Crise política no Paraguai pode adiar construção de ponte em Porto Murtinho
Uma crise diplomática está abalando a relação entre os governos do Paraguai e do Brasil. O problema envolve diretamente o fornecimento de energia elétrica ao país vizinho por meio da Usina Hidroelétrica de Itaipu Binacional, radicada no Paraná. Conforme as informações, nesta quinta-feira (1º) a ata sobre a compra de energia assinada em maio por representantes dos dois países foi anulada.
O embaixador do Brasil no Paraguai, Carlos Alberto Simas Magalhães, assinou em Assunção um documento em que o Estado Brasileiro reconhece a decisão do Estado Paraguaio de anular a renegociação, que faria o país vizinho pagar mais caro pela energia da usina binacional. O ministro das Relações Exteriores Paraguaio, Antonio Rivas Palacios, destacou que, desta forma, as negociações a respeito voltam à estaca zero.
Ainda não há informações se o acordo rompido interfere também na construção de duas pontes na fronteira dos dois países, já que diz respeito a Itaipu. Uma delas será erguida sobre o Rio Paraguai, ligando a cidade de Porto Murtinho até Carmelo Peralta e faz parte da Rota Bioceânica, que traz um traçado rodoviário ligando o Brasil, Paraguai, Argentina e o Chile. A obra orçada em incríveis US$ 75 bilhões será, até segunda ordem, totalmente custeada pela usina.
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores a situação está sendo acompanhada. “O Brasil acompanha com grande atenção os acontecimentos no Paraguai que envolvem o processo de “juízo político” contra o presidente Mario Abdo Benítez”, diz o comunicado do Itamaraty. O caso, que resultou na renúncia do chanceler Luis Castiglioni e do embaixador paraguaio no Brasil Hugo Caballero, aumentou a pressão sobre o presidente Mario Abdo Benítez, que corre o risco de sofrer um processo de impeachment.
A diplomacia brasileira disse esperar que a cooperação com Benítez possa prosseguir, “o que permitirá a plena implementação das iniciativas em curso e a consecução de novos avanços, inclusive no que tange à implementação, em benefício mútuo, dos compromissos dos dois países ao amparo do Tratado de Itaipu”.
“O desenvolvimento do Paraguai e sua participação ativa como valioso membro do Mercosul e da comunidade hemisférica é de enorme interesse para o Brasil, e o governo brasileiro está convencido de que o presidente Mario Abdo reúne todas as condições para continuar conduzindo esse projeto”, acrescenta o ministério.
A polêmica envolvendo a ata do acordo também causou as demissões do presidente da Administração Nacional de Eletricidade (Ande), Alcides Jiménez, e do diretor paraguaio de Itaipu, Alberto Alderete. As demissões foram anunciadas na última segunda-feira (29) pelo porta-voz da presidência do Paraguai, Hernán Hutteman, que disse terem sido aceitas pelo presidente Benítez.
Pesou nas demissões a acusação de que a ata do acordo havia sido debatida e aprovada sem a devida transparência. Autoridades e congressistas afirmaram que o acordo negociado seria prejudicial ao Paraguai e que poderia causar um prejuízo de até US$ 300 milhões.
O presidente Jair Bolsonaro disse hoje (1º), em Brasília, que não vai interferir na política do Paraguai e que não quer prejudicar o país vizinho em relação ao tratado sobre compra de energia elétrica da Usina de Itaipu, que pertence aos dois países. “O problema é que o PT [em governos anteriores] fez concessões absurdas no passado com dinheiro do povo brasileiro. E o acordo nosso foi bem feito agora. Não queremos prejudicar o Paraguai, mas os contratos você tem que cumprir”.