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‘Sou trans e meu companheiro é um homem hétero’

No mundo atual, nós podemos ser o que quisermos ser e isso também encaixa na identidade de gênero, onde você tem a total liberdade para escolher se quer ser menino ou menina.

A maior dificuldade de quem faz essa escolha está no enfrentamento do preconceito de uma sociedade que parece mais se importar com a vida do outro do que com a de si própria e não aceita a escolha, a mudança e a felicidade alheia.

Mas há quem defenda que esse cenário caminha para uma mudança, ainda que no ritmo lento. Com tanta campanha midiática, filmes, novelas e livros que tratam do tema, já é possível dizer que a sociedade está aceitando a liberdade de gênero e acostumando a conviver com as pessoas LGBTQI+.

Pelo menos, essa é a opinião da Daniella McDonald, uma mulher trans, estudante de medicina e que ganhou notoriedade na Califórnia, os Estados Unidos, por namorar rapazes heterossexuais.

Ela foi entrevistada pela BBC sobre o assunto e revelou que no início foi um “show de horrores”, mas nos últimos dois anos e meio está em um relacionamento estável.

Daniella McDonald disse acreditar que homens heterossexuais podem estar lentamente se tornando mais receptivos à ideia de namorar mulheres trans.

O namorado dela se chama Josh e faz parte do convívio de sua família, inclusive, recentemente esteve acampando e pescando com o pai de Daniella em um lago nas montanhas de Sierra Nevada, na Califórnia, onde todos vivem.

Os dois se conheceram em um aplicativo de paquera. Daniella McDonald diz ser bastante conservadora quando se trata do que quer em um relacionamento: monogamia, companheirismo, alguém com quem possa revezar o preparo do café da manhã, que a apoie na rotina de longas horas de estudo, entre outros pontos.

Ao fazer o perfil no aplicativo, ela preencheu todas as informações solicitadas, mas não se identificou como sendo uma mulher transgênero.

Daniella McDonald contou que começou a fazer a transição física aos 26 anos, mas que vive como Daniella há anos. Apesar de levar a vida como mulher, nunca se conectou com os debates sobre pessoas trans na mídia, não discute sobre qual banheiro deve ir ou quais pronomes de tratamento deve ser usado para sua própria identificação.

Segundo ela, como uma mulher que se sente atraída por homens, tinha o desejo de estar com um homem que se sentisse atraído por mulheres. Entretanto, não estava preparada para o comportamento machista de alguns homens no aplicativo.

A estudante revelou que a maioria das mensagens que recebia era de conteúdos horríveis, sempre a chamando de “travesti”.

O seu telefone exibia as palavras “você é um homem” e ainda por cima recebia ameaças de morte com longos parágrafos detalhando como deveria ser assassinada.

Além dos homens machistas, Daniella McDonald conheceu outro tipo de público: os que tinham um interesse perverso por mulheres trans.

De acordo com o relato dela, esses homens a viam como um experimento exótico temporário e não se atentavam a limites respeitosos. Os diálogos iniciais já se concentravam em perguntas sobre os seus órgãos genitais e que tipo de sexo fariam.

Apesar dessas experiências traumatizantes, Daniella também conheceu homens gentis, de bom coração e educados e até que queriam ficar com ela, mas namorar eles ainda era um desafio, pois sentiam vergonha de serem vistos em público com uma mulher trans.

Eles não tinha a pretensão de levar o relacionamento mais adiante, com apresentações formais para a sua famílias e amigos. Também alegavam que poderiam perder o emprego caso assumissem um namoro com uma pessoa com essa identidade de gênero.

Diante das frustações, a estudante chegou a conclusão de que tudo na verdade era uma homofobia internalizada: eles não conseguiam pensar em nela como uma mulher e não queriam que as pessoas em suas vidas os vissem como gays.

Um dos momentos mais marcantes e tristes para Daniella McDonald aconteceu em um encontro no cinema, quando o homem com quem havia combinado de se encontrar naquela noite simplesmente a abandonou, sozinha, no escuro da sala de cinema e ainda pegou um reembolso pelo ingresso que havia pagado.

Ela já estava por desistir da ideia de ter um namorado heterossexual quando recebeu uma mensagem no aplicativo de paquera chamado My Transgender Date (“Meu encontro transgênero”, em tradução livre) de um homem chamado Josh.

Josh é cinco anos mais novo que Daniella, militar dos EUA e vem de uma família filipino-americana. Foi amor à primeira vista!

Quando foi apresentado aos familiares dele, Daniella foi muito bem recebida e tratada por todos. O casal está junto há pouco mais de três anos.

Daniella McDonald agora quer lançar um aplicativo de paquera para pessoas trans e não trans que estão abertas a aceitar pessoas com diferentes identidades de gênero.

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