Pai perde três filhos de uma vez durante deslizamento de terra em Petrópolis: “Minha vida acabou!”
Sentados na fileira de cadeira, o casal Francisca Maranguape Silva, de 50 anos, e Fábio Machado Silva, de 44, aguardava ser chamado para o reconhecimento e a identificação dos corpos dos três filhos: Stephanie Maranguape Silva, de 11 anos; Daniel Maranguape Silva, de 6 anos; e Mila Maranguape Silva, de 13 anos.
As crianças foram vítimas fatais da tragédia que destruiu a cidade de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, no último dia 15 de fevereiro.
Ao todo, mais de 180 pessoas morreram no desastre provocado pela forte tempestade seguida de um desmoronamento de terra que afetou pelo menos 80 casas.
Naquele dia triste, a mãe, Francisca, estava tentando sair do seu local de trabalho, no centro da cidade, e chegar até a sua casa no bairro Alta de Serra, onde os filhos e marido, Fábio, estavam.
Até então, a expectativa era que a família estaria segura dentro de casa, confortável e protegida da chuva. Mas a tempestade acabou provocando um desmoronamento de terra no morro, arrastando ladeira abaixo uma dezena de imóveis, com lama e enxurrada.
Em entrevista ao site G1, Fábio Machado relatou que chegou a ouvir os estrondos iniciais do deslocamento da terra. Mas foi tudo tão rápido que não houve tempo para uma reação.
Ainda com marcas da queda, ele contou que a destruição aconteceu menos de um minuto depois. Fábio chegou a voltar no local onde a casa fica, mas já não encontrou seus filhos.
“A chuva estava muito forte, eu não suspeitei de nada. Por volta das 16h15, um barulho muito grande veio do alto. Igual a trote de cavalo, fiquei desesperado. Meu instinto de pai falou mais alto e eu gritei: ‘Mila, Stephanie, Daniel’. A mais velha desceu a escada e eu fui pegar os três. Nós voltamos para escapar do desastre, só que a água aumentou e me jogou lá na casa da minha cunhada a 30 metros de distância. Antes de cair, eu falei ‘sobe, meus filhos’. Eu retornei pro local 20 minutos depois, mas já era tarde”, disse ele.
Emocionado, o pai citou que está transtornado e em choque. “Eram tudo pra mim, minha vida era eles. Minha vida, praticamente, acabou. Sou um morto-vivo agora. Quero só a força de Deus e do Espírito Santo para me consolar”, emendou.
A mãe Francisca compartilhou que não consegue se alimentar desde aquele terrível e interminável dia. “Eu não como desde terça-feira. Tô só no suquinho, na água… mas Deus que está me mantendo em pé. Quando eu me deito, eu choro, porque eu não vou ver mais as minhas crianças, né? Eu adorava fazer as coisinhas, eram tudo pra mim”, contou.
“Daniel, uma semana antes, chegava na porta da cozinha e falava pra mim: ‘Mãe, eu te amo, o que eu faço pra te ajudar pra você ficar comigo, porque eu quero que você fique comigo’. Parece que ele tava adivinhando. E a Stephanie no domingo chorou muito, muito. Aí eu falei assim: o que essa menina tem? ‘Eu não sei, mamãe, eu não sei’. E a Mila nunca foi de fazer as coisas pra mim, aí nesse dia ela começou a fazer um monte de coisa pra mim. Parece que eles estavam adivinhando o que ia acontecer pra frente, isso não sai da minha cabeça”, completou ela.
Até o fechamento deste texto, 178 corpos haviam sido resgatados dos destroços e da lama em Petrópolis. O número já é o maior registrado na história da cidade – a maior catástrofe até aqui era a de 1988, quando 171 morreram. Os bombeiros ainda procuram por110 pessoas desaparecidas.
Dos corpos já resgatados, 143 foram identificados, entre esses estão os três filhos de Francisca e Fábio.