Levado pela polícia aos 14, aprovado na OAB aos 23: ‘Graças ao teatro mudei minha vida’
Todos encontraram dificuldades para vencer na vida. Atingir o sucesso é um caminho árduo, complicado e repleto de etapas que vão sendo superadas gradativamente com o passar do tempo.
Não importa qual seja a sua condição, dos mais pobres até aos mais ricos, não há ninguém que consiga chegar ao topo daquilo que almeja da noite para o dia. Evidentemente que alguns conseguem isso com mais facilidade enquanto que outros precisam superar obstáculos maiores.
O caso que iremos contar hoje é de um homem bastante humilde, simples até no seu nome de batismo, mas que apesar de todos os cenários desfavoráveis conseguiu dar a volta por cima e se consagrar como uma grande e vitoriosa pessoa.
Alex de Jesus, de 23 anos, nasceu na Comunidade Filhos da Terra, na zona norte de São Paulo (SP). A sua família, assim como qualquer outra que reside numa favela, tem a origem modesta. A mãe trabalha como empregada doméstica enquanto que o pai é pedreiro.
Seus pais não receberam uma boa educação na infância e, por disso, possui apenas o ensino básico. A mãe, por exemplo, só conseguiu aprender a ler depois de adulta.
Ao lado do irmão, Alex sempre se virou sozinho desde muito novo. A escola que eles frequentavam não era de tempo integral, enquanto que seus pais precisavam ficar fora de casa o dia inteiro trabalhando.
Na rua, os dois meninos tiveram todos os tipos de influência possível. Como a atenção dos mais velhos até mesmo a aproximação com bandidos e traficantes.
Alex tinha apenas 13 anos de idade quando conseguiu o primeiro emprego como cobrador de lotação. Naquela época, já tinha visto a sua casa ser inundada por conta de enchentes, perdendo tudo o que tinha.
Mas a influência errada acabou sendo maior do que o caminho correto que estava seguindo. Ao ver amigos seus ganhando muito dinheiro vendendo drogas, Alex de Jesus acabou deixando o emprego para ser um traficante e ingressou no Primeiro Comando da Capital (PCC), facção organizacional que comanda os presídios do País, bem com as favelas e todo o tráfico de drogas na fronteira com o Paraguai.
Ele ganhava em um dia o que a mãe recebia no mês todo. Com o tempo, o seu irmão e ele também passaram a consumir maconha e cocaína. Nesse período, também compraram um revólver e desfilavam pela favela com o objeto.
Alex garante que nunca cometeu nenhum assalto. Para ele, vender drogas era melhor do que tirar o dinheiro de um trabalhador honesto, muito embora a grande parte de seus colegas partia para roubos e furtos.
Certa vez, na escola, uma colega de classe denunciou os irmãos por porte de arma de fogo. Os dois foram presos e detidos na Fundação Casa, um estabelecimento penal para menores infratores.
A história do jovem foi publicada pelo site da BBC Brasil. Na entrevista, ele lembrou que foi algemado pela polícia dentro da sala da diretora e que deixou o local com todo mundo olhando para ele. “Fiquei morrendo de vergonha!”, disse ele.
Alex de Jesus não recebeu a internação, o juiz determinou apenas que cumprisse serviços comunitários por ser réu primário e por não ter cometido um crime considerado grave, como assalto ou homicídio.
A mudança na vida do rapaz aconteceu no momento em que deixou a Fundação Casa. Ele foi obrigado a realizar faxina em um local em frente à escola que frequentava quando foi preso.
O lugar era uma sede do projeto Fábrica da Cultura, que oferece para a comunidade cursos profissionalizantes e atividades culturais e artísticas, como canto, teatro, dança e poesia, entre outros.
O jovem então conheceu o Satyros, grupo de teatro que atua há mais de 30 anos em São Paulo, e passou a ensaiar uma peça e logo entrou para o programa Satyros Teen, um curso com a companhia de teatro que oferecia uma bolsa auxílio de 600 reais.
Com a ajuda do teatro, Alex de Jesus aprendeu a lidar com os seus sentimentos, a se expressar melhor e a se comportar em público de uma maneira mais educada.
Embora tinha o talento para a artes cênicas, ele decidiu fazer o vestibular para Direito e, dessa forma, realizar o sonho de sua mãe de ver o seu filho sendo doutor.
Inicialmente, não passou em nenhum dos vestibulares que prestou, mas não desistiu, até que conseguiu ser aprovado na Unip, cuja mensalidade custava toda sua bolsa.
Ele continuou trabalhando com a cia. de teatro, e, nas conversas com a plateia, começou a falar das dificuldades que sofria para conseguir estágio. Ao final de uma dessas conversas, um homem deixou um cartão com Alex oferecendo uma vaga de estágio em um escritório de advocacia.
O garoto não falava inglês, não sabia mexer no computador direito porque nunca tinha tido um, não sabia usar e-mail, Word ou Excel. Apesar disso, disse ter a força de vontade para aprender tudo e que buscava uma mudança de vida. Foi contratado e com o tempo foi adquirindo toda a experiência e conhecimentos do ofício.
Após se formar em Direito, Alex de Jesus não conseguiu ser aprovado na prova da OAB. Ficou muito mal por isso e pensou em desistir. Foi então que os sócios do escritório deram R$ 800 para que pudesse pagar por um cursinho e prestar o Exame da Ordem de novo. Dessa vez ele passou e agora é oficialmente advogado.