Das contas feitas no caixa do mercado aos cálculos de pena, prisão e soltura no TJ, resulta um destino merecedor de aplausos
Eis aqui a história da servidora Egidia Cardoso, que vive o sonho de uma vida há 165 quilômetros da capital. Rio-brilhantense raiz, foi nessa cidade entre rios que ela casou, teve filhos, fez carreira e aguarda pela aposentadoria para passar mais tempo com a mãe, dona Gregória Coronel. Saiu de Rio Brilhante mesmo só pela oportunidade única de fazer a faculdade de Direito e ter a caçula; isso tudo em Dourados, bem perto de casa. A propósito do título acima, foi a carreira no Judiciário de Mato Grosso do Sul que a fez acumular conquistas pessoais e proporcionar a educação dos filhos Igor Felipe e Débora.
Aos 18 anos recém-completados, Egidia trabalhava como caixa no antigo mercado Casa Nova por Cr$ 4.149,60 (o salário-mínimo de então) e era reconhecida pelo bom atendimento prestado. Ao lado, ficava o Cartório do 2º Ofício. O cartorário, seu Vanderlei da Cunha Rosa, propôs ao gerente do então estabelecimento comercial vizinho (e que também era seu genro) uma vaga para contador, distribuidor e partidor judiciário. O designado não aceitou, mas indicou a colega Egidia e apresentou suas qualificações.
Ao receber o convite, a caixa se assustou por ser nova, estar concluindo o segundo grau técnico em contabilidade e pela instabilidade de assumir um cargo com contrato de 1 ano. Ainda bem que o contentamento por poder estar em uma colocação melhor venceu o nervosismo inicial. Claro que teve aqui o incentivo e a mãozinha da dona Gregória para que a demissão do mercado fosse estabelecida em 30 de abril e tão logo, em 2 de maio de 1980, Egidia Cardoso começasse sua história de colaboração para a justiça estadual.
“Quando entrei, o Fórum ainda estava sendo oficializado. O juiz titular chegou e explicou o andamento dos processos. Ele sabia que os funcionários eram novatos e a partir daí foi mais calmo pra mim”, rememora Egidia.
Até que certa vez, um réu preso com drogas chorou durante o interrogatório. “Ele disse para o juiz que os policiais baterem nele, quebraram os óculos e a dentadura dele. Era uma das minhas primeiras audiências e eu fiquei com pena. Eu soltaria. Mas não é que o cara ficou preso 4 anos e pouco e quando foi solto foi preso de novo e pelo mesmo motivo? Passei a ser mais objetiva, tarimbada”, conta.
Com mais experiência e a vontade de vencer de sempre, Egidia passou no primeiro concurso realizado para a comarca. Depois disputou a vaga para escrevente judicial e passou de novo. A protagonista dessa história se encontrou tanto com a rotina do Judiciário que decidiu fazer a faculdade de Direito. “Queria estar preparada para as oportunidades que até fui estudar em Dourados quando minha filha tinha 1 ano e meu filho 2 anos de idade. Foi um estudo entre fraldas e mamadeiras”, divide, bem-humorada.
Compreensível que, considerando o desenrolar desse enredo, sua matéria preferida era Direito Penal. “Gostava muito de fazer audiências e hoje gosto de atender as pessoas que comparecem no Fórum e resolver os problemas delas o mais rápido possível”, celebra assim e com orgulho seus 41 anos de Judiciário em Rio Brilhante e uma ascensão profissional tão radiante quanto.