Alunos da REME vão criar mosquitos dentro de casa para combater doenças do Aedes aegypti
Contra as doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti (dengue, zika e chikungunya), uma iniciativa inédita será testada em Campo Grande e poderá transformar a capital de Mato Grosso do Sul em referência mundial no combate ao inseto. Chamado de ‘Wolbito em Casa’, o projeto consiste em dar aos estudantes da REME (Rede Municipal de Ensino) cápsulas com ovos do Wolbitos, como são chamados os mosquito Aedes aegypti com a Wolbachia, que é a bactéria capaz de inibir a transmissão das doenças.
Os alunos irão receber um kit contendo um recipiente, material informativo e cápsulas com ovos do mosquito Aedes aegypti com Wolbachia, os chamados Wolbitos, que serão “cultivados” até a fase adulta. A atividade será supervisionada por coordenadores e professores da Rede Municipal de Educação. Eles serão divididos em dois grupos (A e B), em que cada um retira uma cápsula contendo ovos de Wolbitos e ração para as larvas a cada 15 dias. Toda a atividade deve durar 16 semanas.
Nesta primeira fase, serão cerca de 3 mil alunos de 17 escolas municipais localizadas nos bairros das regiões urbanas do Bandeira e Prosa. Os alunos irão receber um kit contendo um recipiente, material informativo e as cápsulas com ovos do mosquito Wolbitos, que serão “cultivados” dentro de casa até a fase adulta.
De acordo com a World Mosquito Program (WMP), responsável pela difusão e implementação do método que já está presente em 12 países, a criação dos mosquitos será supervisionada por coordenadores e professores da Rede Municipal de Educação, que serão divididos em dois grupos (A e B), onde cada um retira uma cápsula contendo ovos de Wolbitos e da a ração para as larvas a cada 15 dias. A atividade deve durar 16 semanas, entre o nascimento da larva do mosquito e o seu desenvolvimento para a fase adulta, quando será solto para que possa se reproduzir.
O objetivo do projeto é intensificar a implementação do Método Wolbachia, que consiste no controle biológico de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti a partir da liberação de mosquitos com a bactéria capaz de inibir a transmissão das doenças. Durante a manhã desta quarta-feira (10), a prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes, recebeu diretores do WMP para debater o início da atividade que, se der certo, tornará a cidade uma referência mundial.
“Aliado as ações que foram desenvolvidas pelas nossas equipes, a implementação do Método do Wolbachia em nosso Município certamente contribuiu para que a gente passasse dois anos sem enfrentar uma nova epidemia de dengue. E, para nós estamos à frente de uma nova estratégia que poderá servir de modelo não só para o país, assim como para todo o mundo, é um grande privilégio”, destacou a prefeita.
O líder do WMP no Brasil, Luciano Moreira, disse que os avanços obtidos em Campo Grande, sobretudo em relação ao engajamento e mobilização da comunidade, já podem ser considerados como referência.
“O trabalho que está sendo desenvolvido em Campo Grande desde o início é um exemplo. E isso tem atraído os olhares para cá e, por isso, nós viemos juntamente com o grupo de diretores que atuam em países como Austrália, Colômbia e Vietnã para conhecer esse modelo. Com esta iniciativa de envolver a comunidade escolar e as crianças, a cidade sai mais uma vez na frente e certamente isso trará resultados extremamente positivos”.
“Com o retorno às aulas presenciais na rede de ensino, visando contribuir para o estabelecimento dos Wolbitos, ajudando na saúde da população local e também contribuir no aprendizado dos alunos, pensamos na liberação comunitária como alternativa. Chamamos de “Wolbito em casa” e será uma oportunidade dos alunos observarem na prática todo o desenvolvimento de um inseto, permitindo também, aos professores, o desenvolvimento de atividades e trabalhos para serem elaborados e apresentados em feiras de ciências e entre as demais escolas da Reme”, justificou Antonio Brandão, Gestor de implementação do Método Wolbachia em Campo Grande.
Para o secretário municipal de Saúde, José Mauro Filho, a estratégia que será desenvolvida por Campo Grande será fundamental para a consolidação do método, sendo fundamental na sensibilização e mobilização da comunidade.
“Quando se envolve a criança em um projeto como este, ela atua não somente como uma parte executora, mas também como um agente multiplicador. Com as orientações passadas na escola, ela irá envolver toda a sua família neste processo. Com isso, há um engajamento espontâneo onde todos ali presentes irão se inteirar sobre o projeto contribuindo assim numa difusão mais eficaz”, disse. O lançamento oficial do Wolbito em casa está previsto para ser realizado no dia 16 de agosto, na Escola Municipal Rachid Saldanha Derzi, no Bairro Jardim Noroeste.
Wolbachia em Campo Grande
A soltura dos mosquitos com a bactéria Wolbachia teve início na Capital em dezembro de 2020 e atualmente já se encontra na sua quinta fase de implementação. O método já está presente mais de 30 bairros de diferente regiões.
No Brasil, o Método Wolbachia é conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com financiamento do Ministério da Saúde, em parceria com os governos locais. Além de Campo Grande, ele atua no Rio de Janeiro (RJ), Niterói (RJ), Belo Horizonte (MG) e Petrolina (PE).
O primeiro local de atuação do WMP foi o norte da Austrália, em 2011, e opera atualmente em 12 países (Austrália, Brasil, Colômbia, México, Indonésia, Laos, Sri Lanka, Vietnã, Kiribati, Fiji, Vanuatu e Nova Caledônia).
Os casos dengue, doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypty, têm se mantido estáveis em Campo Grande. Há dois anos o Município não enfrenta uma epidemia da doença.
Dados epidemiológicos
De 01 de janeiro ao dia 09 de agosto de 2022 foram registrados 12.721 casos notificados de dengue e sete óbitos provocados pela doença. No mês de julho foram notificados 641 casos, o que representa uma redução de 65% em relação ao mês anterior, onde foram notificados 1.866 casos da doença.
Em 2019, Campo Grande registrou 44.871 casos e oito óbitos provocados pela dengue. À época, a Prefeitura realizou uma força-tarefa batizada “Operação Mosquito Zero”, envolvendo a sociedade civil organizada e todas as secretariais municipais. Foram realizadas ações de manejo nas sete regiões urbanas e distritos do Município, para conter o avanço da doença.
No ano seguinte, 2020, os casos caíram pela metade, resultado do trabalho executado. Em todo o ano, foram 20.198 notificações e 7 óbitos. Mesmo durante a pandemia de Covid-19, os trabalhos de combate ao mosquito Aedes aegypti continuaram sendo realizados, o que levou o Município a registrar uma redução histórica de mais de 90% nos casos em 2021. Em todo o ano passado, a Capital registrou 5.288 casos notificados de dengue e 4 óbitos provocados pela doença.