Com bike de bambu, brasileiro já percorreu 50 mil km ao redor do mundo
Largar tudo e percorrer o mundo, conhecer os mais diferentes lugares, experimentar coisas novas e ter uma aventura a cada novo dia. Esse é o roteiro que muitas pessoas desejam ter para si, mas por falta de coragem ou por conta de suas obrigações diárias não conseguem realizar tal desejo.
Prisioneiros de nossa rotina, somos obrigados a cumprir horários, enfrentar o trânsito para ir ao trabalho, bater metas, entre outras coisas que deixam o nosso dia a dia bem agitado, exaustivo e totalmente estressante.
Foi para fugir deste caos diário que o sociólogo carioca Ricardo Martins, de 36 anos, abandonou o terno, a gravata, a pasta de trabalho e o seu escritório para mudar radicalmente os rumos de sua vida.
Com apenas R$ 385,00 no bolso e uma mochila com roupas, água e outros acessórios essenciais, Ricardo Martins montou em sua bicicleta e decidiu rodar por todo o continente sul-americano.
Foi em 2007 que iniciou esta sua impressionante jornada. Na época, estava se sentindo muito cansado da vida de escritório que levava, bem como de toda daquela rotina tradicional e imutável.
Na época, com apenas 21 anos, permaneceu pedalando durante 48 meses consecutivos. Os amigos os apelidaram de ‘Roda América’.
Ricardo partiu do Rio de Janeiro e foi até Corumbá, no Mato Grosso do Sul, onde atravessou a fronteira com a Bolívia. Mas para a sua tristeza, no país vizinho, acabou sendo roubado e ficou com apenas sete dólares no bolso.
Sem dinheiro para seguir a viagem, prestou serviço ao Ministério do Turismo de La Paz, mas os perrengues na Bolívia não pararam nisso. Por duas vezes ele se contaminou com salmonella (infecção por bactéria) e ainda foi diagnosticado com febre tifoide. Como teve hepatite, não podia fazer uso de medicamentos e ficou internado por duas semanas com soro.
Outra aventura narrada por ele aconteceu na Argentina, quando quebrou o joelho numa luta de artes marciais e passou por três cirurgias.
Nesse tempo todo longe de casa e da família, Ricardo Martins teve como companhia apenas a sua bicicleta de alumínio, chamada Capitu.
Ao retornar para casa, também voltou a ter aquela mesma rotina antiga que tinha antes de se aventurar mundo a fora, com trabalho no escritório e tudo mais. Também começou a cursar Sociologia.
Entretanto, sofreu uma perda bem significativa. A bicicleta Capitu acabou sendo furtada no Rio de Janeiro e não mais a conseguiu recuperar.
Ricardo Martins até tentou ter a mesma vida de antes no Rio, trabalhando e cumprindo metas, mas já não tinha o mesmo prazer. Tudo havia se tornando muito chato para ele, inviável e desinteressante.
Desta forma, decidiu mais uma vez deixar tudo para trás e pegar a estrada novamente.
Como não tinha mais a bicicleta, teve que ir atrás de outra. Foi quando conheceu um homem aventureiro que constrói bicicletas de bambu e outros materiais recicláveis na capital fluminense.
Essas bikes são feitas sob medida, podendo ter a coloração mais clara ou escura, mais alta ou mais baixa, com garupa ou sem garupa. Além disto, são muito leve e fácil de carregar.
A história de Ricardo Martins foi contada pelo site da BBC Brasil. Na entrevista, o sociólogo disse que perder a Capitu, sua primeira bicicleta, foi semelhante ao momento em que o personagem de Tom Hanks no filme Náufrago perdeu a bola Wilson ao tentar escapar da ilha.
O sociólogo batizou a nova bicicleta de bambu como Dulcinéia, personagem do clássico livro Dom Quixote, do escritor espanhol Miguel de Cervantes.
Há cerca de cinco anos, ele realizou uma nova série de viagens pelo mundo. Desta vez, foi para mais longe ainda, rodando por todo o continente africano, começando na Cidade do Cabo, África do Sul, e terminando em Alexandria, no Egito. Essa sua segunda aventura durou cerca de um ano e meio.
Na África do Sul, aliás, foi roubado mais uma vez. Ele havia parado para trocar o pneu da bike quando um homem armado surgiu e levou o dinheiro, computador e um kindle. Para recuperar o dinheiro perdido, Ricardo passou a trabalhar em um bar na cidade de Zanzibar, na Tanzânia.
Outro momento de apuros aconteceu neste mesmo país, quando perdeu boa parte de suas coisas, como saco de dormir, roupas, entre outros objetos por conta de um incêndio numa casa de palha, onde dormia. Desta vez, ele precisou abrir uma “vaquinha” no site apoia.se e seguir produzindo conteúdos de viagem.
Para suportar o forte calor daquele continente, Ricardo explicou que bebia cerca de 10 litros de água e fazia soro caseiro para beber e não desidratar. Para ele, sua aventura foi psicologicamente muito difícil de aguentar, mas fisicamente não. Ele perdeu pelo menos 10 quilos ao atravessar toda a África.
Nesta sua última aventura, o sociólogo acabou conhecendo uma mulher no Egito, com quem se casou e está convivendo junto atualmente.
Ricardo Martins também pedalou pela Europa, onde enfrentou o inverno do Reino Unido, tendo muitas vezes que acampar na neve. Por lá, a viagem durou pouco mais de um ano e foram visitados 30 países.
Durante os anos que levou planejando suas viagens, Ricardo desenvolveu trabalhos de sustentabilidade e mobilidade, palestrou em alguns países e realizou pesquisas acadêmicas à distância — por isso era conhecido por autoridades internacionais. Ao chegar no Egito, por exemplo, foi recebido pelo embaixador do Brasil.
Quando ainda estava na Europa, pediu recursos para a comunidade de seguidores que o acompanhavam e comprou 100 pares de sapatos para refugiados que faziam o trajeto entre as fronteiras a pé. O intuito era comprar botas resistentes para temperaturas negativas. Ao todo, conseguiu comprar 115 pares.
Ricardo Martins garantiu que logo vai começar uma terceira grande viagem, desta vez vai pedalar por toda a Ásia. Segundo ele contou, desde a primeira vez que decidiu viajar até hoje já foram mais de 50 mil quilômetros pedalando e uma dezena de países percorridos.