Escutas mostram tensão entre integrantes de milícia após crime mal executado
De acordo com o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), o dia 18 de maio foi uma data marcante para o início da queda da suposta organização criminosa que, segundo as investigações, é chefiada por Jamil Name, o “Velho” e Jamil Name Filho, o “Jamilzinho”, também conhecido como Guri.
Às 12h59, Jamilzinho manda uma mensagem de texto para o celular do ex-guarda municipal, Marcelo Rios, preso no dia seguinte com um arsenal de guerra supostamente usado para execuções de inimigos do grupo em Campo Grande.
Ele diz que “o velho tá sabendo, passei muito detalhe pra ele”. Rios pergunta se eles chegaram a discutir, Jamilzinho responde: “quem tá assando é você” e se despede com um tchau.
Quase uma hora depois, às 13h57, Marcelo recebe uma ligação de outro integrante do grupo, o também GM Rafael Antunes. Ele questiona Rios sobre mensagens que também teria recebido de Jamilzinho.
Preocupado, Marcelo rios liga para Rafael Antunes. O GM deixa claro que Jamil quer tirar as armas da casa do Jardim Monte Líbano, onde seriam encontradas, para escondê-las em um local mais seguro, no caso, a casa dos Name.
Minutos depois, eles voltam a se falar, dizem que Jamilzinho está “q-b-u”, que na gíria policial significa pacientes com problemas psiquiátricos, e Rios ainda constata que corre risco de vida, usando o termo “empurrar” para dizer matar.
Os relatórios do Gaeco não confirmam o motivo pelo qual Jamil Name estava bravo com Marcelo Rios, mas a desconfiança dos promotores é que o então guarda municipal teria cometido um erro no planejamento de um assassinato que traria muita pressão das autoridades para solucionar o crime.
A execução é a do estudante de direito, de 17 anos, Matheus Coutinho Xavier. Ele foi morto nove dias antes das mensagens trocadas entre o grupo, enquanto tirava o carro da garagem. O veículo era do pai dele, Paulo Roberto Xavier, o ex-capitão da PM era o verdadeiro alvo do grupo.
Além de Mateus Xavier, o grupo é suspeito de assassinar o ex-chefe de segurança da Assembleia Legislativa, Ilson de Figueiredo, o ex-segurança do traficante Jorge Rafaat, Orlando Bomba e o empresário Marcel Playboy, que teria sido executado por brigar com Jamilzinho quatro anos antes em uma boate. O inquérito dos homicídios ainda corre na Polícia Civil.
Com o monitoramento telefônico dos suspeitos, foi possível saber o momento em que Marcelo Rios se dirigia à casa de Jamil Name para, supostamente, entregar as armas cobradas pelo “patrão”. Ele foi interceptado no caminho. O arsenal não estava no carro, mas Marcelo trouxe os policiais até esta casa dos Name, onde o armamento estava escondido.
A partir daí, 23 mandados de prisão foram expedidos em 27 de setembro. Jamil Name, Jamil Name Filho e outros dois policiais civis considerados gerentes da organização. Marcio Cavalcanti e Vladenilson Daniel Olmedo, estão no presídio federal, suspeitos de tramar um atentando contra a vida do delegado do Garras, Fábio Peró.
Marcelo rios foi transferido para o mesmo presídio anteriormente, por questões de segurança. Três denúncias já foram apresentadas pelo Gaeco à Justiça, envolvendo crimes como organização criminosa, obstrução de Justiça, posse ilegal de arma de fogo, tráfico de armas, extorsão, milícia privada e corrupção.
O que dizem as defesas
Conversamos com as defesas dos citados nesta reportagem. O advogado Renê Siufi, que defende Jamil Name e Jamil Name Filho, informou que ambos não conhecem a origem das armas, e que Jamil filho não sabia que Marcelo rios estava guardando o arsenal na casa, no bairro Monte Líbano.
O advogado Anderson Buzo, que representa o ex-guarda municipal Rafael Antunes, disse que o cliente apenas prestava serviço como motorista da família e que não sabia do arsenal. O advogado Alexandre Franzoloso, que faz a defesa do ex-guarda Marcelo Rios, preso com as armas, informou que não se manifestará enquanto o processo estiver em andamento.
*Por G1 MS