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Área invadida no bairro Centro-Oeste é herança do maior golpe imobiliário da Capital

A Energisa realizou nesta quinta-feira (11) o corte do fornecimento de energia elétrica da área pertencente a extinta construtora Homex e que foi invadida por mais de 1.200 famílias ao longo dos últimos anos. A região se encontra nos bairros Jardim Centro-Oeste e Paulo Coelho Machado, no macroanel rodoviário de Campo Grande. No início desta semana, também foi palco de duas ocorrências policiais de grande repercussão.

O corte de energia nos prédios e barracos começou cedo e envolveu 120 pessoas, 70 veículos da Energisa, Batalhão de Choque e Polícia Militar. De acordo com a concessionária de energia elétrica de Mato Grosso do Sul, os moradores daquela área realizaram ligações clandestinas e consomem, em média, 2202,777 MWh/ano, o que equivale a R$ 1.085.770 milhões de reais por ano.

Após a ação da Energisa, um grupo de 500 pessoas interditou o trânsito na rodovia federal BR-163. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) esteve no local para acompanhar a movimentação e tentar liberar o fluxo dos veículos, mas não obteve sucesso. O congestionamento já ultrapassava a marca de 7 quilômetros nos dois sentidos da via até às 17 horas.

O grupo quer a religação do serviço de energia e também a implantação de uma rede de água encanada. Eles também pedem um representante da Prefeitura Municipal de Campo Grande para que regularize a situação da área invadida.

Moradores de área de ocupação da Homex bloquearam anel viário em protesto aos cortes de energia nesta quinta (11) — Foto: Renata Santos/TV Morena

Região violenta

A região do jardim Centro-Oeste, mais precisamente na área invadida, é considerada de alta periculosidade pelas autoridades de segurança pública de Campo Grande. No início desta semana, duas ocorrências chamaram á atenção da sociedade e, talvez, tenham motivado a ação da Energisa desta quinta-feira.

O primeiro caso aconteceu na segunda-feira (08), quando o adolescente Gabriel Henrique da Silva dos Santos, de 17 anos, foi assassinado por duas pessoas em decorrência da cobrança de uma dívida no valor de R$ 400,00. O rapaz era casado e tinha o filho de um ano. A polícia já prendeu um dos responsáveis pelo crime e investiga o envolvimento da vítima com o tráfico de drogas.

Na terça-feira (09) uma mulher de 25 anos de idade foi presa após vizinhos a denunciarem por maus-tratos contra o filho de seis anos. A jovem agrediu a criança com um triciclo e depois teria queimado a mão do menino numa chama do fogão. As agressões ocorreram porque a criança teria pegado R$ 10,00 da bolsa dela para comprar chicletes. Testemunhas disseram que já viram a mulher dar bebidas alcoólicas para a criança e que é comum vê-la batendo nos filhos.

Herança da Homex

Apartamentos inacabados foram invadidos por famílias ao longo dos anos, que também tomaram conta do terreno em volta e que pertencia a construtora (Foto: Arquivo)

A área invadida é a maior herança deixada pela construtora mexicana Homex, que chegou à Campo Grande em 2010 contratada pela Caixa Econômica Federal (CEF) para a construção de três mil casas no bairro Centro-Oeste, tendo recebido diversos benefícios, inclusive da Prefeitura Municipal.

As unidades habitacionais atenderiam ao Programa Minha Casa, Minha Vida, do Governo Federal, no entanto, a empreiteira não cumpriu com uma série de acordos firmados no contrato e as construções foram paralisadas, resultado no maior golpe imobiliário que Campo Grande já viu.

O caso parou na Câmara Municipal e deu origem a uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) em 2014. O relatório final constatou que a construtora, falida em 2013, usou materiais de construção de péssima qualidade. Os apartamentos que chegaram a ser entregues aos moradores tinham infiltrações, rachaduras e desníveis no piso. Em alguns casos, até mesmo banheiros entupidos. Também foi constatado que a empreiteira não pagou direitos trabalhistas aos empregados.

A CPI ainda viu indício claro de desvio de dinheiro e estima um rombo que pode chegar a R$ 1 bilhão, incluindo juros, multas e custas processuais das ações na Justiça. “Um claro e forte indício de que não houvera tentativa da empresa em se estabelecer no Brasil e somente vieram para tentar ganhar dinheiro fácil e ir embora é justamente o tamanho da dívida declarada pelo próprio grupo”, cita parte do relatório final, que foi encaminhado para os órgãos competentes, mas nada foi realizado desde então.

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