Ex-presidente do Paraguai deu 500 mil dólares para ajudar doleiro foragido, diz MPF
Dario Messer, conhecido como ‘doleiro dos doleiros’, pediu meio milhão de dólares em julho de 2018 ao então presidente do Paraguai, Horacio Cartes, para manter-se foragido das autoridades paraguaias e brasileiras, segundo investigações do Ministério Público Federal.
A força-tarefa da Lava Jato afirma que a quantia foi paga por Cartes via intermediários.
O ex-presidente é um dos nove procurados fora do Brasil pela Operação Patrón, deflagrada nesta terça-feira (19).
Até o final da tarde desta terça, onze pessoas tinham sido presas na operação. Estão entre elas a namorada de Messer, Myra Athayde, presa no Rio de Janeiro e o dono do principal shopping paraguaio na fronteira com o Brasil, o empresário Felipe Cogorno Álvares. Ainda não se sabe onde Horacio Cartes está.
De acordo com a agência de notícias AFP, Carlos Palacios, um dos advogados de Cartes, afirmou à imprensa que o ex-presidente paraguaio está “tranquilo” e que a defesa desconhece a decisão do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio.
“Cartes sempre respondeu e não tem vínculos comerciais ou societários com [Dario] Messer. Ele nega de maneira enfática. Cartes e Messer não são sócios em negócios. Cartes está muito tranquilo”, afirmou Palacios.
O juiz Marcelo Bretas determinou a inclusão do nome de Horacio Cartes na Difusão Vermelha da Interpol — a lista de procurados distribuída em aeroportos do mundo todo.
O procurador regional do MP, José Augusto Vagos, disse em entrevista coletiva que Cartes não tem direito a foro privilegiado.
“Sendo senador com ou sem direito a voto, [Cartes] não tem direito a foro privilegiado. Atuou aqui financiando uma organização criminosa. Não foi ajuda a um amigo, foi financiamento de um comparsa de organização criminosa.” , afirmou
Pedido de 500 mil dólares na denúncia do MP
O pedido de ajuda no valor de US$ 500 mil, o equivalente nos valores de hoje a R$ 2 milhões, está descrito na denúncia feita pelo Ministério Público Federal. Dario Messer está preso desde o final de julho.
Segundo a denúncia, em junho de 2018, quando ainda estava foragido, o doleiro mandou uma carta ao ex-presidente do Paraguai pedindo o dinheiro para cobrir gastos jurídicos.
A íntegra da carta
“Patrão, 27/6/2018
Desculpa te incomodar nessa hora, mas a situação em que me encontro está muito complicada. Fui traído no Brasil e fui pego de surpresa no Paraguai. Além disso, arrastaram o Dan [irmão de Dario que fez delação] nessa confusão. A minha relação com a família ficou muito ruim também. Eles me culpam com razão por essa confusão.
Tive a grande sorte de ser acolhido por essa pessoa que está te entregando essa carta [Roque Fabiano Silveira, segundo o MPF]. Também contratei como advogado a Dra. Letícia [Maria Letícia Bobeda Andrada], que é também advogada desse meu amigo e na qual ele confia.
Infelizmente fiquei com os meus recursos bloqueados e preciso recorrer a sua ajuda para com os gastos jurídicos. Nessa primeira etapa vou precisar de US$ 500.000 (quinhentos mil dólares). Com isso consigo me apresentar, ficar numa prisão domiciliar em Assunção e poder me movimentar e articular melhor a situação. Assim que conseguir passar essa etapa vou precisar do teu apoio de sempre. Esse meu amigo vai me ajudar na entrega dos recursos de modo que os valores podem ser entregues a ele.
Esse meu amigo ficou de me ajudar com a fazenda de Pedro Juan e gostaria de ver a melhor forma.
Te agradeço pela compreensão.
Forte abraço,
Dario Messer.
Relação antiga entre Cartes e Messer
O MPF afirmou ainda que os negócios de Horacio e Messer envolveriam lavagem de dinheiro do tráfico de drogas na tríplice fronteira e eles “seriam monitorados há duas décadas a partir de Assunção, capital paraguaia e na Cidade do Leste, que fica na divisa de Brasil, Paraguai e Argentina, por diferentes agências americanas”.
De acordo com a força-tarefa da Lava Jato, Dario Messer é amigo de longa data de Horacio Cartes.
“O relacionamento da família Messer com a família Cartes se iniciou na década de 80, quando Dario fundou a Cambios Amambay SRL — atual Banco Basa –, tendo como acionista majoritário o pai do ex-presidente”, escreveu o juiz na decisão.
Ainda segundo o Ministério Público (MP) e a Polícia Federal, na década de 90, Horacio e Dario adquiriram uma fazenda juntos.
Em 2016, em um evento público, Horacio — já como presidente — declarou que Dario seria seu “irmão de alma”. Segundo a denúncia, o ex-presidente se referia a Messer como “hermano de alma”. O MP afirmou que Messer chamava o ex-presidente de “Patrão”.
*Por G1