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Da dependência a casa própria, usuários contam como conseguiram superar vícios com apoio da Prefeitura

Idas e vidas de casas terapêuticas, idas e vindas das ruas. A vida de um dependente químico, muitas vezes, parece um eterno looping. Ele não consegue enxergar uma saída e sonhar com uma mudança com uma casa própria parece algo tão inalcançável, que poucos ousam fazê-lo.

Michael Felipe Ramalho da Silva, que trabalhava como gerente de negócio corporativo e foi promovido nesta semana a diretor regional da região de Campo Grande, conseguiu quebrar esse ciclo. Agora, ele exerce um cargo de chefia e já está financiando um apartamento. Ele conta que jamais conseguiria chegar aonde chegou sem ajuda das pessoas que o acolheram.

Michael foi promovido no trabalho devido aos seus esforços e comprometimento.

“Eu fui adicto e devido a isso fiquei em situação de rua. Até um ano atrás eu estava nesta situação. O serviço social da Prefeitura veio e me acolheu. Fui para o Centro POP e lá comecei a ter uma nova perspectiva. Tive algumas recaídas ao longo dessa jornada, mas sempre tive apoio da assistência social nos momentos mais difíceis. Hoje, tenho dois empregos e estou financiando meu apartamento”, diz, enfatizando que quando uma pessoa contribui com esmolas, ela incentiva a dependência química de alguém. “Ela pode evitar que o dependente roube, mas contribui também para que a pessoa não saia dessa vida”, diz.

Michael sabe bem o que diz. Ele esteve por diversas vezes em comunidades terapêuticas e conta que só conseguiu superar com a ajuda das pessoas que o ensinaram que ele podia cair e se levantar, pois uma hora estaria forte e teria o firmamento necessário para se manter em pé.

“A gente cai, a gente levanta, mas uma hora a gente levanta e permanece em pé. A pessoa que está em situação de rua tem grande potencial, porque é uma pessoa que corre atrás. Não existe uma pessoa que conseguiu sair da rua, que conseguiu um trabalho e não esteja bem. São pessoas que chegam aos lugares e ninguém acredita que viveram a situação de rua”, diz.

Adicto desde menino, Alex Sandro está em recuperação e só quer voltar para a família.

Acolhido ano passado na escola municipal “Maria Regina de Vasconcellos Galvão”, transformada em acolhimento provisório durante a pandemia, Michael teve a oportunidade de reconstruir sua vida profissional com a ajuda da equipe da unidade, que o ajudou a conquistar uma vaga de garçom. De lá para cá, ele foi evoluindo, e hoje já enfrenta novos desafios como a promoção que acabou de receber.

Coordenadora do espaço na época, Maria do Carmo de Oliveira da Silva lembra com alegria da trajetória de Michael. “Estou emocionada com essa última conquista do Michael. É gratificante ver o resultado do nosso trabalho sendo valorizado devolvendo a autonomia do usuário em poder gerir a própria vida”, disse

Já Alex Sandro Silva, um dos 39 acolhidos na UAIFA 2, conta que hoje está feliz porque em breve vai estar novamente com sua família. “Eu fui usuário de droga, fui alcoólico. Hoje eu estou mudando de vida. Foram quase 30 anos no vício. Comecei a usar droga muito menino. Minha mãe falava para eu não fazer, que iria parar na cadeia e fui preso, fiquei dez anos isolado. Hoje, quero que minha mãe tenha orgulho de mim”, conta.

Elton Souza sonha com uma vida cada vez melhor.

De Presidente Prudente, Alex Sandro está aguardando sair toda sua documentação para poder voltar para sua cidade e viver com a família. “Eu tenho filhos lá, netos… Minha esposa que quer voltar comigo. Eu vou voltar pra ela. Eu quero voltar a ter minha família. Eu havia perdido minha família por causa de drogas, mas minha vida agora é outra. Não quero mais saber de coisa errada”, pondera.

Também acolhido na UAIFA 2, Elton Souza conta que saiu de casa por causa do vício em álcool e cocaína, mas agora já vislumbra novas perspectivas. “Eu sai da casa do meu pai e fui pra rua. Isso aconteceu no ano passado. Ai eu fui abordado pelo SEAS e eles me encaminharam para a Escola Maria Regina, onde estava havendo acolhimento no período crítico da pandemia. Fui parando de beber, de usar drogas”, conta.

Ele chegou a trabalhar por contrato, por um período de 8 meses. Agora busca novas oportunidades. “A minha vida melhorou a partir do acolhimento, foi dando andamento nas coisas que eu não tinha. Eu fui tendo novas oportunidades. Graças a Deus que tenho aqui, que não estou na rua. Minha expectativa é melhorar cada vez mais”, vislumbra.

A assistente social da UAIFA 2, Giany da Conceição Costa, explica que este é o objetivo da unidade: trabalhar na construção do ser humano. “O trabalho da assistência social é fazer a ponte, dar autonomia, fazer com que eles acreditem que eles podem sair do acolhimento para ter uma casa, para ter um trabalho, para retornar para a sociedade. São pessoas em situação de rua, não moram na rua. A rua não é morada de ninguém”, frisa.

Giany da Conceição Costa, assistente social.

Ela ainda explica que todo trabalho é individualizado, conforme a necessidade de cada acolhido. “A partir do atendimento individual a gente faz o encaminhamento. Tem gente que vem e precisa de documento, ou tem alguma dependência, aí a gente encaminha para tratamento. A gente faz essa ponte com a saúde, ou com as comunidades terapêuticas. No mais, a SAS trabalha com toda a orientação e encaminhamento para o mercado de trabalho”, pontua.

A Prefeitura mantém quatro unidades de acolhimento de pessoas em situação de rua, migrantes e imigrantes. São duas UAIFAs (Unidade de Acolhimento Institucional para Adultos e Famílias), cada uma tem capacidade para atender até cem pessoas ao dia; mais a Casa de Passagem Resgate, que é cofinanciada e tem capacidade para 80 vagas (migrantes e imigrantes) e a Casa de Apoio São Francisco de Assis, que também é cofinanciada e atende até 50 pessoas.

Somente a na UAIFA 1 (antigo Cetremi) passaram 194 pessoas durante todo o mês de agosto. Se formos contabilizar de março de 2021 a agosto deste ano já foram realizados mais de 3,2 mil atendimentos nas unidades de acolhimento institucional da SAS, além de 2036 atendimentos a migrantes e imigrantes. Também foram realizados 926 encaminhamentos para o mercado de trabalho e fornecidas 1447 passagens a pessoas em situação de rua e estrangeiros que puderam retornar às suas cidades de origem, restabelecendo os vínculos familiare

Quem conhece alguém que precisa do serviço de acolhimento é só acionar o Serviço Especializado em Abordagem Social (SEAS) pelos telefones (67) 98404-7529 ou 98471-8149. O serviço funciona 24 horas por dia. Ao acioná-lo, as equipes informarão sobre a estrutura das unidades de acolhimento e onde o usuário pode receber atendimento.

De janeiro de 2020 até agosto deste ano, o SEAS totalizou 2.812 abordagens. As pessoas que aceitam o acolhimento, são levadas ao Centro POP, onde passam por uma triagem e são encaminhadas para uma das unidades de acolhimento

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