‘Fui vítima da maior mentira jurídica contada em 500 anos’, afirma Lula
“Eu sei que fui vítima da maior mentira jurídica contada em 500 anos de História”, disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta quarta-feira (10), após o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), anular suas condenações na Lava Jato por entender que a 13ª Vara de Curitiba não tinha competência para analisar os casos.
“Antes de eu ir [para a prisão], nós tínhamos escrito um livro, e eu fui a pessoa dei a palavra final no título do livro que é ‘A verdade vencerá’. Eu tinha tanta confiança e tanta consciência do que estava acontecendo no Brasil que eu tinha certeza que esse dia chegaria, e ele chegou”, afirmou Lula no Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.
Durante um discurso que durou 1 hora e 23 minutos, o ex-presidente disse ter razão para ter “muitas e profundas mágoas”, mas que não as tem, e relacionou seu caso ao sofrimento da população mais pobre durante a pandemia.
Na última segunda-feira (8), o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, anulou todas as condenações do ex-presidente pela Justiça Federal no Paraná relacionadas à Operação Lava Jato. Com a decisão, o ex-presidente Lula recuperou os direitos políticos e voltou a ser elegível.
Fachin aceitou o argumento da defesa de que essas denúncias não estariam diretamente ligadas a desvios na Petrobras, e determinou o envio dos processos para a Justiça Federal do Distrito Federal.
Lula agradeceu a Fachin e disse que a decisão do ministro reconheceu que nunca houve crime cometido contra ele ou envolvimento dele com a Petrobras. No entanto, a decisão do ministro foi apenas processual: ele avaliou quem tinha competência para analisar o tipo de denúncia proposta. Fachin não analisou se Lula é culpado ou inocente.
“O processo vai continuar, tudo bem, eu já fui absolvido de todos os processos fora de Curitiba, mas nós vamos continuar brigando para que o Moro seja considerado suspeito, porque ele não tem o direito de se transformar no maior mentiroso da história do Brasil e ser considerado herói por aqueles que queriam me culpar. Deus de barro não dura muito tempo.”
Na decisão de segunda, o ministro Edson Fachin extinguiu 14 processos que questionavam se o então juiz Sergio Moro agiu com parcialidade ao condenar Lula. A Segunda Turma do Supremo voltou a analisar essa questão nesta terça-feira (9), mas ainda não concluiu.
O ex-presidente Lula chamou a força-tarefa da Lava Jato de “quadrilha” e disse que ela tinha uma obsessão por condená-lo porque queria criar um partido político. O petista afirmou que a operação “desapareceu” da sua vida.
Procurados, Sergio Moro e o Ministério Público Federal no Paraná afirmaram que não vão comentar o discurso de Lula.
Defesa de vacina e críticas a Bolsonaro
Lula, que estava de máscara no evento, retirou a proteção para discursar. Ele disse que fez isso após consultar médico e por estar a mais de 2 metros distante de outras pessoas.
O ex-presidente prestou solidariedade às famílias que perderam pessoas para a Covid-19 e aos que estão desempregados.
Lula chamou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de “fanfarrão” e criticou a forma como ele está conduzindo o país. Afirmou que o Brasil “não tem governo”, que a população precisa de emprego e não de armas, e defendeu a vacinação e as medidas de isolamento social – Bolsonaro tem adotado medidas para facilitar o acesso a armas, é um crítico das restrições de circulação e resistiu a comprar vacinas contra o coronavírus.
Lula também disse que quer dialogar com empresários e criticou o ministro da Economia, Paulo Guedes. “Você já viu o Guedes falar uma palavra de desenvolvimento econômico e distribuição de renda? Não, é vender… Agora, quando eles venderem e gastam o dinheiro em custeio, o país vai estar mais pobre. O PIB não vai crescer e a dívida vai continuar crescendo. […] O que vai fazer nossa dívida diminuir em relação ao PIB é o crescimento econômico, é o investimento público. […] Se não Estado não confia na sua política e não investe, por que o empresário haveria de investir?”.
O ex-presidente afirmou ainda que, em 2008, a indústria automobilística vendia 4 milhões de carros por ano. Passados 13 anos, vende 2 milhões, porque “não há possibilidade de investimento se não houver demanda, para ter demanda tem que ter emprego”.
Imprensa
Durante o discurso, o ex-presidente defendeu a liberdade de imprensa, disse que ela é uma das razões principais para a manutenção da democracia, e fez críticas à cobertura da Operação Lava Jato.
“Eu fiquei muito feliz porque depois da divulgação de tanta mentira contra mim, ontem eu acho que nós tivemos um Jornal Nacional épico. Eu acho que quem assistiu televisão não estava acreditando no que estava vendo. Pela primeira vez, a verdade prevaleceu”.
* Por G1.com