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Confira tudo o que Mauro Cid revelou sobre Bolsonaro em seu primeiro depoimento à PF

No depoimento do primeiro anexo de sua delação premiada, prestado à Polícia Federal (PF) em agosto de 2023, o tenente-coronel Mauro Cid revelou bastidores de como aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se dividiram sobre a estratégia a adotar após a derrota nas eleições de 2022. Como ajudante de ordens da Presidência, Cid acompanhava de perto as decisões do então chefe do Executivo e narrou à PF que Bolsonaro considerava duas hipóteses principais: tentar comprovar uma suposta fraude nas eleições ou buscar apoio das Forças Armadas para um golpe de Estado.

Divisão de grupos

O depoimento detalha quatro grupos distintos no entorno de Bolsonaro.

  1. Conservadores: Defendiam que o ex-presidente encerrasse os acampamentos em frente aos quartéis e assumisse o papel de líder da oposição. Esse grupo incluía o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Ciro Nogueira (PP-PI), Bruno Bianco e o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior.
  2. Moderados contrários ao golpe: Temiam que aliados radicais levassem Bolsonaro a adotar medidas extremas. Entre os nomes, Mauro Cid citou o general Marco Antônio Freire Gomes e outros generais da ativa que argumentavam contra qualquer interferência armada.
  3. Defensores do exílio: Sugeriam que Bolsonaro deixasse o Brasil. Entre eles estavam o senador Magno Malta (PL-ES), o empresário Paulo Junqueira e o ex-secretário Luiz Antonio Nabhan Garcia.
  4. Radicais: Dividiam-se entre os que buscavam provas de fraudes nas urnas e os que pregavam um golpe armado. Filipe Martins, Onyx Lorenzoni, Gilson Machado e Eduardo Bolsonaro eram apontados como incentivadores de uma postura mais contundente, enquanto o general Mário Fernandes teria apresentado o plano “Punhal Verde e Amarelo”.

Planos de golpe e pressão sobre as Forças Armadas

Mauro Cid relatou que Bolsonaro recebeu de Filipe Martins um rascunho de decreto para novas eleições e a prisão de adversários políticos, incluindo ministros do Supremo Tribunal Federal. Após ajustes, Bolsonaro teria discutido o documento com os comandantes das Forças Armadas, buscando medir a adesão.

Segundo o depoimento, o almirante Almir Garnier (Marinha) apoiava um golpe, mas ressaltava a necessidade do apoio do Exército, enquanto o brigadeiro Baptista Júnior (Aeronáutica) era veementemente contrário. Já o general Freire Gomes mantinha posição intermediária, criticando a condução política, mas rejeitando a ruptura institucional.

Braga Netto e o plano de execução

O depoimento também trouxe revelações sobre o general Walter Braga Netto, preso em 2024. Mauro Cid afirmou que Braga Netto entregou dinheiro aos chamados “kids pretos” para financiar um plano que visava a execução do ministro Alexandre de Moraes, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do vice Geraldo Alckmin. Braga Netto teria, ainda, tentado influenciar a delação de Cid.

Respostas dos citados

Diversos citados negaram as acusações. O senador Magno Malta afirmou que suas interações com Bolsonaro se limitavam a orações e leituras bíblicas, enquanto Jorge Seif classificou as declarações como “falaciosas e mentirosas”. Filipe Martins é apontado como autor de um rascunho de decreto golpista, mas não se pronunciou até o momento.

Impactos e investigações

A delação de Mauro Cid expõe o cenário de divisão interna no núcleo bolsonarista e reforça as investigações sobre possíveis tentativas de golpe de Estado após as eleições de 2022. O teor completo do depoimento permanece sob análise da Justiça, com desdobramentos previstos para os próximos meses.