Delegadas pedem exoneração da Deam em caso Vanessa Ricarte
A Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) enfrenta uma crise sem precedentes com o pedido de exoneração coletiva de doze delegadas. Mais cedo, o site havia noticiado o pedido de exoneração de duas delegadas, Elaine Benicasa e Riccelly Maria Albuquerque Donhas.
Agora, conforme apurado, houve pedido coletivo de exoneração em solidariedade a delegada que fez atendimento à jornalista Vanessa Ricarte, horas antes de seu feminicídio, formalizado em um expediente, relacionando os nomes das delegadas Patrícia Peixoto Abranches, Stella Paris Senatore, Analu Lacerda Ferraz, Larissa Franco Serpa, Karolina Souza Pereira, Marianne Cristine de Souza, Karen Viana de Queiroz e Rafaela Brito Sayão Lobato.
“Foi feito em solidariedade à colega que está sofrendo linchamento público sem responsabilidade”, declarou uma das integrantes do grupo que optou pela exoneração, delegada Analu Lacerda, ao Campo Grande News.
A renúncia em massa ocorre em um momento de grande pressão sobre a Deam, especialmente após a polêmica envolvendo a atuação no caso da jornalista Vanessa Ricarte, assassinada pelo ex-noivo, Caio Nascimento. O caso gerou questionamentos sobre os protocolos seguidos pela delegacia e intensificou as críticas à demora na resposta das instituições.
Diante da gravidade da situação, a Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) convocou uma reunião emergencial para discutir soluções e evitar um colapso no atendimento às mulheres vítimas de violência. A crise também repercutiu no cenário político, com o presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, deputado Gerson Claro (PP), reconhecendo falhas no sistema e defendendo mudanças estruturais urgentes.
A investigação sobre o acolhimento dado pela Deam a Vanessa Ricarte foi tema central de uma reunião entre os três poderes, que durou mais de três horas. Durante o encontro, parlamentares discutiram medidas para aprimorar a proteção das mulheres, como a criação de um batalhão especializado para o cumprimento de medidas protetivas e a ampliação da participação feminina nos concursos da segurança pública.
O caso de Vanessa Ricarte gerou forte comoção, principalmente após revelações de que ela solicitou medida protetiva contra o ex-noivo na madrugada de sua morte, mas o pedido só foi oficializado à tarde. Além disso, segundo relatos, uma delegada teria sugerido que Vanessa entrasse em contato com o agressor para que ele deixasse a residência, fato que gerou revolta e questionamentos sobre os procedimentos adotados pela Deam.
O deputado estadual Paulo Duarte (PSB) defendeu a ampliação do efetivo da Patrulha Maria da Penha e o aumento do número de agentes para a escolta de mulheres em situação de risco. Ele também propôs campanhas de conscientização sobre feminicídio e machismo nas escolas, embora tenha admitido resistências à iniciativa. “A começar pelos políticos, que não dão bons exemplos. Outra coisa é a briga ideológica. Ficamos sabendo que há escolas que recusam palestras sobre empoderamento feminino e combate ao machismo alegando que isso é coisa de comunista. Isso tem que mudar”, ressaltou.
Pedro Kemp (PT) também comentou alguns apontamentos necessários para serem ajustados no atendimento à mulher. “Uma delas é o anuncia da criação da Vara da Mulher, pois uma juíza disse que tem 7 mil processos em sua mão, o que é humanamente impossível somente uma pessoa dar conta disso. Pedimos mais concurso para policiais femininas, com cotas, para chamar delegadas. Isso foi discutido também. Lembrando que não é só na Capital, mas no interior”, disse o deputado.
Os desdobramentos da crise na Deam seguem em andamento, com a Sejusp buscando reverter as demissões e estruturar um plano emergencial para garantir a continuidade dos atendimentos. O governo estadual ainda não se pronunciou oficialmente sobre as renúncias coletivas nem sobre possíveis mudanças nos protocolos da delegacia especializada