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Fiocruz aponta desigualdades no acesso ao parto hospitalar em MS

Um estudo divulgado pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) em fevereiro de 2025 apontou que mais de dez mil mulheres enfrentaram desigualdades no acesso ao parto em Mato Grosso do Sul. Os dados foram coletados pelo DATASUS (Departamento de Informação e Informática do Sistema Único de Saúde) e abrangem os biênios de 2010-2011 e 2018-2019.

O levantamento mapeou os acessos geográficos, levando em consideração o município de origem das mulheres e o município onde o parto foi realizado. O estudo revelou que, no Centro-Oeste, as mulheres de Mato Grosso do Sul são as que percorrem as maiores distâncias para dar à luz. Em 2010-2011, a distância média percorrida para o parto era de 92,9 quilômetros, o que correspondia a uma viagem de cerca de 1h20. Já em 2018-2019, essa distância aumentou para 133,3 quilômetros, o equivalente a 1h50 de viagem.

De acordo com o estudo, no primeiro biênio, 4.280 mulheres de Mato Grosso do Sul viajaram para dar à luz fora de seus municípios. No segundo biênio, esse número subiu para 6.341 gestantes, representando um aumento significativo na procura por outros municípios para o parto.

Embora Mato Grosso do Sul não esteja entre os estados com os maiores índices de deslocamento de mulheres para outros municípios, o estudo revela que a média de deslocamento no estado aumentou consideravelmente. Em 2010, 7,6% das mulheres deixavam seus municípios para dar à luz, enquanto em 2019 esse número subiu para 11,6%, embora ainda esteja abaixo da média nacional de 25%. O percentual de aumento na distância percorrida foi de 43%, e o tempo de viagem aumentou em 39%.

A pesquisadora da Fiocruz, Bruna de Paula Fonseca, que participou do estudo, destacou que o aumento no número de deslocamentos pode ser explicado pela extensão das áreas rurais do estado, pela concentração de hospitais na capital e em grandes cidades, além das condições de infraestrutura e qualidade dos serviços de saúde.

O estudo também revelou dados em nível nacional. Os pesquisadores mapearam 6,9 milhões de partos entre 2010 e 2019 e identificaram que as maiores taxas de mortes maternas e de recém-nascidos estão relacionadas à demora no acesso aos serviços de saúde. As gestantes da região Norte do Brasil enfrentam as maiores distâncias e tempos de viagem para o parto, com uma média de 133 quilômetros e cerca de cinco horas de deslocamento. Por outro lado, as gestantes da região Sul percorrem distâncias médias de 55 quilômetros, gastando cerca de 52 minutos para chegar à maternidade.

Bruna Fonseca, coordenadora do estudo, ressalta que as diferenças regionais vão além das distâncias a serem percorridas. A estrutura etária, a taxa de fecundidade e as práticas de parto, sejam hospitalares ou domiciliares, também têm um impacto significativo na saúde das mães e dos bebês.

O estudo, realizado em parceria com pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, foi publicado na revista The Lancet Regional Health – Americas.