Pandemia derrubou número de doadores de córnea e tempo na fila chega a 2 anos
A pandemia de covid-19 teve reflexos na fila de espera de doação de córneas em Mato Grosso do Sul. Se antes de março de 2020 um paciente esperava até três meses para receber os órgãos, esse tempo saltou para quase dois anos. Os números foram apresentados esta manhã, durante a tradicional live de quarta-feira da Câmara Municipal. O debate foi convocado pela Mesa Diretora e acontece no contexto da campanha Setembro Verde, que busca divulgar e conscientizar a população da importância da doação órgãos.
“A fila só anda se houver doação. Com a pandemia, houve diminuição da captação e número elevado de óbitos por covid. Antes da pandemia, tínhamos em média de 20 a 30 doadores por mês. Pós-pandemia, fechamos meses com cinco doações, às vezes duas doações. E o tempo de espera, que era de dois ou três meses, agora falamos um ano e meio ou dois anos”, apontou a médica oftalmologista Cristiane Santos Bernardes, diretora do Banco de Olhos da Santa Casa de Campo Grande, pioneiro em Mato Grosso do Sul e que completou 15 anos no mês de agosto.
Assim como acontece com doadores que têm qualquer doença infectocontagiosa, pessoas que morrem em decorrência de infecção por covid-19 não podem doar nenhum órgão ou tecido, segundo o Ministério da Saúde.
Além disso, segundo a diretora do banco, um dos principais desafios é a falta de informação, que faz a negativa familiar chegar a 65% em Mato Grosso do Sul.
“Hoje, temos 277 pacientes aguardando por um transplante de córnea. Para doar, basta manifestar sua vontade para seus familiares. Reduzir o tempo da fila de espera desses pacientes impacta na vida das pessoas, em retomar suas rotinas normais. Lembrar da doação é fundamental”, disse.
Em 27 de setembro, é celebrado o Dia Mundial da Doação de Órgãos. Durante todo o mês, a Casa de Leis realizará campanha de incentivo à doação de córneas. Além dos informativos nas redes sociais, a iluminação da Câmara será alterada para a cor verde em alusão e apoio ao Setembro Verde.
Para a médica Claire Miozzo, coordenadora da Central Estadual de Transplantes do Estado, é preciso divulgar e massificar campanhas para conscientizar sobre a importância da doação de córneas.
“O país todo sofreu com a pandemia e tivemos diminuição das doações, e consequentemente de transplante. Muitas vezes o doador tinha covid, e até mesmo o paciente que seria beneficiado pelo transplante foi afetado. A gente precisa conversar sobre isso em todos os meios de comunicação. Temos que deixar claro às nossas famílias que somos doadores. Temos que deixar claro em vida, caso ocorra algo, para a família saber da nossa vontade”, defendeu.