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Crianças são atingidas por tiros de fuzil na fronteira com o Paraguai

A guerra de facções pelo controle do narcotráfico na fronteira do Paraguai com o Brasil, próximo a Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, agora tem feito novas vítimas. Em um intervalo de 14 dias, segundo a Polícia Nacional do Paraguai, duas crianças brasileiras, residentes do lado paraguaio, foram atingidas por tiros de fuzil durante atentados. Uma morreu e a outra teve parte do nariz arrancado.

A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) informou que do lado sul-mato-grossense, até esta terça-feira (8), não houve nenhum registro de homicídio doloso com crianças como vítimas neste ano.

Conforme promotor paraguaio, Marco Amarilla, as execuções são bastante parecidas, assustam os moradores da região causando um cenário de insegurança e tem feito novas vítimas que não tem nenhuma ligação com os alvos dos assassinos.

“Geralmente os criminosos chegam até as vítimas de carro ou motocicletas. Premeditados, os atentados acontecem até mesmo a luz do dia e os tiros, que de comum são de fuzil ou pistolas, só param quando existe a certeza da morte”, explicou.

Segundo o delegado Alcides Braun, que atua em Ponta Porã, na região da linha internacional, usa-se muito o fuzil para garantir as execuções: “Os projéteis dessa arma acabam transfixando o alvo, mesmo as que não acertam, essas balas continuam a trajetória por longo percurso”, e ainda acrescentou:

“A maioria das grandes execuções ocorrem com fuzil. É uma arma que dispara os projéteis em alta velocidade e com muita energia. Então o próprio veículo não consegue segurar a munição e atravessando esse, acaba acertando quem está próximo”, explicou.
Ainda de acordo com o delegado, os atentados geralmente são compostos de dois a quatro atiradores. Na dinâmica do crime, todos eles disparam ao mesmo tempo o que dificulta a vítima sair com vida.
“Nesse caso, muitos projéteis se perdem e acabam atingido inocentes que geralmente não tem nenhuma ligação com o alvo da execução, como foi o caso das duas meninas recentemente atingidas por tiros de fuzil”, afirmou.

Vítimas inocentes

Conforme a Polícia Nacional do Paraguai, em 2020, duas crianças foram atingidas durante atentados na região da linha internacional. A primeira foi uma menina de 6 anos. Brenda Micaela Arguello González teve parte do nariz arrancado após ser atingida por três tiros de fuzil enquanto brincava na frente da própria casa, no último dia 20, em Pedro Juan Caballero, cidade vizinha a Ponta Porã (MS).

Segundo a ocorrência policial, Brenda foi ferida no momento em que um homem teria sido alvo de um atentado. Ele foi alvejado e morto com vários tiros de fuzil e de pistola. Uma mulher de 36 anos, também teria sido atingida por um tiro de raspão e foi socorrida.

Conforme o pai da garota, Alcides Gonzalez, a filha já está em casa e se recupera bem depois de passar um período internada em um hospital de Dourados (MS). Ela passou por um procedimento cirúrgico para recuperação do nariz e ainda informou que um dos três projéteis ficará alojado no corpo de Brenda.

Conforme o Hospital Universitário, a menina foi avaliada por especialistas de cirurgia vascular, cirurgia plástica, de cabeça e pescoço e ainda passará por outros procedimentos cirúrgicos.

A segunda vítima, conforme a Polícia Nacional do Paraguai, tem 9 anos e foi morta junto com o próprio pai dentro de um veículo na última sexta-feira (4), no município de Zanja Pytá, próximo a linha internacional. A mãe da menina, de 30 anos, também estava no carro e ficou ferida. A família foi atacada por atiradores que ainda não foram identificados.

Em outubro do ano passado, um adolescente que não teve a idade revelada foi flagrado chorando sobre o corpo do pai executado a tiros de fuzil, em Pedro Juan Caballero, no Paraguai.

De acordo com a Polícia Nacional do Paraguai, a vítima, o paraguaio Virgilio Veras, de 41 anos, estava sentado na frente de casa quando dois homens chegaram em uma caminhoneta e fizeram os disparos usando um fuzil calibre 7.62 e uma pistola calibre 9 mm. Os tiros atingiram a cabeça da vítima.

O filho da Virigilio que segundo uma testemunha que preferiu não se identificar, estava na escola no momento da execução e ao saber que o pai tinha sido morto, correu para o local. Desesperado, o jovem se jogou sobre o corpo do pai. Chorando muito, ele foi amparado por policiais e por familiares.

Adolescente chora sobre corpo de pai, que foi executado com tiros de fuzil e pistola, em Pedro Juan Caballero, Paraguai. — Foto: Léo Veras/Porã News
Adolescente chora sobre corpo de pai, que foi executado com tiros de fuzil e pistola, em Pedro Juan Caballero, Paraguai. — Foto: Léo Veras/Porã News

Conforme o registro policial, antes de ser executado, o homem teria chegado em casa em uma motocicleta e estava na frente da residência com alguns amigos tomando tereré, uma bebida típica da região. Ele morreu antes do socorro chegar.

Adolescentes no crime

Conforme o Conselho Tutelar de Ponta Porã, não são só as crianças vítimas diretas da violência imposta pelos criminosos na região de fronteira dos dois países. Cada vez mais adolescentes se tornam alvos diretos do crime organizado e são recrutados para o tráfico de drogas.

Segundo uma conselheira tutelar, que não será identificada por motivo de segurança, centenas desses jovens, foram apreendidos este ano em Ponta Porã.

“Eles vem de vários estados do Brasil. Eles não conhecem o outro lado da realidade. Geralmente, muito deles tem entre 13 e 14 anos”, explicou.
Ainda de acordo com a profissional, há semana que chegam até o Conselho Tutelar, cerca de sete meninos flagrados com drogas ou a caminho do Paraguai em busca de entorpecentes.
*Por G1 MS

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