Cachorrinha viaja 58 km para dar o último adeus ao tutor, que aguarda pela morte na Santa Casa
O chato som dos aparelhos ecoando por todo o quarto, a dor de ficar há vários dias deitado na mesma cama e a agonia de ter a melhora no quadro clínico para poder voltar para casa e ficar junto de seus familiares, amigos e bichos de estimação. Só quem já enfrentou uma internação sabe bem de como é essa angústia. Mas graças a ajuda de terapias é possível ter certo alívio nessa rotina hospitalar e obter momentos de descontração e alegria.
Um paciente que está em cuidados paliativos na Santa Casa de Campo Grande teve um desejo atendido nesta quinta-feira (18). Amarildo Carlos Ferreira, de 56 anos, está internado no hospital há seis dias para tratar de uma cirrose hepática avançada e queria rever a sua cadelinha de estimação, chamada Lalá, que ficou na sua casa em Bandeirantes, a 58 km da Capital.
A cachorrinha chegou em Campo Grande na tarde de quarta (17), tomou um banho caprichado no pet shop e aguardou até a manhã de hoje para visitar o tutor no hospital. O encontro aconteceu na Unidade de Terapia Intensiva Cardiovascular (UTI), leito onde Amarildo está internado, já sem expectativa de recuperação e apenas aguardando pela sua morte.
“Essa ação é importante porque conseguimos humanizar e individualizar o atendimento, levando em conta os pilares do cuidado paliativo, que é trazer qualidade de vida nos momentos que restam ao paciente”, explicou a médica paliativista da Santa Casa, Fernanda Romeiro.
Amarildo é renal crônico dialítico e acumula outras internações do passado. “A esposa manifestou que, como ele já era cadeirante há muito tempo, a cadelinha só ficava próxima dele em casa. Então, era muito importante esse reencontro”, continuou a médica. “Se a gente não consegue devolver o paciente para o ambiente de casa, que poderia ser uma vontade dele, a gente tenta proporcionar um pedacinho disso aqui no hospital. Espero que essa ação abra portas para que a gente consiga fazer outras como essa”, complementou.
Apesar da fraqueza, Amarildo reconheceu a cachorrinha e até a chamou algumas vezes pelo nome. “Foi uma cena muito emocionante. Ela sempre esteve no colo dele e ao lado dele dentro de casa. Desde a internação, ela não para de chorar pela casa”, revelou a esposa do paciente, Fátima dos Santos Ferreira, de 52 anos. “Fiquei muito feliz com esse encontro. Tenho certeza que isso foi muito importante para ele”, complementou.
De acordo com a supervisora médica do Serviço de Geriatria e Cuidados Paliativos, dra. Paskale Vargas, a Terapia Assistida por Animais (TAA), conhecida pelo mundo como Pet Terapia, é um tratamento auxiliar para diversos tipos de doenças, muito utilizado por, comprovadamente, promover o bem-estar e a saúde emocional, física, social e cognitiva em pacientes hospitalizados. “A Pet Terapia é alternativa para tratar a ansiedade e depressão, a gente geralmente traz cachorros que são treinados para isso”, afirmou.
“Hoje, a equipe proporcionou a humanização. A gente trouxe o cachorrinho do paciente, que é um serzinho que ele tem um vínculo, numa situação de fim de vida. É um paciente dialítico que foi solicitado a suspensão da diálise e está em processo ativo de morte. E o que a gente fez foi realizar um desejo de fim de vida”, finalizou.