Issac de Oliveira, maior retratista do Pantanal, morre aos 66 anos
A Primavera começou sem cor em Mato Grosso do Sul, não por causa do tempo seco, mas em sinal de luto diante da morte daquele que foi o maior retratista da flora e fauna pantaneira. O artista plástico Issac de Olivera, de 66 anos, surpreendeu seu público mais uma vez, desta vez de uma forma que ninguém gostaria. Faleceu assim, entre o anoitecer e o amanhecer, como numa poesia, igualmente aos seus trabalhos artísticos.
O artista faleceu na madrugada desta segunda-feira (23), vítima de um câncer no pulmão com o qual vinha lutado desde 2016. Segundo relatos de familiares, ele passou mal por volta das 06 horas, em sua casa, e foi levado para o Hospital da Unimed, em Campo Grande, mas não resistiu e morreu. O velório será a partir de 14 horas em local ainda não confirmado.
Tons de ‘Isaac’, cores ‘de Oliveira’
O homem que não tinha medo da cor, dono de um estilo próprio e que esbanjava simpatia. Issac de Oliveira chegou por aqui junto da divisão do Estado, vindo da cidade baiana de Ilhéus, mais precisamente do distrito de Itajuípe. Publicitário de formação, encontrou nas telas da pintura a carreira que levaria para sempre e achou no Pantanal Sul-mato-grossense todo o tipo de inspiração possível. Foram mais de 800 trabalhos criados pelo artista.
A carreira como pintor se acentuou em 1987, na época, o consumo de arte era muito limitado. “Não se vendia quadro, ficava naquela coisa entre parentes. Eu tinha uma arte mais profissional, queria vender essa arte dentro dos padrões mundiais, então a partir de 87 minha produção começou a aumentar e a demanda também. Comecei pintando pássaros porque o cotidiano me cercava de pássaros, ia muito ao Pantanal, gostava de pescar, com isso comecei a fazer peixes, depois passei a observar a flora, em seguida frutas e verduras”, disse ele para este jornalista que vos escreve, numa entrevista datada de dezembro de 2013.
“Sou um artista tropical, tenho pintado Bromélias, Iris, que são flores existentes em todo o país. Talvez por isso, fora de Mato Grosso do Sul sou reconhecido como artista tropical, mas aqui dentro sou um artista regional”, frisou ele, soltando sorrisos.
Issac tinha como seu maior desejo poder viver da arte. “Quero pintar bastante, quero que a arte me sustente na velhice com dignidade, não mais do que isso. Essa coisa de você virar um grande artista não se planeja, o reconhecimento da arte não está ligado à vida do artista, você pode morrer hoje e daqui 100 anos te descobrirem e dizer ‘nossa, olha o que ele fez, como era bom essa cara’”, comentou.