Editorial: O que importa é cumprir o expediente de trabalho
Em todas as regiões de Campo Grande existe, pelo menos, uma obra pública parada. …Um Aquário [do Pantanal] abandonado, um Centro de Belas Artes que virou depósito de terra, uma antiga rodoviária que virou boca de fumo. Assistimos a isso calados, indignados, mas sem expressão real. Nas unidades de saúde faltam médicos, remédios, organização. Nas escolas públicas falta do uniforme ao kit escolar, e olha que já estamos na metade do ano. Sabemos de tudo isso, mas seguimos em silêncio, preocupados apenas em cumprir o nosso expediente de trabalho.
Pagamos uma das maiores tarifas pelo uso do transporte público, andamos em ônibus sucateados, lotados em todos os horários, com motoristas pressionados pelo tempo e acumulo de função; embarcamos e desembarcamos em terminais sujos, depredados, inseguros e cheios de vendedores gritando como numa feira livre. Aceitamos, com críticas nas conversas de rodas de tereré e redes sociais, mas pagamos mesmo assim, pois temos que cumprir o expediente de trabalho. E é isso o que realmente importa!
As ruas sofrem com buracos, tapa-buracos, tapa-tapa-buracos. Crescem os bairros da cidade que não têm rede de esgoto; iluminação pública só para quem tem um representante [amigo, parente, funcionário] de vereador na redondeza. Taxa de iluminação pública altíssima e conta de água absurda. Não gostamos, não aprovamos, não concordamos com nada disto, mas precisamos cumprir o nosso expediente de trabalho, afinal, como vamos pagar por tudo isso no próximo mês? Pode ser que seja tudo reajustado e lá se vai o nosso salário.
Os protestos de hoje [leia-se tempo presente] são atos patrocinados por sindicatos; sindicatos são ligados aos partidos políticos; partidos políticos são movidos por líderes políticos; líderes políticos querem cargos eletivos; cargos eletivos querem poder; o poder quer que tudo isso se dane, inclusive você, que tem que cumprir o expediente de trabalho.