Empresa abandona construção de usina fotovoltaica e Arquidiocese da Capital fica com dívida de R$ 3,5 milhões
A Arquidiocese de Campo Grande entrou na Justiça contra uma empresa do ramo de energia solar que não conseguiu concluir o projeto de instalação de uma usina de geração fotovoltaica que iria abastecer um total de 328 igrejas da Capital, Corguinho, Rochedo, Jaraguari, Bandeirantes, Terenos, Ribas do Rio Pardo e Sidrolândia.
Em uma carta aberta divulgada pela Arquidiocese na sexta-feira (23), o bispo Dom Dimas Lara Barbosa explica a situação e pede aos fiéis que orem e participem das ações que ainda serão realizadas pela igreja para ajudar a pagar a divida criada pelo projeto.
De acordo com as informações, a Arquidiocese aprovou e contratou um empréstimo bancário na ordem R$ 3,5 milhões para custear o projeto, sendo que deste valor a maior parte, de R$ 3,3 milhões, seria usada apenas para pagar os serviços da empresa enquanto que outros R$ 200 mil eram para custear as obras de terraplanagem e a supressão vegetal da área onde seria construída a usina.
Mas acontece que a empresa contratada pela Cúria Metropolitana não construiu a usina de geração fotovoltaica de 1MWp no prazo contratual de 270 dias, previsto a partir da liberação do empréstimo bancário. Um acordo entre as partes chegou a ser firmado alterando o cronograma inicial, mas a obra não avançou e foi suspensa.
A empresa contratada sustenta que o cenário pós-pandemia afetou a importação dos materiais necessários à implementação da usina. Ao site MSHoje, o padre Wagner Divino de Souza, que foi nomeado como o interventor, disse que Arquidiocese ainda está em negociação com a empresa, tendo entre as possibilidades a rescisão amigável do contrato com a devolução de valores e também a conclusão da obra dentro de um novo prazo.
Usinas solares fotovoltaicas
As chamadas usinas de geração fotovoltaicas são as mais populares em todo o mundo e utilizam um processo direto para converter a radiação solar em eletricidade. A geração é feita por meio dos módulos fotovoltaicos (placas solares), que podem ser instalados em terra ou sobre a superfície de corpos d’água, a chamada usina solar flutuante.
Nos últimos anos, os painéis fotovoltaicos também vêm sendo utilizados por milhares de pessoas e empresas que desejam gerar a própria energia para fugir dos preços e aumentos das distribuidoras nos chamados micros e minigeradores fotovoltaicos para geração distribuída.
A usina solar fotovoltaica funciona assim: os painéis solares produzem eletricidade, que passa por um inversor solar para converter essa energia em corrente alternada para, então, ser transmitida pelas redes de transmissão de energia e distribuída para o uso em sua casa ou empreendimento.
Os painéis solares produzem energia elétrica em corrente contínua, portanto, eles precisam de um inversor solar para converter essa energia em corrente alternada (padrão elétrico para qualquer casa ou empresa conectada à rede no Brasil).
Os inversores entregam a energia produzida pelos painéis fotovoltaicos em até 380 Volts. Para a transmissão de energia nas linhas de alta tensão, é preciso uma voltagem bem mais alta que isso, portanto, utilizam-se transformadores para elevar a tensão para 13.800 Volts, 69.000 Volts, 138.000 Volts e até acima de 230.000 Volts.
Como as usinas fotovoltaicas são geralmente instaladas em áreas isoladas e distantes, a sua energia é enviada aos centros urbanos por meio das linhas de transmissão, para, depois, atender ao consumo das casas, empresas e outros empreendimentos conectados à rede da distribuidora local.
Leia a carta do bispo Dom Dimas na íntegra:
Estimados irmãos e irmãs desta Arquidiocese:
Os desafios que hoje enfrentamos nos interpelam a buscar soluções inovadoras para a nossa sustentabilidade, a fim de melhor cumprir nossa missão no âmbito da Evangelização e da Administração dos Bens da Igreja, a todos nós confiados.
Foi com esse espírito que um significativo projeto na área de energia havia sido elaborado, seguindo as etapas necessárias para que o resultado fosse a geração de energia limpa com redução de custos na conta de energia para todas as Paróquias, Capelas, Comunidades. Refiro-me à instalação de uma usina fotovoltaica. O percurso foi longo para estabelecer metas, potenciais fornecedores, negociação com órgãos públicos afins etc. Nosso parceiro para o investimento, instituição bancária, nos acompanhou e concedeu o empréstimo necessário. Este projeto foi apresentado ao Conselho Econômico e ao Colégio de Consultores, órgãos canonicamente oficiais para ajudar na administração extraordinária dos bens da Igreja. O projeto foi também discutido em reunião geral do nosso Clero.
Infelizmente, o fornecedor escolhido, que havia apresentado a proposta menos custosa, não cumpriu sua parte do contrato, o que nos obrigou a medidas de natureza cível e criminal, que já estão em andamento. Neste novo processo fomos surpreendidos com a constatação de que a mesma empresa também lesou outros clientes.
Considerando a dívida bancária assumida, cabe-me a urgência de tomar medidas para salvaguardar nossa missão evangelizadora. Para isso, nomeei, como Interventor da Cúria Metropolitana o Revmo. Pe. Wagner Divino de Souza, cura da Catedral Nossa Senhora da Abadia e Pároco da Paróquia Santo Antônio de Pádua.
Sem dúvida, um tempo muito difícil se nos aproxima. Peço as orações de todos, e conto com a participação efetiva de cada fiel – padres, diáconos, religiosos e leigos – de nossa Arquidiocese nas ações que faremos para buscar os recursos necessários para sanar essa dívida. Juntos, com a graça de Deus, haveremos de superar essa tormenta.
Finalizo com o ensinamento do nosso amado Papa Francisco:
“… prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos. Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida. Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’ (Mc 6, 37)” (EG 49).
Que Nossa Senhora da Abadia, Padroeira de nossa Arquidiocese, nos abençoe a todos.
Fraternalmente,
Dom Dimas Lara Barbosa
Arcebispo Metropolitano de Campo Grande