Editorial: já não mais apedrejamos, agora filmamos e compartilhamos na internet
Viralizou ao longo dos últimos dias pelas redes sociais o vídeo em que mostra um motoentregador abrindo e comendo as marmitas que deveria entreguar para clientes. O flagrante em questão foi feito no centro de Campo Grande por uma testemunha, que ficou indignada pelo desrespeito do profissional, que deveria fazer a entrega do produto de uma forma segura e honesta.
Com o grande compartilhamento dos fatos, logo surgiu a informação de que o mesmo entregador já foi expulso de outros aplicativos de delivery também por sua conduta antiética. Entretanto, ninguém conseguiu ouvir a versão do acusado para saber o que o levou a cometer tal ato, se o mesmo estava com fome ou ainda se passava por alguma dificuldade na vida.
Mesmo neste cenário, o motoentregador foi condenado ao vexame eterno pelo severo tribunal da internet. Evidente que o ato feito por ele foi errado e merece as punições cabíveis, até mesmo uma demissão, mas será que a sociedade moderna agiu certa no compartilhamento excessivo do vídeo e em todos os comentários que foram colocados?
Esse comportamento pode ser comparado a uma citação biblica muito conhecida até mesmo pelos ateus, na qual Jesus Cristo é procurado por um grupo de pessoas que lhe entrega Maria Madalena, então acusada pelo crime de adultério e que deveria ser apedrejada, conforme a lei em vigor.
Jesus, em sua sabedoria majestosa, responde: “se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela”. No ato, todos os que estavam armados soltaram as pedras e foram embora. A reflexão é simples: todos cometemos erros, porém, não o enxergamos com os próprios olhos ou absolvemos com base nos nossos próprios argumentos e justificativas.
O que foi feito com o motoentregar, e tantos outros casos semelhantes que são vistos diariamente na internet, é uma versão moderna deste conto biblico. As pedras foram trocadas pelos celulares e pelos registros compartilhados nas redes sociais, onde se é julgado e condenado por outros que sequer procuram entender toda a situação e versões.