Um post de outubro de 2021, com o relato de um conselho dado de uma irmã para outra e uma breve frase em tom motivacional, virou meme nas redes.
E, mais do que isso. Desde então, se tornou sinônimo de força e empoderamento para lidar com diversas situações desafiadoras do cotidiano.
“Foi uma mensagem de muito carinho, uma tentativa muito forte de aumentar a autoestima dessa irmã que estava sofrendo, então é muito positivo esse meme. Vejo ele muito mais com olhar antropológico e filosófico do que com olhar propriamente da moda”, afirma a stylist Bia Kawasaki, autora do livro “Dress Code – impacto da imagem pessoal nos negócios”.
Empoderamento através da moda
Apesar de o cropped (aquele modelo de blusinha que deixa parte da barriga à mostra) ter ganhado esse sinônimo de empoderamento com o meme, Bia acredita que “o verdadeiro empoderamento da moda, a verdadeira riqueza da moda, será proporcional à medida que sirva pra contribuir a valor insubstituível de cada pessoa”.
“Nós somos plurais. Cada um à sua maneira, cada um com seu carisma, estilo pessoal e valores.”
“O verdadeiro empoderamento da mulher está associado quando protegemos a nossa intimidade, quando valorizamos nosso eu, que é único e irrepetível. E todas as vezes que nós exteriorizamos nossa virtude através da moda, nós nos tornamos pessoas verdadeiramente empoderadas.”
E para a valorização do “eu”, Bia destaca a importância de se evitar comparações excessivas.
“Não é porque o cropped fica lindo na Rihanna, que vai ficar lindo em mim também. Essas comparações excessivas com influencers do Instagram, de outras mídias digitais, podem nos levar a tristeza”, alerta.
A história do cropped
Apesar de o meme ter poucos meses, o cropped ultrapassa períodos históricos. Segundo Bia, existem relatos do uso da peça 3 mil anos antes de Cristo.
“Em povos na antiguidade, especialmente no Egito, as mulheres utilizavam um vestido justo, longo, chamado kalasiris. E muitas vezes, ele podia ser só a saia. A parte de cima, utilizavam uma espécie de capa egípcia com modelagem arredondada que já ficava de barriga de fora.”
O traje era usado por homens e mulheres.
Já nas décadas de 1930 e 1940, a peça era bastante utilizada na moda praia. E voltou com força total no final da década de 1960, início da década de 1970, período de uma macrotendência chamada DIY (Do it Yourself), o tal do “faça você mesmo”.
“As mulheres cortavam as próprias blusas e refaziam as suas, recostumizavam as suas peças, deixando a barriga de fora.”
Nas décadas de 1980 e 1990, lá estava o cropped em alta de novo.
“Especialmente com a Madonna, que usou muito cropped no palco. Depois Rihanna, no início de 2000, 2011. E agora o cropped ressurge com força total”, conta Bia.
Cropped para todas?
Bia explica que a “moda está muito democrática”.
“Acredito que a mulher que se sente confortável em mostrar a barriga através do cropped, ela vai usar e ela pode usar.”
Mas a sylist explica que o cropped ainda não superou algumas barreiras físicas.
“Esteticamente, o cropped valoriza exclusivamente mulheres com biótipo ampulheta, mulheres com cintura fina.”
“Pode ser uma mulher bem magrinha, manequim 36, 38, até uma mulher plus size, manequim 46, 48. Mas é fundamental que essa mulher tenha cintura fina, proporcionalmente comparada a cintura do busto e do quadril.”
“Para o biótipo retângulo e para o biótipo oval não há indicação técnica e estética.”
Ela ainda dá dicas sobre qual modelo de peça usar a depender do tamanho do busto:
Mulheres com busto grande serão mais favorecidas com decote em “V” e com peças mais soltas
Mulheres com busto pequeno poderão apostar mais em decote canoa, decote careca ou com a gola alta. Modelos mais soltinhos valorizam muito essa mulher que tem o tronco mais fininho.
Vale para qualquer ocasião?
Outro ponto de atenção para o uso da peça, segundo Bia, é o ambiente em que ela será usada.
“Onde é que eu vou com esse cropped? Eu vou pra um churrasco, eu vou pra praia? Ou eu vou pra uma reunião de trabalho, um ambiente mais formal?”.
“No meu livro eu aponto todas as modelagens com a barriguinha de fora como vilãs no ambiente corporativo. Especialmente nos ambientes mais formais. Eu até brinco que nosso umbigo jamais poderá conhecer nosso ambiente de trabalho.”
Bia também aconselha o “uso do bom senso” na hora de vestir um cropped, a depender da imagem que se quer passar.
“Já que moda é comunicação, o que é que eu quero comunicar? Onde é que eu quero chegar, qual caminho trilhar, quais são meus verdadeiros valores, como comunicá-los através da minha imagem pessoal?”
“Se a resposta for ‘um cropped comunica tudo isso’, vai com fé, vai fundo, bota um cropped e vai ser feliz.”