Editorial: o Poder Público precisa colocar em pauta a segurança nas lagoas e áreas usadas por banhistas
O depoimento de uma moradora do Assentamento Vitória, nos fundos do bairro Portal Caiobá, ilustra bem uma realidade que sequer é debatida pelo Poder Público de Campo Grande. A preservação e a segurança dos lagos, açudes e córregos parece não existir e o resultado disso está sendo noticiado ao longo deste mês de janeiro com vítimas fatais de afogamento.
Naquele assentamento, na noite de sexta-feira (20), um rapaz de 20 anos acabou falecendo ao se afogar durante um mergulho em uma lagoa de contenção que é frequentemente usada por banhistas, inclusive pela vítima que residia nas proximidades. Com a cerca de proteção derrubada, o local se tornou uma área de risco.
E por falar nisso, leitor, você tem noção de quantas lagoas existem na cidade? Não há hoje nenhum tipo de mapeamento que mostre onde estão essas áreas usadas pelos banhistas. Mais grave ainda, não há nenhuma informação sobre a periculosidade de fazer uso desses espaços, cujo muitos são inapropriados para o banho.
A moradora do Assentamento Vitória citada no primeiro parágrafo deste editorial disse à imprensa que a lagoa onde o jovem morreu afogado teve a cerca de proteção derrubada pelos banhistas. “Não adianta colocar grade envolta da lagoa porque eles vão pular para poder entrar. São adolescentes e jovens que não têm espaço para o lazer, somente ali”, comentou ela.
A situação é semelhante em outros bairros da periferia campo-grandense, como no Jardim das Cerejeiras, onde passa o Córrego Segredo e há locais que são frequentados por pessoas para tomar banho, e até mesmo na região central, como é o caso da cachoeira ao lado do viaduto da Rua Ceará sobre a Avenida Ricardo Brandão, também usada para banhos ilegais.
No dia 11 deste mês, outra área de banho registrou uma morte por afogamento. Neste, a vítima foi um adolescente de 16 anos que estava brincando com outros quando decidiram nadar em um córrego que passa nos fundos de uma chácara situada na Rua Nazarena Milfont Sobreira, na Moreninha. O local tem cerca de 3 metros de profundidade.
A Prefeitura Municipal de Campo Grande foi procurada e disse que está analisando o que pode ser feito dentro de suas limitações para preservar as lagoas e evitar novos casos de afogamento. O que tem chamado a atenção em todos esses é que, em comum, os locais são conhecidos do moradores, mas que ignoram o risco existente acreditando que nada irá acontecer.
Nestes espaços, além da grande facilidade para acesso de crianças, adolescentes e jovens, não existem indicadores de segurança, como placas de orientação quanto à profundidade, objetos que podem estar submerso como galhos de árvore, entulhos e argila, ou quanto à possibilidade do local ter correnteza e até mesmo subir o nível da água em dias de chuva.
O Poder Público precisa assumir a responsabilidade destas áreas, principalmente das que estão em locais públicos e cobrar daquelas que se encontram em terrenos privados, como condomínios e construtoras. Se faz necessário também que os vereadores promovam audiências para debater a gravidade do tema e mapear estes locais indicando quais são apropriados para o banho.
Campo Grande é rica em nascentes e tem córregos que passam por todas as regiões urbanas, quase todos sem qualquer tipo de proteção no entorno. Enquanto nada for feito, continuaremos noticiando afogamentos, por vezes, com vítimas fatais, em especial nesta época de férias escolares.
Quantas lagoas existem em Campo Grande? Mais do que isso, quantas áreas estão sendo usadas por banhistas na cidade