Fahd jamil se entrega à polícia após ficar por 10 meses foragido
Está preso o empresário Fahd Jamil George, de 79 anos, vulgo ‘Rei da Fronteira’, e apontado como um dos principais narcotraficantes da região de Ponta Porã e também como um dos chefes da milícia armada sul-mato-grossense que seria a responsável pela execução de dezenas de pessoas ao longo dos últimos anos no Estado. Ele mesmo se entregou às autoridades e chegou à Capital de avião na manhã desta segunda-feira (19).
Fahd estava acompanhado de seus advogados e foi recebido no Aeroporto de Santa Maria pela polícia. Ele era considerado foragido da Justiça desde junho de 2020, quando foi um dos alvos da Operação Omertà, acusado de organização criminosa, tráfico de arma de fogo, obstrução de Justiça e corrupção.
O delegado do Garras, Fábio Peró, informou que Fahd não deve prestar depoimento e que já aguarda por uma vaga no sistema penitenciário estadual.
A ação investigativa do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) já prendeu os empresários Jamil Name e Jamil Name Filho, ainda na primeira fase, realizada em setembro de 2019. Eles são acusados de liderar organização criminosa com base em Campo Grande.
Na mesma operação, foram fechadas a central e todas a bancas onde eram realizados os tradicionais Jogo do Bicho em Campo Grande e também a sede da empresa Pantanal Cap, título de capitalização de responsabilidade do deputado estadual Jamilson Name, filho de Jamil Name. Os jogos de azar eram usados para lavar dinheiro em prol da milícia armada, segundo o Gaeco.
O empresário Fhad Jamil e seu filho, Flávio Correia Jamil Georges, são acusados pelo Ministério Público Estadual (MPMS) de chefiarem a organização criminosa que atuava em Ponta Porã e tinha parceria com o grupo criminoso de Jamil Name em Campo Grande.
A ligação entre as duas organizações foi apontada nas investigações da 3ª fase da operação Omertà. De acordo com denúncia apresentada em julho de 2020 e aceita pela Justiça, havia uma grande proximidade entre as duas supostas organizações criminosas.
Os grupos, teriam atuado conjuntamente, em pelo menos dois homicídios, o do pistoleiro Alberto Aparecido Roberto Nogueira, o Betão, e o do ex-chefe da segurança da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, Ilson Martins Figueiredo.
O grupo liderado por Fahd Jamil não era o alvo inicial da investigação, mas sua atuação acabou sendo apurada também em razão dos crimes que ligam essa organização a chefiada por Jamil Name, mas precisamente na aquisição e transporte de armas de fogo de grosso calibre e na preparação e execução de homicídios, como o de Figueiredo.
A denúncia aponta que os dois chefes dos grupos criminosos, Jamil Name e Fahd Jamil, eram compadres. Destaca que a ligação entre as organizações ficou bem clara logo após a quebra do sigilo bancário de Jamil Name durante outras fases da operação Omertà, quando se constatou que ele pessoalmente ou por meio de sua esposa, fez oito transferências bancárias entre maio de 2016 e junho de 2019 para o filho de Fahd, Flávio Correia Jamil Georges, no montante de R$ 130 mil.
Fahd Jamil foi acusado de integrar organização criminosa armada, corrupção ativa e tráfico de armas de fogo. Seu filho, Flávio Correia Jamil Georges, o Flavinho, foi denunciado pelos mesmos crimes e ainda por violação de sigilo funcional. Ele é acusado de ter obtido de policial federal, também denunciado neste processo, informações sigilosas para o grupo.
Decisão de se entregar foi uma ‘jogada judicial’
Ao se entregar, Fahd Jamil divulgou uma carta à sociedade na qual garante ser inocente, declarou também que sempre colaborou para o equilíbrio da segurança da região da fronteira com o Paraguai, disse ainda não ter antecedentes criminais, estar aposentado, doente, ser sustentado pelos filhos e que está sob a perseguição de criminosos.
“Por isso tudo, pretendendo zelar pelos meus direitos nos processos em curso, tomei a decisão de me apresentar na unidade local do Garras em mais uma atitude de consideração pelos poderes públicos em geral”, cita um dos trechos da carta. A defesa dele comentou com a imprensa que busca por recurso no STJ (Superior Tribunal de Justiça) para a prisão domiciliar.
Com a idade avançada, Fahd alega que não sai de casa para passeios rotineiros, que tem acompanhamento médico em São Paulo e faz tratamento de oxigenoterapia, algo que não está disponível no presídio. A decisão de se entregar após 10 meses da expedição do mandado de prisão foi tomada no intuito de demonstrar à Justiça que ele não tinha o intuito de fugir do País ou descumprir a ordem, conforme explicou a defesa.
Confira a carta apresentada pelo empresário Fahd Jamil na íntegra: