Advogada trans é eleita conselheira da OAB de São Paulo pela 1ª vez em 91 anos
A comunidade LGBTQIA+ conquistou mais um importante avanço em prol do reconhecimento de seus direitos.
No mês passado, pela primeira vez na história uma advogada trans foi eleita ser conselheira e fazer parte da mesa-diretora da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), através de sua seccional no Estado de São Paulo, a maior do País.
A advogada Márcia Rocha tem 56 anos de idade e 32 anos de Direito, tendo se graduada na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.
Naquela época, ainda com o Brasil juntando os cacos de anos de uma sangrenta e cruel ditadura, Márcia Rocha precisava esconder a sua real personalidade atrás das roupas de um homem que não o agradava.
Era apenas dentro de sua casa e em alguns poucos lugares que ela conseguia se libertar daquelas vestimentas e viver da forma que tanto gostava, como uma mulher.
O pai de Márcia Rocha era o seu principal apoiador na causa, tendo aceitado a sua transformação sexual e dando conselhos para que se protegesse diante de uma sociedade amplamente preconceituosa.
A carreira jurídica dela foi inspirada no seu avô, único advogado da família. Ela começou realizando um estágio na Procuradoria de Assistência Jurídica do Estado e depois passou a atuar dentro de imobiliárias, já após a formatura.
A transexualidade foi assumida somente aos 46 anos de idade. Antes disto, Márcia Rocha chegou a se casar duas vezes e tem ate mesmo uma filha, que hoje está com 27 anos.
A advogada deu uma entrevista para o site TAB, do Uol, onde revelou que todas as suas esposas tinham o conhecimento de sua identidade de gênero, no entanto, quando decidiu se assumir transexual o seu segundo casamento acabou, pois a esposa tinha medo. Hoje, Márcia Rocha está casada com a advogada Ana Carolina Borges.
Na esfera jurídica, a advogada Márcia Rocha é uma pioneira e grande incentivadora para a comunidade LGBTQIA+. Ela foi a primeira mulher trans a adquirir a carteirinha da OAB com o nome social, fato este ocorrido em 2017.
Dentro da OAB/SP, desde 2013 faz parte da Comissão de Diversidade e Combate à Homofobia, ministra palestras e leciona aulas de pós-graduação, além de atuar em prol dos direitos humanos.
Em novembro, Márcia Rocha foi eleita para assumir o cargo de conselheira da Ordem. Será a primeira mulher trans a desempenhar esta função.
Aliás, outro fato inédito foi conquistado na eleição deste ano. A OAB/SP será comandada por uma advogada mulher pela primeira vez em toda a sua história.
A nova presidente será a professora e criminalista Patrícia Vanzolini. A posse será no dia 1º de janeiro e o mandato se encerra no final de 2024.
Além do trabalho na advocacia, Márcia Rocha também se destaca pelo projeto social que ajudou a fundar e que hoje coordena, o Transempregos. A iniciativa buscar ajudar pessoas transexuais a se inserirem no mercado de trabalho, além de dar formação e na busca por seus direitos.
Em quase uma década, o projeto social já chegou à marca de 1.400 empresas que recorrem ao grupo para contratação de pessoas trans. Por dia, o site abre de 20 a 30 vagas — em 2020, 707 pessoas foram beneficiadas pela iniciativa.
Márcia Rocha também já tocou uma rede de estacionamentos em São Paulo, ao lado do seu irmão, porém, fecharam por conta da pandemia. E ainda trabalha com uma tia na venda de loteamentos e construção de condomínios residenciais, setor no qual continua a atuar, com investimentos em Peruíbe, no litoral sul do estado.