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Editorial: Uma fronteira entregue ao caos há anos é descoberta pela mídia brasileira

Precisou acontecer uma fuga em massa em um presídio de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, para a imprensa brasileira voltar suas atenções à cidade de Ponta Porã, na fronteira seca do Brasil com o país vizinho. Para quem vive no município sul-mato-grossense, o episódio desta semana é só mais um entre tantos outros que diariamente acontecem naquela área, até então, longe dos holofotes pauteiros.

Para ter uma noção, apenas em 2019 foram 251 assassinatos na faixa de fronteira, conforme dados [não oficiais] divulgados no início de dezembro por um jornal do Paraguai. Deste total, 114 ocorreram no lado brasileiro, ou seja, em território sul-mato-grossense. E não são crimes ‘leves’, como os ocorridos no Brasil continenteiro. O que se vê por lá são mortes violentas, feitas com armas de grosso calibre, com sessões de tortura, emboscada e até mutilação de corpo.

Um desses fatos mais recentes chocou a comunidade local pela brutalidade, covardia e a idade da vítima, um menino de apenas 14 anos. O garoto foi sequestrado, torturado e decapitado após brigar com outro estudante dentro de uma escola. Ele teve a cabeça separada ao meio e queimada junto com o corpo antes de ser enterrada. Os restos mortais foram localizados em num tambor de plástico, no meio do rodoanel de Ponta Porã.

Pelo menos 90% dos crimes ocorridos na fronteira são ligados ao tráfico de drogas. Resultado de uma disputa que nunca termina pelo controle da região, considerada ponto estratégico para quem pretende vender o entorpecente na Europa. Neste meio, casos de corrupção, principalmente com a participação de policiais comprados pelos traficantes, são mais comuns do que pode imaginar.

O episódio de fuga em Pedro Juan não é o primeiro ocorrido na região que separa Brasil e Paraguai, aliás, não faz muito tempo que uma situação parecida foi registrada naquelas proximidades, e diga-se de passagem, foi algo ainda mais trágico. Em junho de 2019 um motim na Penitenciária do Estado de San Pedro resultou na morte de 10 presos, todos decapitados e carbonizados após uma briga entre facções. Logo em seguida ao fato, o governo paraguaio fechou o presídio, que abrigava 1.650 internos, cerca de 150 do PCC.

Considerada a fronteira mais violenta de toda a América do Sul, a faixa Ponta Porã-Pedro Juan Caballero se tornou ao longo das últimas décadas uma verdadeira terra sem lei, uma espécie de velho-oeste hollywoodiano, onde quem atira primeiro sobrevive por mais tempo. Para quem mora no meio deste caos assombroso, a esperança é de que agora, com uma rápida e raríssima publicidade midiática, alguma coisa seja feita pelos governos envolvidos e a paz, mesmo que por um curto período de dias, possa prosperar.

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