Especialistas pontam fatores de risco, hábitos de prevenção e perspectivas de cura da trombose
Dor, que pode ser semelhante a uma cãibra, normalmente na panturrilha ou coxa, inchaço, calor na área afetada, vermelhidão ou coloração azul arroxeada na pele, veias dilatadas, são alguns dos sintomas da trombose, doença caracterizada pelo desenvolvimento de um coágulo (trombo) dentro de um vaso sanguíneo, impedindo ou limitando o fluxo do sangue.
De acordo com dados levantados pela Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), mais de 489 mil brasileiros foram internados para o tratamento de trombose venosa entre janeiro de 2012 e agosto de 2023. A doença tem tratamento disponível através do Sistema Único de Saúde (SUS).
O que causa a trombose?
A formação do trombo pode ocorrer em veias ou artérias, e dependendo do local, recebe denominações específicas, como Trombose Venosa Profunda (TVP) ou Trombose Arterial. Neste caso, o coágulo pode bloquear o fluxo de sangue para órgãos vitais como o coração e o cérebro, podendo resultar em infarto do miocárdio (ataque cardíaco) ou Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Além destes tipos, há outros principais como: Embolia Pulmonar, quando um coágulo se desprende de uma veia e se aloja nas artérias dos pulmões (pode ser fatal se o paciente não for tratado rapidamente); e Trombose Venosa Superficial, que envolve veias próximas à superfície da pele, geralmente nas pernas, e é menos grave que a TVP, mas pode causar dor e inchaço localizados. As veias mais comumente acometidas são as dos membros inferiores (cerca de 90% dos casos).
“Para cada tipo da doença há diferentes fatores de risco e implicações clínicas, sendo importante um diagnóstico rápido para evitar complicações graves”, destacou o médico José Lacerda Brasileiro, cirurgião vascular do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Humap-UFMS/ Ebserh).
As causas mais comuns incluem: obesidade; tabagismo; ficar muito tempo parado, como em viagens longas ou em repouso no leito; cirurgias, fraturas ou outras lesões que possam danificar os vasos sanguíneos; uso de anticoncepcionais ou terapia de reposição hormonal; doenças crônicas como diabetes, hipertensão e insuficiência cardíaca, assim como alguns tipos de câncer e seus tratamentos. Pessoas com trombofilia hereditária têm um maior risco para o desenvolvimento de trombose. “Todos esses fatores podem agir isoladamente ou em conjunto”, explicou José Lacerda.
Como diagnosticar a doença
O diagnóstico ocorre através de uma combinação da avaliação clínica e exames de imagem, sendo os mais comuns: Ultrassonografia Doppler; Angiotomografia Computadorizada; D-dímero, exame de sangue que mede a presença de fragmentos de fibrina; Venografia ou Arteriografia, que é um exame invasivo usado em casos mais específicos.
José Lacerda esclareceu que o médico pode escolher os exames mais adequados com base na suspeita clínica. Segundo ele, quando detectada nas fases iniciais, a trombose pode ser tratada com medicamentos anticoagulantes que ajudam a prevenir a formação de novos coágulos, reduzem o risco de o coágulo já existente aumentar de tamanho ou se deslocar, causando embolias pulmonares potencialmente fatais.
Prevenção e tratamento
O médico angiologista Cristiano Cruz, do Hospital Universitário Alcides Carneiro, da Universidade Federal de Campina Grande (HUAC-UFCG/Ebserh), explicou que o tratamento da trombose é medicamentoso, com anticoagulantes, e é associado ao uso de meias elásticas. Também destacou que as opções terapêuticas estão em evolução, sendo desnecessária a internação do paciente para aplicação da medicação adequada.
Sobre a prevenção, Cristiano Cruz, apontou que movimentar-se é a melhor estratégia, pois pacientes com restrição de movimentos, mesmo que temporária, têm mais risco. Ele esclareceu que em pessoas acamadas, o fluxo do sangue diminui de velocidade, levando a uma estase venosa e coagulação do sangue.
“Medidas como utilização de meias elásticas, compressão pneumática intermitente, ou até as profilaxias medicamentosas com doses menores de heparina ou anticoagulantes, também podem ser usadas. Para isso, fazemos uma estratificação do risco de trombose para cada paciente e adotamos a melhor conduta a ser utilizada”, explicou o Cruz.
Para diminuir as chances de complicações, ele afirmou que é importante a pessoa diagnosticada com trombose seguir rigorosamente as orientações médicas do tratamento. “Tomar as medicações corretamente, usar as meias elásticas. Deixando de fazer isso, as sequelas podem se tornar bem piores e comprometer muito a sua qualidade de vida”. O médico explicou que, quando bem conduzida, as chances de complicações diminuem. “Se tiver desconforto respiratório, falta de ar, dor torácica, tosse persistente, procurar imediatamente uma emergência hospitalar, e seguir com a medicação e as orientações médicas prescritas”, finalizou.
Impactos e complicações para o paciente
A trombose pode deixar sequelas como, por exemplo, o paciente pode sair de uma doença aguda para um quadro crônico, que é a Síndrome Pós-Trombótica (SPT), podendo apresentar sintomas como inchaço, dores, sensação de peso nas pernas, dormências, queimação, alterações na pele como coloração escura, até o aparecimento de feridas de difícil cicatrização. Com o tratamento correto, o paciente tem maiores chances de ter sintomas mais leves.
Conforme afirmou o médico Cristiano Cruz, a SPT pode causar um maior impacto emocional no paciente. “Por precisar passar por um tratamento a longo prazo, muitas vezes pelo resto da vida, já que não haverá uma cura e sim um controle da doença, o paciente fica angustiado. Isso pode causar dificuldade para retomar à rotina de trabalho e ao convívio social”, completou.