem denúncias sucessivas, sem conteúdo significativo, num autêntico lawfare, contra Jaime Name Filho e seu pai. As provas não são robustas e é mais um capítulo de um farsa jurídica e policial que será desmontada com a verdade dos fatos”.
Jamil e Jamilzinho são suspeitos de chefiarem a suposta milícia do jogo do bicho que agia em Mato Grosso do Sul. A organização criminosa, conforme a força-tarefa que investiga a atuação do grupo, tinha como alvo o pai do jovem, o capitão da reserva da PM, Paulo Roberto Xavier, e acabou matando o adolescente por engano.
O inquérito pela morte do estudante foi encaminhado a 2ª Vara do Tribunal de Justiça na sexta-feira (13). Na decisão desta terça, em que recebeu a denúncia, o juiz, apesar da gravidade dos crimes atribuídos aos acusados, abre mão da prerrogativa de invocar um colegiado da Justiça para conduzir o processo e o julgamento.
“O risco na condução desta ação penal ora recebida é tanto quanto a de qualquer outro dos processos acima mencionados, sendo encargo ordinário e inerente da profissão de qualquer operador do direito que se dedica a árdua missão de investigar, acusar e julgar, razão pela qual o tratamento jurídico-processual-penal deve ser idêntico, sem qualquer singularidade”, destacou o juiz.
Esse é o quarto processo em que integrantes da suposta milícia viram réus, o primeiro por homicídio.
Além de pai e filho também foram denunciados por envolvimento no crime outros cinco suspeitos de integrarem a milícia: o policial civil aposentado Vladenilson Daniel Olmedo, que seria um dos gerentes do grupo; do ex-guarda civil Marcelo Rios, outro gerente e encarregado da guarda do arsenal da milícia; de Eurico dos Santos Mota, hacker contratado para monitorar o capitão da reserva da PM Paulo Roberto Xavier, e dos dois homens que teriam participado diretamente do assassinato, os ex-guardas municipais José Moreira Freires,o Zezinho, e Juanil Mirana Lima.
Os sete foram denunciados por homicídio qualificado. Todos com exceção do hacker também foram denunciados por porte de arma, no caso, as que foram usadas no crime e ainda por receptação, já que o carro utilizado no homicídio era furtado. Agora a Justiça vai decidir se aceita ou não a denúncia contra o grupo.
Além da denúncia, assinada por três promotores o documento ainda cita oito testemunhas na acusação por homicídio qualificado, quatro pelo porte de arma , duas pela receptação e indica ainda um informante.
Matheus foi assassinado no dia 9 de abril deste ano, com tiros de fuzil AK-47, no bairro Jardim Bela Vista, em Campo Grande, quando manobrava a caminhonete do pai.
No dia 26 de novembro o juiz da 2ª Vara Criminal de Campo Grande, Aluizio Pereira dos Santos, já havia decretado a prisão preventiva dos sete por esse homicídio.
Jamil Name e Jamilzinho estão presos desde o fim de setembro por conta de suspeitas de envolvimento com outros crimes relacionados a suposta milícia. Atualmente os dois estão no presídio federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
Em relação aos outros suspeitos, Vladenilson foi preso também no fim de setembro e está no presídio federal de Mossoró. Marcelo Rios está preso desde o dia 19 de maio deste ano. Foi ele, inclusive, que levou a polícia ao arsenal da suposta milícia, que estava escondido em uma casa da família Name, no bairro Monte Libano. Atualmente está no presídio federal de Campo Grande.
Eurico foi preso no dia 20 de novembro, em Joinville, Santa Catarina e está na carceragem da Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco e Resgate a Assaltos e Seqüestros (Garras), em Campo Grande. Já José Moreira Freires e Juanil Mirana Lima estão foragidos.
O advogado Renê Siufi, que defende Jamil Name, vem reiteradamente dizendo que seu cliente nega todas as acusações.
Na época do pedido de prisão preventiva, o advogado Alexandre Padilhas, que representa o policial civil aposentado Vladenilson Olmedo disse que tomaria conhecimento das acusações para se pronunciar em outro momento.
Já o advogado Alexandre Franzoloso, do escritório que representa Marcelo Rios, disse no mesmo período que se manifestaria apenas em juízo e afirmou que seu cliente não tem envolvimento no homicídio de Matheus.
Para a força-tarefa, a organização criminosa é responsável por encomendar pelo menos outros dois homicídios em Campo Grande além da morte do estudante.
Com base nas investigações e em depoimentos, a força-tarefa aponta que uma das execuções que teria sido cometida pela milícia seria a de Ilson de Figueiredo, de 62 anos, que era chefe de segurança da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul. Ele foi assassinado no dia 11 de junho de 2018, na avenida Guaicurus, no Jardim Itamaracá. Seu carro foi perseguido e ele foi morto a tiros por suspeitos que estavam em outro carro.
Conforme a força-tarefa, Figueiredo foi morto porque teria tido participação no homicídio do filho de uma pessoa muito próxima Jamil Name e Jamilzinho.
Em uma conta na nuvem da internet, de um dos suspeitos presos na operação Omertá, que desarticulou o grupo, a polícia encontrou, inclusive, 26 fotografias da execução de Figueiredo.
Outra execução que teria sido cometida pela milícia, conforme a representação à Justiça, foi a de Orlando da Silva Fernandes, em 26 de outubro de 2018. Ele foi segurança do narcotraficante Jorge Rafaat, executado em junho de 2016, em Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Brasil.
Fernandes, que teria ligação com Figueiredo, foi morto no Jardim Autonomista, bairro nobre de Campo Grande, quando estava caminhando em direção ao seu carro. Os tiros atingiram principalmente a sua cabeça. Na carteira da vítima foi encontrado um cheque no valor de R$ 240 mil e ainda R$ 1,2 mil em dinheiro.
Hacker conta detalhes da morte do estudante
Em depoimento na sexta-feira (22), no Garras, o hacker Eurico dos Santos Mota revelou detalhes da morte do estudante de direito. Disse que foi contratado por Juanil e Zezinho, para monitorar pelo celular Paulo Roberto Xavier.
Revelou que como não sabia fazer o “serviço”, terceirizou, por meio de um grupo de hackers e repassou as informações obtidas aos dois ex-guardas municipais. Relatou que não sabia do verdadeiro objetivo da dupla, que alegava que queria localizar Paulo Roberto Xavier para cobrar uma dívida, mas que no dia seguinte ao crime, ao saber pela mídia que o assassinato do estudante ocorreu no mesmo endereço fornecido a Juanil e Zezinho, chegou a conclusão de eles planejavam matar na verdade o militar da reserva.
Informou ainda que após o crime passou a ser visitando regularmente por Juanil e Zezinho, que passaram a pressioná-lo para que não falasse nada sobre o assunto. Disse que em uma dessas visitas, Juanil confirmou a ele que Zezinho tinha sido o autor dos disparos que mataram o estudante de direito enquanto ele dirigia o caso usado na fuga.
Relatou que após prestar depoimento sobre o caso na Delegacia Especializada de Homicídios (DEH), fugiu para Rondonópolis, em Mato Grosso, onde acabou sendo localizado por Juanil, e que depois viajou para Joinville, em Santa Catarina, onde acabou sendo preso.
Motivação do crime
Segundo relatório do Garras, o policial militar aposentado Paulo Roberto Xavier era o verdadeiro alvo da organização criminosa na execução que resultou na morte do seu filho.
A investigação aponta que o homem apontado como chefe da organização criminosa, o empresário Jamil Name, acreditava que Paulo Roberto Xavier tinha se aliado a um advogado, com quem ele tinha tido um desacordo em negociação de fazendas que pertenceram ao reverendo Moon localizadas em Jardim e em Campo Grande.
Por conta do revez nos negócios, Jamil Name, conforme o relatório da polícia, teria dado ordem para matar o advogado, a esposa dele e seu filho, além do ex-policial militar.
O advogado de defesa da família Name, Renê Siufi, disse ao G1 que as acusações de que seus clientes lideram a organização criminosa é uma “piada” e que está sendo apresentada somente a versão do Ministério Público. Disse que em juízo, Jamil Name e Jamil Name Filho, apresentarão os esclarecimentos necessários.
Em relação a acusação de que Jamil Name teria dado a ordem para matar o ex-policial militar Paulo Roberto Xavier, disse que não sabe nada a respeito e que seus clientes negam qualquer envolvimento com esse e outros crimes.
Paulo Roberto Xavier, de acordo com a investigação, já era conhecido da família Name. Ele tinha, inclusive, trabalhado como segurança do segundo homem na hierarquia do grupo criminoso, Jamil Name Filho. Foi o ex-policial militar que presenciou a briga entre ‘Guri’, como era conhecido Name Filho, e o empresário Marcelo Colombo, o ‘Playboy’, em uma boate em Campo Grande, em 2013.
Testemunhas e investigados relataram à polícia, que por conta dessa briga, que começou porque Colombo pegou um pedaço de gelo no balde de bebidas de Name Filho, e terminou com ‘Playboy’ empurrando o rosto de ‘Guri’, teria sido dado a ordem de execução do empresário. Colombo foi morto no dia 18 de outubro de 2018, em um bar em Campo Grande.
Mesmo com a prestação de serviço para os Name, a investigação do Garras, aponta que o ex-policial militar entrou na alça de mira da família.
“Solidariedade” da milícia
Paulo Roberto Xavier disse durante a investigação, que no dia seguinte a morte do seu filho foi procurado por um policial civil, que trabalharia também para a família Name. Esse intermediário disse que Jamil Filho queria conversar ele.
No encontro, de acordo com a investigação, Guri disse ao ex-policial que iria ampará-lo. Que daria apoio para que ele saísse da cidade e procurasse um local seguro. Disse ainda que iria ajudar o pai do estudante com uma mesada, todos os meses. Orientou ainda que o Paulo Roberto Xavier ficasse fora da cidade por pelo menos dois anos e que depois poderia voltar.
O pai do jovem morto disse que achou estranho, porque já há algum tempo não falava com a família e, à princípio, diz no relato aos investigadores, que não suspeitou que o grupo pudesse ter relação com a morte do seu filho. Somente depois, ele disse que começou a ligar os fatos e concluiu que eles tinham envolvimento no crime.
Segundo os investigadores, a morte por engano também foi sentida dentro da organização. Uma testemunha relatou que o guarda municipal Marcelo Rios, que seria o responsável por contratar os executores “ficou desesperado” na semana do crime. Não dormia, não comia e chegou a falar que a “cabeça dele iria rolar”.
Rios foi preso um mês depois do assassinato do estudante, no dia 19 de maio, em uma casa da família Name no Jardim Monte Líbano, com um arsenal. Foram apreendidos 18 fuzis de calibre 762 e 556, espingarda de calibre 12, carabina de calibre 22, além de 33 carregadores e quase 700 munições.
*Por G1 MS