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Com bancas lacradas, a pergunta é: o Jogo do Bicho acabou?

Funcionando durante anos em Campo Grande, apesar da ilegalidade, o Jogo do Bicho deixou de operar nesta semana. Na quarta-feira (23), a Polícia Civil deflagrou a Operação Black Cat, que lacrou cerca de 80 bancas de apostas da jogatina em diferentes bairros de cidade e conduziu 22 pessoas para a delegacia, onde prestaram depoimento e assinaram o termo de ocorrência.

Na ação, o Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) acusou a falta de alvarás para determinar o fechamento das banquinhas, quase todas feitas de metal com estrutura semelhante ao de um mini-contêiner. Também foi indicada a ocupação irregular de calçadas, porém, nenhuma destas estruturas foi recolhida por órgãos fiscalizadores municipais, limitando-se apenas ao lacramento por fita.

De acordo com a polícia, houve vazamento de informação e a operação que estava agendada para ser deflagrada nesta quinta-feira (24) acabou tendo que ocorrer às pressas um dia antes, com o efetivo bem abaixo do esperado. Os bicheiros foram orientados pela administração do Jogo do Bicho a fecharem as portas ainda no início desta semana.

Uma das bancas lacradas pela polícia foi a que se encontra em frente a Padaria Toscano, na Avenida Coronel Antonino, e que é apontada como uma das mais movimentadas da cidade. De acordo com conhecidos do proprietário da banquinha, que não teve a identidade revelada, o apontador (pessoa que lavra o jogo no papel para o apostador) tinha um lucro diário de até R$ 300,00.

Apesar da ilegalidade, muitos apostadores não se importavam com o fato e tinha o hábito de fazer suas apostas diariamente, em valores que partiam dos R$ 0,50 até R$ 100,00. De propriedade da Família Name, o esquema da jogatina começou a cair após a Operação Omertà, que prendeu os principais membros do clã, entre eles o empresário Jamil Name, tido como o dono do Jogo do Bicho. O filho, Jamil Name Filho, também foi preso.

Em nota, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), uma das forças policiais envolvidas na coordenação da operação, disse que o dinheiro arrecadado pelo Jogo do Bicho ajudava a financiar crimes diversos, além de manter ativa a milicia armada dos Name, responsável por uma série de assassinatos em MS.

“Considerado contravenção penal pela legislação penal brasileira, o jogo do bicho tornou-se ao longo do tempo grande financiador de organizações criminosas de alta periculosidade pela violência empregada em ações delituosas a fim de garantir a lucratividade do negócio, inclusive no Estado de Mato Grosso do Sul”, cita uma nota do MPMS sobre a operação Black Cat (Gato Preto, na tradução do inglês).

Além das banquinhas de metal, a operação também flagrou pontos de realização de jogo do bicho no interior de estabelecimentos comerciais, o que configura infração de ordem penal e administrativa. De acordo com o MPMS, isso acarreta aos proprietários a responsabilização penal e, até mesmo, a cassação do alvará de funcionamento.

Novas ação serão realizadas pelo Gaeco e a Polícia Civil para interditar os outros locais usados como bancas de apostas. Com relação ao eventual rompimento do lacre. o órgão disse que o ato configura crime previsto no artigo 336 do Código Penal, sujeitando o infrator à pena de detenção de até um ano. Ao todo, são mais de 500 locais de apostas existentes na cidade.

A Omertà investiga uma milícia chefiada por Jamil Name e Jamil Name Filho, que comandou assassinatos na Capital. O grupo também é investigado por tráfico de armas e corrupção ativa e passiva. Os dois estão presos desde 2019 e cumprem a pena na Penitenciária Federal de Mossoró (RN).

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