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Reviva traz mobilidade, qualidade de vida e é exemplo de planejamento urbano

Com a pandemia e o medo de aglomerações, as cidades precisam oferecer ambientes mais amplos, que garantam mais segurança, não apenas física, mas emocional. Este é o foco do Programa Reviva Campo Grande, que tem como grande questão: identificar como essa infraestrutura pode beneficiar a configuração das cidades, a mobilidade urbana e, consequentemente, a vida de todos.

“O principal desafio de um gestor é a transformação da cidade, de maneira que ela melhore o dia a dia das pessoas. O campo-grandense terá um Centro com espaço para realizar suas compras de maneira mais confortável e segura. Queremos que a população se aproprie desse espaço e usufrua com responsabilidade dos benefícios. É um projeto que vai além da infraestrutura. A proposta é levar atividades culturais para a área central após a pandemia, atrair novos negócios e, ainda, proporcionar habitação acessível, trazendo mais adensamento e garantindo maior mobilidade para quem trabalha na região”, avalia o prefeito Marquinhos Trad.

A  subsecretária de Gestão e Projetos Estratégicos da Prefeitura Municipal e coordenadora do Reviva, Catiana Sabadin, explica que a pedestrianização da 14 de Julho foi o primeiro passo para esta transformação. “Priorizamos o pedestre em detrimento dos veículos, e para isso, alargamos calçadas, instalamos um mobiliário urbano. Com isso, garantimos um ‘caminhar’ mais acessível, agradável e confortável. A evolução das cidades passa por isso e, com a requalificação do microcentro, vamos ampliar essa proposta”, pontuou.

Afinal, o que as administrações públicas aprendem com a pandemia, do ponto de vista da Mobilidade Urbana? Como deixar as cidades mais “habitáveis” para os cidadãos? Para a diretora-presidente da Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano (Planurb), Berenice Maria Jacob Domingues, as administrações aprendem a buscar alternativas e se reinventar para diminuir os impactos causados pela pandemia. “Fazemos isso buscando alternativas de outros modais”.

Um desses modais utiliza a bicicleta como transporte, por exemplo, observando a crescente demanda por melhorias em calçadas e ciclovias em decorrência da pandemia e a busca por espaços amplos e ao ar livre. Pelo Reviva, somando-se às calçadas mais acessíveis, Campo Grande terá mais 30 km de ciclovias, além dos 90 existentes.

Outra medida que contempla os ciclistas é a inserção de uma calçada compartilhada no projeto do Corredor de Mobilidade da Avenida Calógeras, e a execução de uma ciclofaixa na Rua 13 de Junho, dentro da revitalização do centro. Os dois novos trajetos serão interligados à ciclovia já existente na Avenida Afonso Pena e a outra, ainda em projeto, na Avenida Mato Grosso.

Para o professor doutor Antônio Firmino de Oliveira Neto, autor dos livros “Pelas ruas da cidade: um estudo Geográfico das ruas e calçadas de Campo Grande” (1999) e “A rua e a cidade” (2005), entre outros, o Estado (na forma dos governos locais) deve aprender com a pandemia e prover as cidades de mecanismos que auxiliem na antecipação aos problemas sanitários.

“Entendo que, nesse sentido, as reformas previstas para o centro de Campo Grande devem conter esses mecanismos, quais sejam: ampliando as larguras das calçadas e aumentando a arborização, que deve ser pensada como filtro e conforto térmico; previsão de ilhas de descanso com bancos facilmente higienizáveis e farta vegetação; uniformização das calçadas que devem ser pensadas na facilidade da higienização diária; locais para estacionamento de bicicletas”.

A requalificação do microcentro prevê isso e ainda: mais segurança com as câmeras de videomonitoramento e a iluminação em LED voltada para o pedestre, completando um conjunto que vai garantir mais qualidade de vida ao cidadão, mais facilidade para caminhar e melhor distanciamento social em espaços abertos, fatores preconizados em tempos de pandemia. Outro ponto que beneficia a vivência no pós-pandemia, é a oferta de wifi gratuito nesses espaços públicos.

Berenice ressalta que as ações e projetos implantados e em execução estão em consonância com o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental de Campo Grande (PDDUA) e resultam de amplo planejamento e discussões com a comunidade.

“A área central da cidade é objeto de especial atenção e o projeto tem a integração de esforços de muitas áreas de atuação da Prefeitura e apoio de diversas entidades com vistas à qualificação dessa região. Nos orgulhamos dos resultados das obras da Rua 14 de Julho, e as novas obras atenderão às expectativas da comunidade que por tantos anos desejou a revitalização do centro”.

O arquiteto Gil Carlos de Camillo, referência em Mato Grosso do Sul, avalia a cidade como um organismo vivo e mutante. “Está sempre necessitando de ajustes, desafios e novos rumos no planejamento urbano. Ao ofertarmos mais ciclovias, transporte público ágil e eficiente, poderemos diminuir a quantidade de veículos particulares em nossa malha viária, fluindo o tráfego e contribuindo com a mobilidade. Precisamos qualificar o ambiente urbano”.

Efeito Multiplicador

Considerando o crescente nível de desemprego que o país atravessa, obras de grande vulto, principalmente do setor de construção, que utilizam muita força de trabalho, são bem vindas e auxiliam a amenizar os problemas sociais decorrentes da grande quantidade de desempregados. Para as intervenções na área central, estima-se a abertura de mais de duas mil vagas.

“E não é só a geração de empregos. As obras provocam um grande efeito multiplicador na economia como um todo, trazem maior circulação econômica, já que aumentam o consumo na região com o novo público de trabalhadores, seja de produtos ou serviços”, reforça Catiana Sabadin, que também é economista, especialista em Desenvolvimento Regional e Competitividade e professora de Economia.

Na análise da economista do Sistema Fecomércio, Daniela Teixeira, as obras trazem alguns elementos fundamentais a serem analisados. O primeiro é a questão de atualização de conceito, de resgate daquilo que os consumidores desejam.

“Até porque o consumo de agora não é o mesmo de antes. O consumidor tem buscado, de acordo com as tendências globais, o consumo com experiência e essa experiência está atrelada a um atendimento diferenciado, mas também ao ambiente em que as pessoas estão e como elas se sentem nele”, avaliou.

O segundo ponto é que as obras geram um efeito multiplicador no sentido de que, para que elas aconteçam, há a necessidade de contratação de mão de obra, de geração de renda, de comprar produtos que são essenciais como material, canos, fios, e, consequentemente, provocam um dinamismo.

“Em termos de faturamento, a gente pode ter algumas interferências, mas, em meio a pandemia, percebemos algumas questões que têm amenizado e feito os empresários pensarem de uma forma diferente, que é o fato de tentar chegar até o cliente, atendendo às suas necessidades. O enfoque é no cliente, se estou com dificuldade de atender no presencial, posso mandar entregar o produto, fazer uma venda à distância, um vídeo de demonstração do produto, até porque em meio a pandemia, muitos desses hábitos alteraram e é possível ter uma fidelização desse cliente”. De acordo com Daniela, mais de 70% dos empresários pretendem manter as estratégias no pós-pandemia. “Diante desses aspectos, que as obras são necessárias do ponto de vista de adaptação e de se preparar para o momento de pós-pandemia, esse resgate pode ser fundamental para o processo de recuperação da economia, considerando esse comportamento do consumidor”.

Cidade Inteligente – como isso pode ajudar?

A pandemia reforçou o desafio de tornar as cidades brasileiras mais inteligentes em relação à eficiência e efetividade de seus sistemas. Cidades Inteligentes podem gerar economia aos cofres públicos pós-pandemia com a otimização dos serviços, como por exemplo, a modernização da iluminação pública com lâmpadas em LED com tecnologia que, além de ter maior eficiência energética, proporciona o aumento da sensação de segurança, a valorização dos prédios históricos e monumentos, a contribuição para a redução da poluição luminosa e se volta para a questão da sustentabilidade.

Outros exemplos são os semáforos inteligentes, iluminação adaptativa nas estações de embarque e mais de 130 câmeras de monitoramento, um conjunto que visa a eficiência do sistema e reflete em menos gastos. “Estamos focados em transformar o microcentro em referência. Vamos ter, com a Rui Barbosa, o corredor de Transporte Coletivo mais tecnológico da cidade. Isso significa mais qualidade de vida para a comunidade, onde todos poderão  usufruir dos benefícios. Colocar o conceito de Cidade Inteligente em prática pode ajudar a transformar as cidades em um lugar melhor para se viver”, afirma Catiana.

O professor Firmino completa a importância de que esses instrumentos estejam a serviço do exercício pleno da cidadania, ou seja, a cidade deve ser usada pelos seus cidadãos e esses instrumentos facilitam esse uso. “Um cidadão contente passa a ser um fiscal a mais para a Prefeitura”, conclui.

Gil Carlos de Camillo salienta que as informações coletadas através destas tecnologias vão gerar dados importantes que, com o tempo, vão orientar as estratégias dos órgãos reguladores de tráfego, segurança e podem contribuir como um censo digital. “O acesso a estas informações permitirá ao poder público dimensionar e alocar seus recursos de forma mais eficiente”, pontuo.

O professor Antônio Firmino pondera que o desenho da cidade deve ser uma preocupação atual dos gestores municipais. “A cidade deve ser bonita, harmonicamente balanceada, isso permite maior apropriação pelos cidadãos, afinal quem não gosta de olhar coisas belas? Isso contribui para o exercício da cidadania plena”, finaliza.

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