Política

Abril Azul: Compreensão e informação que inclui a pessoa autista em MS

A Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS) tem atuado no fortalecimento dos direitos e garantias das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) por meio de diversas leis, entre elas a Lei Estadual 5721/2021, de autoria do deputado Antonio Vaz (Republicanos), presidente da Comissão de Saúde da ALEMS, que instituiu no Estado o Abril Azul, mês de conscientização sobre o Autismo.

O autor da lei cita algumas características do TEA. “Costuma ser identificado na infância, afeta a comunicação e capacidade de aprendizado e a adaptação da criança. O quanto antes a família e os profissionais da educação forem orientados sobre o quadro da criança, melhor será sua inserção social e aquisição de autonomia. A campanha deve destacar que o autismo não é uma doença, e sim uma peculiaridade que precisa ser entendida e aceita”, destacou Antonio Vaz.

Aline Benachio é especialista em Autismo (Foto: Arquivo pessoal)

Dados da pesquisa realizada em 2021 do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) apontam o aumento da prevalência maior de pessoas autistas nos Estados Unidos. Uma em cada 44 crianças é diagnosticada autista, e esses dados também servem como base de cálculo para o número de pessoas com TEA, no Brasil. Em 2004 a pesquisa do CDC demonstrou que em cada 166 pessoas, havia um autista. A pesquisa feita ano passado também revela sobre os diagnósticos, cada vez mais precoces, mostrando que as crianças tinham 50% mais chances de receber um diagnóstico de autismo até os quatro anos, quando comparadas às de oito anos. O diagnóstico precoce reflete no início do tratamento e acompanhamento adequado às pessoas com TEA.

Especialista em Autismo, a psicóloga Aline Benachio define o Transtorno do Espectro Autista. “O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento e inclui déficits persistentes na comunicação social, e comportamentos e interesses restritos e repetitivos. As alterações ocorrem na qualidade da interação social e causam grandes prejuízos por falta de engajamento nos relacionamentos, na reciprocidade sócio emocional e na expressão da linguagem verbal e não verbal, entre outros sintomas. O diagnóstico é feito por meio de observações e conversas com os pais, onde podem ser utilizados alguns testes e escalas para rastreamento. Outro ponto importante é o envolvimento do diagnóstico com uma equipe multidisciplinar com neuropediatra, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional. Os sintomas costumam ser reconhecidos durante os primeiros anos de vida, sendo a intervenção precoce importante, pois durante os primeiros anos de vida o cérebro de uma criança muda rapidamente, absorvendo informações e sendo moldado a cada informação recebida”, explicou.

Sobre o plano terapêutico da pessoa com TEA, a profissional enfatiza: “As terapias iniciam com o acolhimento da família e treinamento aos pais, o ideal é montar o plano terapêutico em conjunto com a família e escola, com o objetivo de englobar todas as áreas de desenvolvimento. O diagnóstico na vida adulta ou adolescência, em alguns casos, ocorre pelo diagnóstico de Autismo de alguma criança da família, sendo importante levar em conta as dificuldades relatadas e iniciar as intervenções adequadas de acordo com as características e necessidades relatadas pelo paciente. A terapia engloba o treino de habilidades, por isso as intervenções são embasadas em todas as áreas de desenvolvimento, que integram o cognitivo, social, linguística, emocional e motor. Cada área desta necessita ser estimulada por um profissional capacitado, o que engloba uma equipe multidisciplinar integrada por psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, neuropediatra, psiquiatra, nutricionista, e isso permite uma maior independência na vida diária, em seus relacionamentos e no gerenciamento das emoções. As vezes, é preciso medicação para ajudar na atenção e concentração, cabe ao médico psiquiatra ou neurologista avaliar”, informou.

Alexandre Figueiredo coordena o MOAB, no Estado (Foto: Arquivo pessoal)

Alexandre Figueiredo, policial rodoviário federal (PRF), é pai de Eduardo Kazuo, diagnosticado com TEA antes de completar 3 anos. Com o objetivo de conscientizar a sociedade sobre o Autismo, em 2019, foi o idealizador do Projeto Guardião Azul – Amigo do Autista, em Campo Grande. “O diagnóstico do meu filho, considerado um autista clássico, me motivou a reagir ao luto inicial e montar uma lógica em que eu pudesse falar sobre o Autismo. Em 2020, recebi o convite do Movimento Orgulho Autista Brasil [MOAB] para ser coordenador estadual aqui em Mato Grosso do Sul”, descreveu.

Por meio do projeto Guardião Azul são distribuídos adesivos veiculares e residenciais para identificar a presença de um autista. “Isso evita desgastes em estacionamentos nas vagas especiais. A identificação também facilita os procedimentos de socorro, já nas casas evita maus entendidos quando gritos são confundidos com maus tratos. Por isso defendo além da visão de saúde e educação, a questão de segurança pública que envolva as pessoas com deficiência, em especial os autistas. Também desejo que o trânsito seja mais seguro e que as pessoas sejam transportadas em segurança”, relatou Alexandre Figueiredo.

“Os autistas não têm cara, o Autismo não é uma doença transmissível. Defendo que a informação é a maior inclusão. O olhar da sociedade deve ser pautado na compreensão das diversidades que a cercam. Não devemos julgar uma mãe pelo fato da criança estar gritando no shopping, Hoje o ‘normal’ deixou de existir, cada indivíduo é diferente e deve viver de forma justa, integrado e em condições de sobreviver. O diagnóstico não define a pessoa, e o Autismo é uma condição que com o acolhimento, a aceitação, empatia e terapias adequadas permitem a pessoa uma vida com muita qualidade e representatividade”, concluiu.

Mara, é mãe de Renata, hoje com 16 anos (Foto: Arquivo pessoal)

Mara Rubia Benites Gamon contou um pouco de sua experiência. Mãe de Renata, diagnosticada com Autismo na infância, ela relatou sinais que percebeu na filha. “Com desenvolvimento aparentemente normal até os 4 anos de idade, notei que tinha alguns sinais: choros inexplicáveis, dormia muito pouco e andava nas pontas dos pés. Um dia acordou totalmente diferente, não falou mais, tornou-se uma criança apática. Levou um ano e seis meses para fechar um diagnóstico, hoje entendo que houve a poda neural, que chamamos de autismo regressivo”, disse.

“É necessário primeiramente ter muito amor e nunca desistir deles, porque eles conseguem sim atingir suas habilidades, sempre com treino e equipe multidisciplinar para atender essa criança, sendo amparadas por psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, nutricionista, neuropediatra. O comportamento deve ser trabalhado psicóloga, por meio da terapia de Análise do Comportamento Aplicada [ABA], ou da Cognitivo Comportamental [TCC]. A fonoaudiologia também é essencial, porque geralmente há atraso na linguagem, a terapia ocupacional com integração sensorial e nutrição. Quando possível trabalhar  também a psicomotricidade, equoterapia, natação e atividade física”, aconselhou Mara.

A fita unida ao quebra-cabeças é outro símbolo do Autismo (Arte: Luciana Kawassaki)

Mara integra a equipe da Associação Amigos do Autista (AMA). “Renata é atendida pela AMA desde os cinco anos, atualmente também sou coordenadora do setor clínico da Associação Juliano Varela, que atende autistas. Contamos na associação com os seguintes atendimentos: laudo e diagnóstico, atendimento psicológico, fonoaudiológico, neuropediatra e psiquiatra, com equipe formada por cinco psicólogas, três fonoaudiólogas, um neurologista e um psiquiatra”, divulgou.

A Assembleia Legislativa tem legislado em favor das pessoas autistas há mais de duas décadas, conheça aqui as ações e leis publicadas que nasceram na sede do Poder Legislativo, e trouxeram benefícios e garantias de direitos, promovendo uma  melhor qualidade de vida às pessoas com Transtorno de Espectro Autista, em Mato Grosso do Sul.

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