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Prestes a ser requalificada, Barão do Rio Branco faz parte da memória afetiva do campo-grandense

Além da drenagem que começou nesta semana na Rua Barão do Rio Branco, a via, assim como outras do centro da cidade, vai passar por uma série de benfeitorias por meio do Programa Reviva Campo Grande. A requalificação da Barão vai se estender até o entorno da antiga rodoviária, beneficiando os comerciantes e moradores da região.

O projeto prevê microdrenagem para eliminar pontos de alagamento, calçadas padronizadas e com acessibilidade, mobiliário urbano, bem como paisagismo, para garantir o conforto térmico. Recapeamento, semaforização inteligente e lâmpadas de led serão outros benefícios da revitalização.

Inserida no quadrilátero central, a Rua Barão do Rio Branco está na memória afetiva de boa parte da população. Como na do economista Eugênio Pavão, de 54 anos, nascido e criado na região do Calçadão.

Entre tantas memórias, Eugênio se lembra de uma em particular: as competições que uma emissora de rádio fazia e mobilizava vizinhos e pessoas que vinham de longe para ver. “Nesses dias a Barão lotava, não passava ninguém. Eram competições para eleger o cachorro mais gordo, a pessoa mais idosa da região, a mais alta e por aí vai, eram esses desafios incomuns”, recorda.

Hoje, o economista mora próximo ao relógio da 14 de Julho e lembra com saudades os dias passados nas margens da agitada passarela. “Tinha um ar interiorano, com pessoas na calçada, crianças brincando, era um tempo bom”.

As recordações traduzem bem a infância e juventude de quem viveu próximo ao Calçadão da Barão, lugar onde se vendia de tudo e, também, dava para ver o trem da Noroeste do Brasil passar embaixo da passarela apinhada de gente.

Na região da antiga rodoviária, o Calçadão atraía, principalmente nos anos 90, diversos vendedores ambulantes. Esse lugar, que ficou na memória de muitas pessoas, foi construído em 1979 e demolido em 1999, a fim de alargar as faixas de rolamento para os carros.

Durante 20 anos a paisagem fez parte do cotidiano dos campo-grandenses e de todos que passavam pela capital de Mato Grosso do Sul, sendo um dos principais pontos de encontro entre as pessoas e também de compras baratas. O complexo era formado por um calçamento largo, uma passarela e uma escadaria, que ligava a parte alta com a baixa da rua.

A passarela, onde ficavam os vendedores ambulantes, começava na 14 de Julho e ia até as margens do córrego Segredo, na avenida Fernando Corrêa da Costa. Desde sua construção, o Calçadão chamou atenção dos moradores ao redor, especialmente dos mais novos, que se divertiam entre os tijolos, cimento e algumas estruturas já erguidas.

Uma das pessoas que acompanhou a construção foi Ana Cristina Bergler, que nasceu e se criou na rua Aquidauana, bem próximo ao Calçadão. Hoje, a engenheira agrimensora, com 55 anos, conta que após todo esse tempo, sua família ainda mora no mesmo local.

As lembranças vêm à tona com um misto de carinho e saudade da época em que brincar e correr pela rua eram as únicas preocupações. “A construção do Calçadão foi motivo de grande contentamento e orgulho dos moradores. Para a gurizada foi uma festa de brincadeiras, descobertas e muita curiosidade”.

A obra foi uma tentativa de revitalização do bairro Amambaí, o mais antigo de Campo Grande. Havia áreas de descanso com bancos de madeira, postes de iluminação ornamentados e pedras encaixadas no chão, que davam um charme a mais para toda área.

Na região viviam muitas crianças com a mesma faixa etária, que acabavam se conhecendo e construindo uma forte amizade pelas brincadeiras nas ruas. O bairro também era, e ainda é, lar de imigrantes e descendentes nipônicos, como as famílias Uehara e Tibana.

A Barão, além de lar de parte da colônia japonesa, abrigou a sede do Centro Beneficente Português. A inauguração do espaço data do dia 14 de Julho de 1929, contudo, desde 1928 os imigrantes portugueses já se organizavam para fundar a associação.

Também nessa via, esquina com a Calógeras, foi criada a primeira linha de transporte público, quando ainda eram jardineiras, um veículo aberto dos lados e com bancos enfileirados.

Entre as ruas Rui Barbosa e Pedro Celestino, foi construída, por Manoel Secco Thomé, a Vila dos Militares, quando o comandante da Circunscrição Militar era o Coronel Newton Cavalcanti.

Agora, a Rua Barão do Rio Branco se prepara para construir novas memórias, em um ambiente mais bonito, planejado e pensado para a população.

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