ArticulistaCapitalDestaquesEditorial

Editorial: até Deus sabe que o transporte público da Capital não vai melhorar

Basta você entrar em um ônibus qualquer do transporte público de Campo Grande para flagrar alguma situação de irregularidade, como a clássica superlotação nos horários de picos, a cordinha ou botão de parada que não funciona, porta que não fecha totalmente ou, anda, que acaba sendo fechada pelo motorista no momento em que algum passageiro está descendo ou subindo, além da sujeira e muitos outros itens.

É uma lista de falhas já conhecida por todos que fazem uso do serviço, bem como dos próprios motoristas e até mesmo das empresas de viação que formam o Consórcio Guaicurus, responsável por operar o transporte público na cidade há muitos anos. Problemas antigos que fazem o passageiro questionar os motivos para a não solução, em um total desrespeito ao passageiro, e até cogitar a existência de algum esquema.

Não há contrapartida por parte do Consórcio Guaicurus mesmo com aumentos anuais da tarifa – foram 16 reajustes nos últimos 13 anos. A entrega de veículos novos é baixa e a frota acaba sucateada, mesmo o contrato determinando a renovação. A Prefeitura Municipal, que deveria fazer a cobrança, trava na esfera jurídica enquanto prega a promessa de um futuro melhor que até Deus sabe que não vai existir.

Entre os poucos avanços, o destaque fica para o aplicativo que monitora os pontos e indica o horário em que o coletivo irá passar, porém, há falhas no sistema por conta dos atrasos e imprevistos dos itinerários. Na Câmara Municipal, que começa um novo ciclo de quatro anos, apenas uma vereadora tem se mostrado interessada em defender os avanços do transporte público e batalhando até pela gratuidade.

Os criticados corredores de ônibus são outros instrumentos que prometem modernizar o serviço, mas somente os das Ruas Rui Barbosa, no centro da cidade, e Brilhante, que liga até o Terminal Bandeirantes, é que estão funcionando. Os demais estão parados ou sequer foram iniciados pela Prefeitura, como o da Avenida Cônsul Assaf Trad/Coronel Antonino, que vai ligar os Terminais Nova Bahia e General Osório.

Nesta semana, após mais uma batalha nas esferas do Tribunal de Justiça, o Município foi obrigado a reajustar o valor do passe em 3,51%, passando de R$ 4,75 para R$ 4,95, aumento de R$ 0,20. Parece pouco, mas para quem faz uso diariamente, no final do mês, o buraco no bolso é imenso. O reflexo também afeta o comércio, desde o custo com o funcionário até o cliente, que vai optar pela compra online e receber em casa.

Sem ter outro serviço de transporte público disponível, Campo Grande está como refém do Consórcio Guaicurus, amarrada na frota de ônibus que não chega sequer aos 600 veículos. Com anos de discussão, promessas e falatórios que não avançam, passou da hora das autoridades viabilizarem outros meios de locomoção, como o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), especialmente para atender os pontos de maior circulação.