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Delegado foi pago para ‘não andar’ com investigações de assassinato

Suspeito de integrar o grupo que seria responsável por execuções em Mato Grosso do Sul, o delegado de Polícia Civil Márcio Shiro Obara, teria recebido propina de R$ 100 mil para ‘não andar com investigações’ relacionadas a morte de Ilson de Figueiredo, de 62 anos, ocorrida em 11 de junho de 2019, em Campo Grande.

 Ele e outras diversas pessoas, entre elas o conselheiro do Tribunal de Contas e ex-deputado estadual Jerson Domingos, estão entre os presos na terceira fase da operação Omertá, deflagrada quinta-feira (18).

O advogado Ronaldo Franco, que defende Obara, diz que vai tentar a revogação da prisão preventiva do cliente dele. A Polícia Civil divulgou nota oficial sobre a prisão do delegado.

Jerson Domingos, Cinthya Name Belle, sobrinha e funcionária de um dos chefes do grupo, e Benevides Pereira, tiveram a liberdade concedida na madrugada desta sexta-feira (19).

Segundo relatório do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), que consta no decreto de prisão preventiva, após receber o dinheiro, Obrara transferiu parte, em duas vezes, para o investigador de Polícia Civil Célio Rodrigues Monteiro, também preso na terceira fase da operação Omertá. Uma de R$ 50 mil e outra de R$ 10 mil , em junho e setembro do ano passado respectivamente

Ainda conforme a acusação, Obara teria cumprido a parte dele no acordo não determinando diligências e ocultando documentos . O delegado teria ainda deixado de apurar quem seria o mandante de outras duas execuções. Na época, ele estava à frente da Delegacia Especializada de Repressão a Crime de Homicídios.

A corrupção do delegado teria sido um acordo entre dois grupos que estariam à frente das execuções, de acordo com o Gaeco. Um comandado por Fahd Jamil e o filho Flávio Correia Jamil Georges. O Gaeco esteve na casa deles, em Ponta Porã, mas nenhum foi localizado.

Dois grupos

O grupo de Fhad e Flávio está relacionado a prática de diversos crimes como tráfico de drogas e de armas, lavagem de dinheiro e homicídios. Eles seriam os responsáveis por dar suporte com remessa de armas de fogo, preparo e execução de homicídios para outra organização: a de Jamil Name e Jamil Name Filho, ambos presos desde setembro de 2019 no Presídio Federal de Mossoró (RN).

Para a acusação, os dois grupos se ajudavam nos crimes e na fuga dos envolvidos. A última morte atribuída ao grupo de Jamil Name é do estudante de Direito Matheus Zavier, de 19 anos, na frente da casa dele, na capital. Ele foi executado por engano. O alvo era o pai dele, Paulo Roberto Xavier.

Prisões

Chegada de Jamil Name, apontado pelo Gaeco como um chefes da milícia que agia em MS, ao Centro de Triagem, em Campo Grande — Foto: Reprodução/TV Morena
Chegada de Jamil Name, apontado pelo Gaeco como um chefes da milícia que agia em MS, ao Centro de Triagem, em Campo Grande — Foto: Reprodução/TV Morena

Após a morte do rapaz, a Polícia Civil montou uma força-tarefa com vários delegados para investigar as execuções. Um mês depois da morte do estudante, no dia 19 de maio, policiais da Delegacia de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros (Garras) e do Batalhão de Choque da Polícia Militar apreenderam um arsenal com um guarda municipal, que está preso desde então.

Foram apreendidos 18 fuzis de calibre 762 e 556, espingarda de calibre 12, carabina de calibre 22, além de 33 carregadores e quase 700 munições. Tudo estava em uma residência e seria levado para a casa de Jamil Name.

Operações

Em setembro, na primeira fase da Omertá, Jamil Name e Jamil Name filho foram presos junto com outras várias pessoas, entre elas policiais civis. O Supremo Tribunal Federal já autorizou a transferência de Name pai para a Penitenciária Federal de Campo Grande.

Em março, na segunda fase, o Gaeco esteve no apartamento de Jerson Domingos, apreendeu armas e ele foi levado para delegacia.

Jerson é irmão da esposa de Jamil e também ele teria levado o sobrinho para se esconder de uma possível ação policial, teria avisado alguém para destruir provas e, em bilhete sobre plano de matar autoridades, seria quem iria conseguir as armas para as execuções. A defesa dele nega todas as acusações do Gaeco e diz que a relação com o cunhado e com o sobrinho é apenas familiar.

Agora, na terceira fase da operação Omertá, foram presos mais policiais civis, um terceiro sargento da Polícia Militar e um policial federal. Este último é apontado pelo Gaeco como a pessoa que fazia a sondagem da rotina dos alvos e o militar, quem acessava o sistema da segurança pública para saber sobre futuros alvos.

*Por G1 MS

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