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Mostra David Cardoso é oportunidade de conhecer “causos” dos primórdios do cinema gravado em MS

David Cardoso é história viva do cinema brasileiro e também do cinema feito em Mato Grosso do Sul. Durante a Mostra que comemora seus 60 anos de carreira, no Museu da Imagem e do Som, que começou vai até esta sexta-feira (23), o Rei da Pornochanchada conta causos e histórias que marcaram o cinema feito no Estado. Durante a exibição dos filmes, ele comenta de forma irreverente o modo de fazer do cinema daquela época.

“Ele é um dos maiores realizadores do cinema aqui de Mato Grosso do Sul. A gente faz essa Mostra e essa pequena exposição para rememorar toda essa história, toda essa trajetória. E por exemplo, nessa obra de hoje você consegue ver um Mato Grosso do Sul totalmente diferente, nessa paisagem, então a gente reconhece que esses filmes, apesar de serem filmes de ficção, é um documentário de uma época. Ele mostra, documenta paisagens, enfim, a forma de vida das pessoas… até para fazer este filme ele pensa nos aspectos daquele momento da sociedade. E a gente trazer dessa cinematografia dele cinco filmes filmados em Mato Grosso do Sul, e se você considerar ‘19 Mulheres e um Homem’, um dos mais importantes da cinematografia dele filmado em Mato Grosso do Sul, então para a gente que agora salvaguarda este arquivo, vamos tirar este arquivo do nosso acervo e trazê-lo ao público. E ele, que é uma pessoa que está aí com a gente, poder compartilhar, dividir esses momentos, é muito especial uma sessão com ele, que conta de uma forma muito irreverente todo esse processo e toda essa história que ele traz consigo. A gente sabe que depois que as pessoas se vão é uma memória que também se vai. Então ele é essa memória viva aí com a gente”, diz a coordenadora do MIS-MS, Marinete Pinheiro.

O secretário de Cultura, Eduardo Romero, deu as boas-vindas a todos os presentes na Mostra e falou sobre o orgulho de ter o artista David Cardoso representando Mato Grosso do Sul nessa trajetória da história cinematográfica brasileira. “É uma honra nessa semana a gente começar a segunda-feira, aqui no MIS, com esta Mostra David Cardoso, 60 anos de atuação no cinema, a vida dele foi dentro do cinema a vida toda. E o David é uma pessoa que nos orgulha muito. Primeiro, para quem conhece, o alto astral que é e o quanto ele é dedicado ao que ele faz, e depois essa vitalidade que ele traz nos modos de fazer, nos seus modos de viver e acima de tudo, de manter viva a nossa cultura. Tem pessoas que conhecem a obra do David, tem pessoas que já ouviram falar mas não assistiram por completo, mas o mais importante é esse marco referencial que a gente tem. Temos hoje as facilidades das edições, dos efeitos especiais, das produções por editais subsidiadas, uma realidade muito diferente de quando o David começou suas primeiras produções e se manteve nelas, porque o mais difícil, em qualquer linguagem artística, é a gente abrir a picada e manter o caminho aberto, e você é esse desbravador. A gente tem muito orgulho de ter você representando Mato Grosso do Sul nessa história, nessa trajetória. Essa Mostra é um reconhecimento nosso da sua trajetória, do que você tem feito pela arte e pela cultura para a questão do audiovisual e do cinema sul-mato-grossense”.

O próprio David Cardoso, que estará presente durante todos os dias da Mostra no MIS, falou, antes da exibição do primeiro filme “Caingangue – a Pontaria do Diabo”, que este foi o filme mais difícil de sua vida. “Nunca sofri tanto na minha vida igual esse filme aqui. Quando eu falo que eu fiz 80 filmes, não são meus, eu trabalhei para os outros. Eu fiz 39 da minha produtora. Em 1962, assinei contrato com o grande gênio do cinema brasileiro, Amácio Mazaroppi, então foi assinado em 1962 e filmamos em 1963. Quando eu entrei na sala dele ele disse: ‘Você que é o Cardoso?’. Eu disse ‘sou eu mesmo’. Ele disse: ‘O que você quer fazer?’, ‘O que você sabe fazer em cinema?’, ‘Eu não sei fazer nada, mas eu quero aprender’. E foi aí que eu comecei na técnica, demorando seis anos depois para fazer o ator principal de um filme em preto-e-branco feito por um mato-grossense, na época o Estado era uno, que é o Reinaldo Paes de Barros. Esse filme Caingangue foi muito difícil porque não tinha tecnologia, nós tínhamos que colocar os cavalos para tropeçar, cair, um quebrou o braço, o outro ficou sem orelha… Hoje eu seria preso, era uma coisa impressionante. Eu peguei essas armas todinhas aqui do Exército, da Aeronáutica, joguei dentro do carro, de uma Rural, e corri para Maracaju. E o Exército estava fazendo uma fiscalização no meio da estrada. Eu com cinquenta mosquetões, uma .30 e uma .50, aí eu tive que me explicar. Era tudo uma coisa mais romântica…”

“Para mim os dois gênios do cinema brasileiro chamam-se Anselmo Duarte, que fez O Pagador de Promessas, e o Mazzaroppi, os dois gênios que, sem a ajuda da Embrafilme, sem a ajuda de Lei Rouanet, não tenho nada contra, conseguiram fazer o seu cinema. E eu me incluo na área da pornochanchada nesse segmento, porque eu fiz sozinho. Tive sócios milionários daqui de Mato Grosso do Sul como também de São Paulo. Mas voltando aqui ao Caingangue, quase todos desse filme já morreram. A atriz principal do filme é a minha ex-mulher que faleceu agora há oito meses, a mãe do James, do Davizinho, da Thalita, a Evelise. Era noiva do Sílvio Santos, largou o Sílvio Santos para ficar comigo. Aí o James fala: pai, você XXX com a nossa vida, né, porque se você não tivesse aparecido nós seríamos donos do Baú hoje, né. A mulher do Governador faz um papel no filme, a menininha, a Fátima, ela vai aparecer aí por uns dez minutos dando uma interpretação fora de série. É impensável saber o que foi feito para poder realizar esse filme. E o qualifico como o maior faroeste já realizado na América Latina, feito há 50 anos, em 1972”.

E para quem tiver interesse em conhecer mais “causos” e histórias do cinema feitos naquela época, basta prestigiar a Mostra em comemoração aos 60 anos de carreira de David Cardoso, com a presença do próprio artista.

Confira abaixo a programação e participe! A Mostra tem a classificação indicativa de 14 anos.

Dia 19/09/2022 – Caingangue, A Pontaria do Diabo

Duração: 101 min

Gênero: Aventura, Faroeste

Direção: Carlos Hugo Christensen

Roteiro: Carlos Hugo Christensen

Tipo: Longa Metragem

Idioma: Português
Classificação Indicativa: 14 anos

SINOPSE: A história começa quando o pai de um jovem mestiço índio é morto numa emboscada numa estrada perto da fronteira do Mato Grosso (atual Mato Grosso do Sul) com o Paraguai. Anos depois, o jovem vagueia pelo Cerrado como o misterioso pistoleiro solitário conhecido como Caingangue. Cavalgando pelos campos, ele avista a família do posseiro Zé Cajueiro sendo ameaçada por um bando de jagunços. Com rapidez ele age e imediatamente cinco jagunços caem mortos. Caingangue leva os cadáveres para a vila de Santa Helena, quando o sinistro coveiro Lírio Branco de Jesus os identifica como capangas do Doutor Ribeiro, proprietário da Fazenda Ouro Verde. Em poucas palavras, Lírio conta a história do lugar, marcado por confrontos de 20 anos entre os posseiros e os grileiros. Caingangue diz a todos que “está de passagem,” mas aos poucos resolve intervir na luta do lado dos posseiros.

Dia 20/09/2022 – Corpo e Alma de Mulher

Duração: 91 min

Gênero: Drama

Direção: David Cardoso

Roteiro: Ody Fraga

Tipo: Longa Metragem

Idioma: Português

Classificação Indicativa: 16 anos

Sinopse: Um jovem casal, Rodrigo e Aimé, se amam profundamente e fazem de tudo para alcançar a felicidade eterna. Porém Aimé sofre um acidente acontece e fica paraplégica.

Dia 21/09/2022 – Dezenove Mulheres e Um Homem

Duração: 107 min

Gênero: Aventura

Direção: David Cardoso

Roteiro: David Cardoso, Ody Fraga

Tipo: Longa Metragem

Idioma: Português

Classificação Indicativa: 18 anos

Sinopse: Dezenove universitárias alugam um ônibus para uma excursão ao Paraguai, no meio do caminho, o veículo é interceptado por perigosos bandidos. O motorista Rubens é a única esperança para salvá-las.

Dia 22/09/2022 – Desejo Selvagem – Massacre no Pantanal

Duração: 95 min

Gênero: Ação, aventura

Direção: David Cardoso

Roteiro: Ody Fraga

Tipo: Longa Metragem

Idioma: Português

Classificação Indicativa: 18 anos

Sinopse: A região do Pantanal é o lugar ideal para homens inescrupulosos em busca de fortuna, aventura e anonimato. Piloto de um pequeno avião que presta serviços no local, o jovem Tigre decide defender Mônica, herdeira de uma grande fazenda, contra a conduta predatória do ambicioso Malamud. Visando tornar-se o maior proprietário de terras da região, Malamud usa uma quadrilha de homens violentos para extorquir e matar outros fazendeiros.

Dia 23/09/2022 – Sem Defesa

Duração: 110 min

Gênero: Documentário

Direção: David Cardoso

Roteiro: David Cardoso

Tipo: Longa Metragem

Idioma: Português

Classificação Indicativa: 14 anos

Sinopse: Documentário realizado em Mato Grosso do Sul que aborda temas como maioridade penal, pena de morte, uso de drogas, maus tratos de crianças e mulheres, lentidão no Poder Judiciário, uso de células-tronco, corrupção, além de violência social.

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